O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, determinou, no último mês de dezembro, a abertura de inquérito na corte contra o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) e os procuradores que atuaram no acordo de delação do empresário e ex-deputado estadual paranaense Tony Garcia
Por José Higídio
A Polícia Federal deve investigar o envolvimento não só do ex-juiz, mas também de sua mulher, a deputada federal e advogada Rosangela Moro (União-SP); do antigo coordenador da “lava jato”, Deltan Dallagnol; do procurador regional da República Januário Paludo e do ex-procurador Carlos Fernando de Santos Lima, outros ex-membros da força-tarefa curitibana; e do advogado Carlos Zucolotto Júnior, ex-sócio de Rosangela.
O inquérito deve apurar possíveis medidas invasivas da “lava jato”, como a determinação de tarefas ilícitas a Garcia — tais como promoção de escutas e entrega de gravações clandestinas de eventos não relacionados ao seu acordo de delação. Esse caso foi revelado ao público pelo site Brasil 247.
Outros pontos a serem investigados são as possíveis práticas de cooptação de colaboradores pré-selecionados; negociações para homologação de acordos de delação direcionados; e chantagens, coações, ameaças e constrangimentos para manutenção do acordo de Garcia.
Na visão da PF, tais condutas indicam a prática dos crimes de concussão, fraude processual, organização criminosa e lavagem de capitais.
O inquérito foi aberto após representações da PF e da Procuradoria-Geral da República. Elas se basearam em relatos do ex-deputado estadual, que disse ter atuado para Moro e os procuradores como “colaborador infiltrado” no meio político e empresarial.
“Diante da manifestação da PGR, que reproduz também a representação formulada pela PF, mostra-se necessária a instauração de inquérito neste STF para investigação sobre os fatos narrados, nos exatos termos em que pleiteados, na medida em que demonstrada a plausibilidade da investigação de condutas, em tese, tipificadas como crime”, pontuou Toffoli na decisão.
Em junho do último ano, o ministro já havia determinado a suspensão dos processos que envolvem Garcia na Justiça Federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Agente infiltrado
Antigo delator do consórcio de Curitiba, Garcia ganhou o noticiário nacional no último ano por acusar Moro de coagi-lo a atuar como um “agente infiltrado” para perseguir desafetos. Ele também revelou que chegou a gravar o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e outras autoridades a pedido do então juiz.
O depoimento foi feito em sigilo à juíza Gabriela Hardt, antiga substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, em 2021. O caso ficou parado até que foi remetido ao STF pelo juiz Eduardo Appio, em 2023, quando ele era o titular da 13ª Vara — atualmente, o magistrado comanda a 18ª Vara Federal de Curitiba.
Nova oitiva
Após pedido da PGR, a PF ouviu Garcia em setembro do último ano. Ele voltou a dizer que seu acordo de delação premiada, firmado com o Ministério Público Federal, foi um instrumento de chantagem.
Segundo o ex-deputado estadual, Moro e os procuradores de Curitiba buscavam aproveitar a sua “rede de relações sociais” para investigar políticos e empresários de destaque.
De acordo com o relato, o então juiz teria forjado a prática de delitos financeiros no consórcio Garibaldi, do qual Garcia fazia parte.
Com a assinatura do acordo de colaboração premiada, Moro e o MPF estipularam 30 tarefas a Garcia. Apenas duas tinham relação com o consórcio.
Em uma dessas tarefas, Garcia respondeu a um interrogatório no qual quase todas as perguntas foram feitas pelo prório Moro.
As demais tarefas envolviam investigados da “lava jato”. O delator era obrigado a investigar pessoas por meio do uso de escutas ambientais e fornecimento de números de telefones para interceptação.
Segundo ele, a todo momento havia intimidações de que, caso não colaborasse da maneira exigida, o acordo seria rescindido, com a prisão de Garcia e sua família, além de expropriação dos seus bens.
O empresário contou que Moro o orientou a se encontrar “umas sessenta vezes” com uma pessoa chamada Wagner (embora tivesse documentos com nomes diferentes), que se dizia agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Nessas ocasiões, ele entregava números de telefones que seriam interceptados, de pessoas a serem investigadas. O ex-deputado afirmou ter presenciado Wagner filmando um encontro entre investigados.
Garcia também revelou um acordo de delação fraudulento que envolveu a perseguição de desafetos de Moro — como o desembargador Edgard Antônio Lippmann Júnior, do TRF-4, e o procurador Dilton Carlos Eduardo Franga.
Por fim, o empresário mencionou uma missão em que teve de avisar o ex-deputado federal Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, de que ele e a família Odebrecht (da empreiteira) estavam sendo investigados.
Estratégias
A PF acredita que possam existir até hoje diversas situações de chantagens, coações, ameaças e constrangimentos. Os relatos, caso comprovados, “apontam para um desvirtuamento” das decisões tomadas no âmbito da “lava jato”.
A autoridade ainda pretende ouvir Moro, Dallagnol, Rosangela, a juíza Gabriela Hardt e “membros remanescentes do sistema de Justiça criminal paranaense” que fizeram parte da “lava jato” ou atuaram com a força-tarefa.
Outra ideia é ouvir o doleiro Alberto Youssef, outro famoso delator da “lava jato”, que descobriu uma escuta clandestina na cela que ocupou na Superintendência da PF do Paraná em 2014 — quando ele ainda se recusava a colaborar com as investigações.
Outro lado
Em sua defesa, Sergio Moro disse desconhecer a decisão e reafirmou que não houve qualquer irregularidade no processo. O ex-juiz sustenta que o instituto da colaboração premiada não tinha à época dos fatos o mesmo regramento que tem hoje e que nunca obteve gravações de integrantes do Poder Judiciário.
Mandado foi expedido pelo STF; parlamentar é acusado de repassar informações sigilosas da Operação Zargun
Por Marina Verenicz
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3) durante a Operação Unha e Carne. A informação foi divulgada pelo G1.
A investigação aponta que o deputado estadual teria vazado informações sigilosas relacionadas à Operação Zargun, deflagrada em setembro, quando o então deputado TH Joias foi preso.
Segundo a PF, os indícios apontam que Bacellar teve acesso prévio a dados sigilosos da investigação e repassou o conteúdo a terceiros, interferindo no andamento das apurações.
A ação desta quarta-feira cumpre um mandado de prisão preventiva e outros oito mandados de busca e apreensão, além de uma ordem de intimação para medidas cautelares. Todas as determinações foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal.
A PF ainda não detalhou o conteúdo dos materiais apreendidos nem o alcance da suposta interferência do deputado.
Diligência integra inquérito que apura acusações de Tony Garcia contra Sergio Moro
Com Site Migalhas e O Globo
Nesta quarta-feira, 3, ministro Dias Toffoli determinou que a PF realize nova operação de busca e apreensão na 13ª vara Federal de Curitiba/PR, juízo que concentrou os processos da Lava Jato.
Segundo o jornal O Globo, agentes recolhem documentos e materiais relacionados à investigação em curso.
A diligência integra o procedimento instaurado no STF para apurar acusações formuladas pelo ex-deputado estadual Tony Garcia.
Ele afirma ter sido orientado, durante investigações relacionadas ao caso Banestado, em dezembro de 2004, a realizar gravações de terceiros sem autorização judicial, como parte de acordo de colaboração premiada firmado à época.
Segundo ele, os registros teriam abrangido autoridades com prerrogativa de foro, incluindo um governador e ministros de Tribunais Superiores.
Moro nega as acusações.
Em 2023, Migalhas, em entrevista exclusiva, conversou com Tony Garcia. Veja a série de vídeos publicados, clicando aqui.
A autorização dada por Toffoli não foi o primeiro movimento do Supremo para acessar documentos mantidos na 13ª vara Federal de Curitiba.
Em outubro, o ministro havia determinado que a PF realizasse busca e apreensão no local, como parte das investigações sobre as declarações de Tony Garcia.
Na decisão, Toffoli considerou que documentos e mídias supostamente mantidos sob guarda da vara Federal poderiam ser relevantes para a apuração dos fatos narrados e autorizou a obtenção de acesso aos materiais.
À época, agentes recolheram documentos e mídias que poderiam auxiliar na elucidação dos fatos.
CNJ
A unidade judicial também foi alvo de apuração administrativa do CNJ.
Em 2024, o plenário do CNJ aprovou relatório que apontou indícios de peculato, corrupção e prevaricação envolvendo magistrados e procuradores que atuaram em processos ligados à Lava Jato.
O documento ainda registrou suspeitas de desvio de recursos públicos e atuação conjunta entre juízes e membros do MP que teria resultado na prática de atos considerados atípicos.
O relatório, elaborado pelo então corregedor nacional de Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, foi encaminhado à PGR e ao próprio STF, servindo de base para aprofundamento das investigações sobre condutas adotadas no período em que a vara esteve à frente da operação.
https://www.migalhas.com.br/quentes/445628/toffoli-ordena-busca-na-13-vara-de-curitiba-ligada-a-lava-jato
Por Edivaldo Rodrigues
Na política, vez ou outra, surgem personagens que vestem a pele de cordeiro, mas caminham com passos de lobo. Não é novidade. A história está repleta de líderes que, sob o discurso da fé, da lealdade ou da moralidade, revelam-se estrategistas frios e, quando necessário, traiçoeiros. Na trilha dos “falsos profetas” da vida pública, quem observa a cena palaciana de Palmas identifica sem esforço o vice-prefeito Carlos Eduardo Velozo, que parece se encaixar perfeitamente nesse vagão da gestão Eduardo Siqueira Campos.
ORAÇÃO DE FIDELIDADE… PARA QUÊ MESMO?
O primeiro capítulo dessa novela política se escreveu no dia em que o então prefeito Eduardo Siqueira foi conduzido ao Comando-Geral da PM, acusado de obstrução de justiça denúncia que, até hoje, carece das provas anunciadas com tanto alarde.

O prefeito Eduardo Siqueira Campos e o vice Carlos Velozo
Ali, diante do “irmão” em apuros, o vice-prefeito Carlos Velozo, pastor, líder religioso, homem público, entoou uma oração que ficou registrada na memória dos presentes: “Ó Senhor, faz justiça com nosso irmão prefeito Eduardo Siqueira. A quem prometo ser fiel. Não sentarei na sua cadeira, Senhor. Despacharei do meu gabinete. Não demitirei nenhum de seus secretários. Senhor, nos dê luz para continuarmos unidos e fiéis um ao outro…”
Foi bonito. Foi dramático.
Mas durou pouco.
No dia seguinte, já no exercício do cargo e sentado exatamente na cadeira que prometera não ocupar, Carlos Eduardo promoveu uma verdadeira devassa administrativa. Demitiu secretários ligados a Eduardo Siqueira, trouxe parentes de Goiás, nomeou aliados de sua igreja e começou a agir como se estivesse autorizado a governar Palmas pelos próximos anos. Para quem acompanhou, ficou claro que a oração foi apenas prólogo de um roteiro político muito mais ambicioso.
O RETORNO DE EDUARDO E O GELO NO PROJETO DO VICE

Quando a Justiça determinou o retorno de Eduardo Siqueira ao cargo, o castelo de expectativas do vice-prefeito desmoronou. A reaproximação com o poder foi curta, e o pupilo do Pastor Amarildo, figura influente nos bastidores, saiu discretamente de cena. Os planos ficaram no ar, à espera de nova oportunidade.
A REENTRADA EM CENA E AS PROFECIAS POLÍTICAS

Pastor Amarildo Martins e Carlos Velozo
Agora, Carlos Velozo reaparece com movimentos bem calculados. Fez uma visita surpresa à Câmara Municipal, conversou com vereadores e, com a segurança de quem afirma saber mais do que diz, deixou escapar uma frase que circulou como pólvora: “Eduardo Siqueira não chega a Natal no cargo. As coisas em Brasília estão andando.”
A fala intrigou, acendeu alarmes e alimentou suspeitas de que o vice-prefeito tenta, mais uma vez, criar um clima propício à sua ascensão.
Para além das visitas, Carlos Velozo passou a atender pessoas em um escritório próprio, recebendo lideranças, aliados e curiosos. Entre vários visitantes que conversaram com nossa reportagem, muitos nos confidenciaram que o vice-prefeito afirma, sem rodeios, acreditar realmente que o prefeito Eduardo Siqueira não emplacará o Natal no cargo.
Segundo eles, Carlos Eduardo não fala como quem apenas comenta o cenário político, fala como quem espera, aposta ou articula. Essa postura reforçou ainda mais a percepção de que o vice trabalha nos bastidores para fragilizar o titular e construir, peça a peça, um ambiente favorável à sua própria volta ao centro do poder.
A TENTATIVA DE CRIAR INSTABILIDADE

Felipe Martins, Carlos Velozo, Amarildo Martins e familiares
Para vereadores que ouviram suas declarações, o movimento soa mais como estratégia de enfraquecimento político do prefeito do que como informação concreta de Brasília. A narrativa de “queda iminente” cria dúvidas, balança apoios e afeta diretamente a governabilidade. Em política, plantar a sensação de que o líder está por cair é, muitas vezes, o primeiro passo para empurrá-lo de fato.
Carlos Velozo se vale do discurso religioso para construir imagem de seriedade e honestidade, mas seus gestos recentes desenham um personagem mais complexo e muito mais político do que devocional. A lealdade pregada na oração contrasta com atos que apontam para um projeto pessoal, que tenta se alimentar das fragilidades do governo para florescer.
E o eleitor palmense, atento, terá de decidir se enxerga no vice-prefeito um líder movido pela fé… ou apenas mais um “Judas político”, que reza com uma mão e carrega o punhal oportunista com a outra...
Da Redação
A divulgação do relatório Desafios de Inteligência 2026 pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) trouxe à tona preocupações que vão muito além dos gabinetes de Brasília. O documento, apresentado nesta terça-feira (2.dez.2025), aponta riscos que podem afetar diretamente a vida da população, desde a segurança das eleições até o preço dos alimentos e a estabilidade dos serviços públicos.
Eleições sob ameaça

O relatório afirma que o pleito de 2026 estará exposto a “ameaças complexas e multifacetadas”. Entre elas, a tentativa de deslegitimar as instituições democráticas por meio de desinformação e manipulação de massas, como ocorreu nos atos de 8 de janeiro de 2023. Para o cidadão comum, isso significa que o voto pode ser alvo de campanhas coordenadas para gerar desconfiança, aumentando a polarização e a insegurança sobre o resultado das urnas.
Ciberataques e inteligência artificial

A Abin alerta para o avanço da inteligência artificial como ferramenta de ataque. Sistemas autônomos poderiam planejar e executar invasões digitais contra órgãos públicos e empresas privadas. Na prática, isso pode atingir diretamente o cotidiano: interrupções em serviços bancários, falhas em sistemas de saúde e até apagões em redes de energia. O relatório defende a transição para algoritmos pós-quânticos nacionais, sob pena de o Brasil ficar vulnerável a ataques que tornem obsoletas as atuais formas de criptografia.
Pressão geopolítica e economia
O documento descreve um cenário internacional de “multipolaridade desequilibrada”, marcado pela disputa entre Estados Unidos e China. Essa tensão já se reflete no Brasil: dependência da China para exportação de commodities e dos EUA para investimentos tecnológicos. Para o consumidor, isso pode significar aumento de preços em produtos importados, escassez de insumos industriais e maior vulnerabilidade da economia nacional às crises externas.
Cadeias de suprimento e alimentos
A Abin chama atenção para a “desglobalização deliberada”, com tarifas agressivas e reconfiguração das cadeias globais. O impacto direto é sentido no supermercado: encarecimento de alimentos, medicamentos e produtos eletrônicos. A dependência de insumos estrangeiros torna o Brasil mais exposto a oscilações internacionais.
Clima e desastres naturais
O relatório também aponta o aquecimento global como risco imediato. Eventos extremos como secas e enchentes já provocam perdas anuais de R$ 13 bilhões na agricultura e R$ 1,1 bilhão no setor energético. Para a população, isso significa aumento no preço da energia elétrica, risco de desabastecimento de água e encarecimento de alimentos básicos.
Demografia e migrações

A Abin alerta para o envelhecimento da população e a saída de profissionais qualificados do país. Ao mesmo tempo, prevê aumento da entrada de imigrantes, o que pode pressionar serviços públicos como saúde e educação. Esse cenário exige políticas de integração e planejamento para evitar sobrecarga nos sistemas já fragilizados.
O relatório da Abin não é apenas um diagnóstico técnico. Ele mostra que os riscos de 2026 têm impacto direto no dia a dia dos brasileiros — do voto à conta de luz, do preço do arroz à segurança digital. A mensagem é clara: sem preparação, o país pode enfrentar um ano marcado por instabilidade política, econômica e social.