O clima esquentou antes mesmo de agosto chegar. No Tocantins, a sucessão estadual de 2026 pode ainda parecer distante no calendário, mas na prática, os movimentos políticos estão em pleno andamento. Os gestos, as viagens conjuntas, os discursos cuidadosamente elaborados ou calculadamente silenciosos revelam muito mais do que as palavras ditas nos palanques. E nos bastidores, é evidente que o jogo está sendo jogado com peças já posicionadas no tabuleiro
Por Edson Rodrigues
Nos últimos cinco meses, o governador Wanderlei Barbosa, o senador e vice-presidente do Senado Eduardo Gomes e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Amélio Cayres, vêm consolidando uma convivência política que se traduz em agendas conjuntas, articulações de bastidor e, principalmente, confiança mútua. Não são poucos os prefeitos, deputados federais e estaduais que apostam no nome de Amélio como herdeiro natural do projeto político de Wanderlei. O presidente da Assembleia circula nos corredores como um dos pré-candidatos ao governo e possui o respaldo de mais de 20 parlamentares estaduais.
Deputado Amélio Cayres , governador Wanferlei e Senador Eduardo Gomes
Se ainda não houve um anúncio oficial, a razão é simples: Wanderlei Barbosa sabe jogar. Com altíssima aprovação popular, mais de 85%, segundo fontes próximas ao Palácio Araguaia o governador sabe que o momento da escolha e da declaração formal sobre a sua sucessão deve ser estrategicamente calculado. Não quer nem precisa antecipar esse passo. Por ora, concentra sua energia em um segundo semestre de entregas com obras em andamento, investimentos robustos na agricultura familiar, infraestrutura, saúde, educação e programas sociais. Enquanto isso, circula pelo estado ao lado de sua esposa, a primeira-dama Karinne Sotero, do senador Eduardo Gomes, de Amélio Cayres e de aliados nas duas Casas legislativas. E assim constrói, tijolo por tijolo, o caminho até 2026.
O desconforto de Dorinha
Senadora Dorinha fala durante evento do deputado Jair Farias
Mas nem tudo são flores na base governista. A senadora Professora Dorinha, tida até pouco tempo como possível candidata ao governo com o apoio de Eduardo Gomes, surpreendeu ao fazer um gesto público que soou quase como uma ruptura simbólica. Durante a festa de aniversário do deputado estadual Jair Farias, Dorinha subiu ao palco e declarou apoio ao deputado federal Carlos Gaguim para o Senado em 2026. A presença de Eduardo Gomes no evento, e sua omissão no discurso da senadora, não passou despercebida.
Vale lembrar que o próprio Eduardo Gomes, por diversas vezes, referiu-se a Dorinha como sua candidata ao governo. A expectativa era de reciprocidade. Mas ela não veio. O gesto silencioso diz mais do que mil palavras. Ou Dorinha está impondo condições para manter o apoio do senador, ou está, de fato, abrindo mão dessa aliança. Seja como for, a ambiguidade pode custar caro.
Senadora Dorinha e Carlos Gaguim em festa de quadrilha na Capital
Na eleição de 2022, Dorinha foi praticamente ungida ao Senado. Teve o apoio direto do governador Wanderlei Barbosa e enfrentou adversários que carregavam grande rejeição. O resultado foi uma votação histórica, com mais de 400 mil votos. Mas agora, em 2026, o jogo é outro. Ela parte como pré-candidata ao Palácio Araguaia, e para isso precisa unir forças, não afastá-las.
O que vimos na festa de Jair Farias foi um possível realinhamento de forças. Eduardo Gomes, cada vez mais próximo de Wanderlei e Amélio, parece caminhar em outra direção. E Gaguim, ao aceitar publicamente o apoio de Dorinha, pode estar selando o fim de sua antiga parceria com o senador. Foi um movimento arriscado, e talvez precipitado.
O Tocantins vive um momento raro de estabilidade política e alinhamento institucional. Governo, Assembleia Legislativa e boa parte da bancada federal caminham em sintonia. Wanderlei, com seu estilo simples, pé no chão e olhar atento, parece querer manter essa coesão até onde for possível. Mas a política é dinâmica, feita de gestos, silêncios, rupturas e reconciliações.
Agosto está chegando. Certamente é quando muita coisa começará a ser decidida no Tocantins. Por enquanto, Wanderlei segue no comando. Eduardo Gomes consolida sua pré-candidatura à reeleição ao Senado. Amélio Cayres amplia sua musculatura como possível sucessor do governador. E Dorinha, que parecia ter tudo nas mãos, precisa recalcular a rota para não ficar isolada.
O xadrez está montado. E as peças já estão se movendo.
Integrantes da cúpula da PGR preveem que julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF será concluído até outubro de 2025
Por Felicciano/Metrópoles
Membros da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) preveem que o julgamento final de Jair Bolsonaro no inquérito do golpe deve ser concluído até meados de setembro.
Essa previsão leva em conta um julgamento sem pedido de vistas de nenhum dos cinco ministros que compõe a Primeira Turma do Supremo, onde o caso vem sendo analisado.
Caso haja algum pedido de vistas durante a fase final do julgamento, a previsão de integrantes da PGR é de que a análise do caso só será retomada entre o meio e o fim de outubro.
Nesse cenário, a possível prisão de Bolsonaro, caso o ex-presidente seja mesmo condenado no inquérito do golpe, ocorreria entre o final de outubro e o início de novembro de 2025.
Desde a sexta-feira (18/7), vale lembrar, o ministro do STF Alexandre de Moraes impôs a Bolsonaro uma série de medidas restritivas. Entre elas, o uso de tornozeleira eletrônica.
Caso descumpra alguma dessas medidas, o ex-presidente poderá ter sua prisão preventiva decretada antes mesmo de ser condenado pela Primeira Turma do Supremo.
Ex-presidente, alvo de busca e apreensão nesta sexta, teria condicionado em entrevista o fim da taxação imposta por Donald Trump ao Brasil à sua própria anistia
Com SBT
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na decisão em que determinou medidas cautelares e busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ele confessou uma tentativa de extorsão contra a Justiça brasileira ao condicionar o fim da taxação imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil à sua própria anistia.
Para o magistrado, o ex-mandatário está atuando em conjunto com seu filho, Eduardo Bolsonaro, em atentados à soberania nacional, com objetivo de desestabilizar a economia do país e de interferir em processos judiciais, pressionando o STF por meio das sanções de autoridades públicas brasileiras.
As condutas de Jair e Eduardo Bolsonaro configuram, segundo Moraes, "claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões" da prática de crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação e atentado à soberania.
"As ações de JAIR MESSIAS BOLSONARO demonstram que o réu está atuando dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho, EDUARDO NANTES BOLSONARO, com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado estrangeiro, por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara finalidade de coagir essa CORTE no julgamento da AP 2.668/DF", disse Moraes na decisão.
O ministro destacou ainda a "ousadia criminosa" de pai e filho, com postagens em redes sociais e declarações que atentam contra a soberania nacional e a independência do Poder Judiciário. Além das publicações e entrevistas, a decisão se baseia no repasse de R$ 2 milhões que o ex-presidente fez a Eduardo, "quando ele já se encontrava no exterior, em plena ação das atividades ilícitas".
Na decisão, o magistrado afirma que as ações de Jair e Eduardo se intensificaram após a Procuradoria-Geral da República (PGR) entregar, na segunda-feira (14), as alegações finais e pedir a condenação do ex-presidente e de integrantes do "núcleo crucial" por envolvimento em uma trama golpista após as eleições de 2022.
Para o ministro, não há "qualquer dúvida sobre a materialidade e autoria dos delitos praticados" pelo ex-presidente. "[Bolsonaro] pretende, tanto por declarações e publicações, quanto por meio de induzimento, instigação e auxílio - inclusive financeiro - a EDUARDO NANTES BOLSONARO, o espúrio término da análise de sua responsabilidade penal, seja por meio de uma inexistente possibilidade de arquivamento sumário, seja pela aprovação de uma inconstitucional anistia", afirmou Moraes.
O magistrado ainda fez uma defesa da soberania nacional, reforçando que ela é um dos fundamentos da república brasileira e "não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida".
"O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL sempre será absolutamente inflexível na defesa da Soberania Nacional e em seu compromisso com a Democracia, os Direitos Fundamentais, o Estado de Direito, a independência do Poder Judiciário Nacional e os princípios constitucionais brasileiros", escreveu ele.
A decisão de Moraes será julgada a partir de 12h desta sexta-feira, no plenário virtual da Primeira Turma do STF. Os ministros Cristiano Zanin (presidente), Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino têm até as 23h59 de segunda-feira (21) para se manifestarem e decidir pela manutenção ou não das medidas.
Alvo da PF
O ex-presidente foi alvo de mandado de busca e apreensão durante operação da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (18). Bolsonaro foi escoltado por agentes para a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) do Distrito Federal, onde uma tornozeleira eletrônica foi colocada nele.
Além do uso da tornozeleira eletrônica, Moraes determinou outras medidas cautelares que devem ser cumpridas pelo ex-mandatário. São elas:
recolhimento domiciliar de 19h às 6h durante a semana e integral em fins de semana e feriados;
proibição de se comunicar com embaixadores e autoridades estrangeiras;
respeitar a distância de 200 metros de embaixadas e consulados;
proibição de falar com outros réus e investigados nas ações penais sobre tentativa de golpe de Estado;
proibição de se comunicar com o filho Eduardo Bolsonaro;
proibição de se ausentar da comarca sem autorização judicial;
o acesso a redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros, também está proibido.
As buscas foram realizadas tanto na casa do ex-presidente quanto na sede do Partido Liberal (PL) em Brasília. Na residência de Bolsonaro, a PF apreendeu US$ 14 mil e R$ 8 mil. O celular do ex-mandatário também foi apreendido pelos agentes, segundo fontes da corporação ouvidas pelo SBT.
Risco de fuga
A decisão do ministro Alexandre de Moraes se deu após representação da PF, que teve parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. Ao Supremo, a PGR ressaltou a necessidade de imposição de medidas cautelares ao ex-presidente para "assegurar a aplicação da lei penal e evitar a fuga do réu".
"Os fatos recentemente identificados, indicativos da concreta possibilidade de fuga do réu e a manutenção de ações para obstruir o curso da ação penal, recomendam a imediata imposição das medidas cautelares de monitoração eletrônica (art. 319, IX, do Código de Processo Penal), proibição de acesso a sedes das embaixadas de países estrangeiros (art. 319, II, do Código de Processo Penal) e proibição de manter contatos com embaixadores (art. 319, III, do Código de Processo Penal)", diz trecho da manifestação da PGR.
Ex-presidente terá de usar tornozeleira eletrônica e não poderá acessar redes sociais; mandados foram cumpridos na casa dele e na sede do PL
Por Hariane Bittencourt e Kenzô Machida
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de mandado de busca e apreensão na manhã desta sexta-feira (18), em Brasília, durante operação da Polícia Federal (PF). Duas ordens judiciais foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e cumpridas tanto na casa do ex-mandatário quanto na sede do Partido Liberal (PL). A Corte também determinou medidas cautelares diversas da prisão, como tornozeleira eletrônica, conforme fontes da PF ouvidas pelo SBT News.
Ainda segundo apuração da reportagem, Bolsonaro foi escoltado para a PF por policiais para colocação do dispositivo na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF). Medidas do Supremo envolvem, além de tornozeleira, recolhimento domiciliar de 19h às 7h e integral em fins de semana. Informações também foram confirmadas ao SBT News pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da sigla na Câmara.
Ordens da Corte ainda determinam proibição de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, sem poder se aproximar de embaixadas, e com outros réus e investigados. Acesso a redes sociais está vetado. Agentes apreenderam US$ 14 mil (cerca de R$ 77,8 mil) e R$ 8 mil em espécie durante buscas realizadas na casa do ex-presidente.
A ação da PF teve parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de coação, obstrução de justiça e ataque à soberania no processo em que Bolsonaro é investigado.
Leia nota da defesa de Bolsonaro sobre operação da PF:
"A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu com surpresa e indignação a imposição de medidas cautelares severas contra ele, que até o presente momento sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário.
A defesa irá se manifestar oportunamente, após conhecer a decisão judicial."
Leia nota do PL, partido do ex-presidente:
"O Partido Liberal manifesta estranheza e repúdio diante da ação da Polícia Federal realizada nesta sexta-feira (18), que incluiu mandados de busca na residência do presidente Jair Bolsonaro e na sala que ocupa na sede nacional do partido.
Se o presidente Bolsonaro sempre esteve à disposição das autoridades, o que justifica uma atitude dessa?
O PL considera a medida determinada pelo Supremo Tribunal Federal desproporcional, sobretudo pela ausência de qualquer resistência ou negativa por parte do presidente Bolsonaro em colaborar com todos os órgãos de investigação.
Reafirmamos nossa confiança no presidente Jair Bolsonaro, seu compromisso com o Estado Democrático de Direito e com a verdade.
Valdemar Costa Neto
Presidente Nacional do Partido Liberal"
Réu por tentativa de golpe
Bolsonaro, ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas são réus no Supremo por tentativa de golpe de Estado. Na segunda (14), a PGR pediu condenação do ex-presidente e de integrantes do "núcleo crucial" por envolvimento na trama golpista.
O ex-mandatário é apontado pela PGR como "principal articulador, maior beneficiário e autor dos mais graves atos" na tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Ministro diz ter tomado decisão após advogado de Filipe Martins insinuar que governador de SP esteve presente em encontro no Alvorada; Tarcísio nega
Por Marina Verenicz
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que vai oficiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), após o nome do ex-ministro ter sido citado durante depoimentos no inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado articulada por aliados de Jair Bolsonaro (PL) para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
A decisão foi anunciada na quarta-feira (16), após o advogado Jeffrey Chiquini, defensor de Filipe Martins — ex-assessor especial de Bolsonaro —, questionar o tenente-coronel Mauro Cid sobre uma suposta participação de Tarcísio em reunião realizada no Palácio da Alvorada, na qual teria sido discutida uma minuta de intervenção.
Diante da insinuação, Moraes advertiu o advogado: “O governador de São Paulo não é investigado neste processo. O senhor quer que eu informe mais alguma autoridade sobre suas acusações?”, disse. Segundo o ministro, a menção feita por Chiquini seria levada formalmente ao conhecimento de Tarcísio.
A situação voltou à tona durante o depoimento do general da reserva Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também ouvido nesta semana. Chiquini insistiu em perguntas sobre registros de imagens dos atos de 8 de Janeiro, sendo novamente interrompido por Moraes, que considerou a linha de questionamento uma tentativa de desviar o foco do processo.
“Seletividade da PGR”
Após a repercussão, Chiquini usou as redes sociais para afirmar que nunca acusou formalmente o governador. Segundo ele, a menção ao nome de Tarcísio se limitou à exibição de uma planilha com registros de entrada no Alvorada em data e horário próximos à suposta reunião. O material havia sido anexado ao inquérito pela Polícia Federal.
“A defesa está demonstrando que essa planilha não significa e não prova nada”, disse o advogado. Ele também acusou a Procuradoria-Geral da República de conduzir uma investigação seletiva, em suas palavras, “num vale-tudo persecutório que envergonha o Estado de Direito”.