Com o cofre abarrotado de recursos dos empréstimos, do Pré-Sal das emendas parlamentares e outros financiamentos em curso, o Palácio Araguaia será o grande “cabo eleitoral” em 2020
Por Edson Rodrigues
MUDANÇA DE RUMO?
Ruídos de autoria desconhecida, vindos do Palácio Araguaia, dão conta de que o Palácio Araguaia pode estar avaliando um novo posicionamento sobre ter ou não ter um “candidato chapa branca” na sucessão municipal da Capital, no caso, o vice-governador Wanderlei Barbosa.
Vice governador Wanderlei Barbosa e a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro campeões em rejeição
O problema é que pesquisas em poder dos palacianos não são nada animadoras, apontando que tanto Wanderlei quanto a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, são os campeões em rejeição, com o agravante de, entre os eleitores que ainda não sabem em quem vão votar, os dois também lideram no quesito “não votaria de jeito nenhum”. Ou seja, são dois índices apontando a fragilidade das duas candidaturas.
Mas, por enquanto, a ordem é esperar até 2020 para tomar uma decisão final.
MDB EM PARAFUSO
A prisão do atual maior líder político do Tocantins e presidente estadual do MDB, Marcelo Miranda, sob sérias acusações de formação de quadrilha, corrupção, lavagem de dinheiro, tortura e assassinato, feitas por um delator, colocou em xeque toda a organização que o partido estava realizando visando as eleições de 2020.
Com dois pedidos de habeas corpus negados pelas Cortes Superiores, a ausência de Marcelo deixou o partido “manco”, sob o comando interino do vice-presidente estadual, deputado Nilton Franco (foto) o que, por sua vez, deixou o ex-presidente da legenda, Derval de Paiva, alijado do processo organizacional que o partido vinha desenvolvendo.
Vale lembrar que foi Derval de Paiva quem comandou o “renascimento” do partido, conseguindo a eleição de três deputados estaduais e um federal em um momento delicado, nas últimas eleições, além de conseguir trazer a “jóia da coroa”, o senador Eduardo Gomes, o mais votado do Estado, eleito pelo partido Solidariedade, e que se filiou ao MDB logo após sua eleição.
Segundo fontes, o Fundo Partidário do MDB no Tocantins será entre 12 e 17 milhões de reais e já estaria com seus percentuais pré-divididos entre as candidaturas municipais dos aliados do grupo dominante, com vistas às suas reeleições em 2022. Com a troca forçada do comando, tudo pode mudar, deixando muita gente de mãos abanando.
GOVERNO MAURO CARLESSE
Com o Estado devidamente enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal, liberado pelo Tribunal de Contas da União para contrair empréstimos junto à Caixa Econômica para investir nos 139 municípios, para a construção da nova ponte sobre o Rio Tocantins em Porto Nacional, mais os recursos do Pré-Sal – na casa dos 200 milhões de reais –, outros recursos oriundos de financiamentos internacionais e a arrecadação estadual batendo recordes todos os meses, o governador Mauro Carlesse conta com o apoio político da maioria dos membros das bancadas na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, o governador Mauro Carlesse tem tudo para recuperar sua imagem, que sofreu alguns desgastes nos últimos meses.
Com essa situação, Carlesse passa a ser o principal “cabo eleitoral” nas eleições municipais de outubro de 2020, com poder de ser decisivo nas principais cidades do Tocantins.
NOVOS PARTIDOS
A procura por novos partidos para assegurar uma boa posição no “grid de largada” é a “bola da vez” para pré-candidatos, principalmente para o vice-governador, Wanderlei Barbosa, para a atual prefeita, Cinthia Ribeiro e para o empresário Gil Barison. (Foto)
Os três vêm mantendo agendas frenéticas de conversações, encontros e articulações, juntando argumentos e informações para, na hora certa, fazer a opção que parecer a mais correta. Tudo indica que isso aconteça apenas em 2020, depois do Carnaval, a não ser que alguma decisão já tenha sito tomada.
KÁTIA, CARLESSE E DIMAS
A senadora Kátia Abreu, o governador, Mauro Carlesse e o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, são três das maiores lideranças políticas tocantinenses que podem, também, optar por novas legendas já no início do ano de 2020.
PALMAS
De todas as sucessões municipais da história do Tocantins, a que se avizinha no próximo ano pode ser a mais disputada e a mais surpreendente de todas. Isso porque são tantas reuniões, articulações, propostas, puxadas de tapete, promessas e previsões, que nem os mais articulados dos analistas políticos conseguem prever quais serão os candidatos, muito menos o resultado que sairá das urnas.
Ainda serão levadas em consideração pelos eleitores os milhares de demissões feitas pelo governo Estadual para se enquadrar na Lei de Responsabilidade Fiscal, que deixou muitas famílias em má situação. O enxugamento feito na Prefeitura para desaninhar os aliados de Carlos Amastha e as demissões na Câmara Municipal. Essas ações, juntgas, deixaram milhares de cidadãos inadimplentes no comércio da Capital, o que provoca um “efeito cascata de rejeição” e deixando a Capital sem perspectivas de melhoras em curto prazo.
Todos esses “cidadãos eleitores” estão ávidos por se encontrar com esses políticos que os relegaram a uma vida de dificuldade econômica que atingiu o bem maior de cada um deles, que são suas famílias. E esse encontro está marcado para o início de outubro de 2020, na cabine eleitoral, lembrando o ditado que diz que “quem bate, esquece. Quem apanha, não”.
TABU
Caso o governador Mauro Carlesse decida por ter um “candidato chapa branca” nas eleições de 2020 em Palmas, terá que quebrar um tabu histórico, pois nenhum dos seus antecessores conseguiu eleger o prefeito de Palmas.
E esse tabu pode ser decisivo, uma vez que a Capital é o único pólo eleitoral do Estado com capacidade de influenciar positiva ou negativamente, politicamente falando, os demais municípios do Estado, pois os principais veículos de comunicação, formadores de opinião, estão sediados em Palmas, além das empresas de publicidade que trabalham com redes sociais.
O certo é que obras não ganham eleição. Se ganhassem, Nilmar Ruiz e Raul Filho seriam eternos prefeitos de Palmas...
COMIDA REQUENTADA
Para muitos juristas renomados, a prisão do ex-governador Marcelo Miranda cheira à “comida requentada”. Muitos até a consideram “uma aberração” e “abuso de poder” por parte da Justiça, uma vez que o embasamento da ordem de prisão refere-se a um processo já encerrado, e a denúncia, feita pela Justiça do Pará, isenta tanto Marcelo Miranda quanto seu pai, Dr. Brito Miranda e seu irmão, Brito Jr.
Para os juristas, o fato de instâncias superiores terem negado os dois pedidos de habeas corpus está mais ligado ás acusações de tortura e assassinato, feitas por um delator que não emana nenhuma credibilidade, pois não apresentou provas concretas do que disse.
Outros juristas apostam que Marcelo pode impetrar uma ação contra a Justiça federal, por perdas e danos morais e ainda ressaltam que as acusações do delator sobre tortura e assassinato, referem-se a fatos ocorridos há cinco anos, tendo o inquérito, acompanhado pelo Ministério Público do Estado do Pará, sido concluído pela Justiça paraense.
“comida requentada”, como se diz no jargão jurídico.
Como sempre dizemos, só o tempo para dar razão a um dos lados do caso.
Istoé destaca o 'reinado' da noiva de Lula no comando do PT; Veja fala sobre Irmã Dulce e Istoé destaca os “pastores de fuzil”
Da Redação
Istoé
A nova manda chuva do PT
Chegou a “dona do pedaço”. É o que sussurram os petistas quando a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, noiva de Lula, irrompe entre as centenas de pessoas que se acotovelam na porta da Polícia Federal de Curitiba, no distante e frio bairro de Santa Cândida. Lá, evidentemente, ela dispõe de passe-livre. No PT, Janja está mais do que à vontade. Ela é a nova mandachuva do partido. Com o aval do ex-presidente petista, com quem deve se casar em breve, a socióloga distribui ordens, enquadra dirigentes partidários, dá orientações a Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann, presidente da legenda, e até faz as vezes de tesoureira informal, ao se ocupar de questões de natureza financeira. Empoderada, Janja, nos últimos dias, avocou para si uma nova missão: a de preparar o PT para o pós-Lula Livre — o que ela e todos os petistas acalentam.
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Veja
A multiplicação dos Santos
“Beatíssimo Pai, a Santa Mãe Igreja pede a Vossa Santidade que inscreva a beata Dulce Pontes no Catálogo dos Santos e como tal seja venerada por todos os fiéis cristãos.” Com essa frase, dita em latim, o cardeal italiano Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, inaugurou, no Vaticano, às 10h15 (hora de Roma) deste domingo 13, um momento histórico para o catolicismo brasileiro. Em seguida, o papa Francisco deu rápida anuência, oficializando a canonização da baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes (1914-1992), a irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil.
Uma relíquia será levada ao altar — fragmentos do osso da costela da freira, cuidadosamente guardados num tubo transparente, colado numa pedra ametista em formato de coração.
A missa, então, celebrará o nascimento de Santa Dulce dos Pobres, o epíteto pelo qual será conhecida. A consagração do “anjo bom da Bahia” terá sido a terceira mais rápida da história, apenas 27 anos depois de sua morte — perde para a santificação de Madre Tereza de Calcutá (dezenove anos após o falecimento da religiosa albanesa) e de João Paulo II (nove anos). A título de comparação, o processo do jesuíta espanhol José de Anchieta, o “apóstolo do Brasil”, vagou mais de 400 anos pelas gavetas da burocracia romana.
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Época
Entre bíblias e fuzis
Aos 23 anos, Wendel Rodrigues Oliveira é um homem de fé. Em 27 de junho, postou no Instagram uma foto da Bíblia em seu colo, com a legenda: “Indo à casa do pai agradecer por cada dia de vida e pela paz que ele vem concedendo à comunidade do Parque ( Paulista ) e pelo seu povo”. No mês passado, publicou por seis dias, bem cedo pela manhã, a frase “Bom dia com Jesus, povão”, com duas mãos espalmadas em oração. Mas ele é também um homem do crime, e o relógio de ouro na foto com o livro sagrado é só um indicativo de seu poder. Na comunidade que cita em suas preces, o Parque Paulista, um bairro em que moram mais de 30 mil pessoas de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, o jovem é conhecido como Noventinha e comanda o tráfico de drogas. Foragido da polícia, tem mandados de prisão em seu nome por isso e por assassinato.
Em meio às postagens de louvor a Deus, há ameaças aos rivais. “Nunca duvide do poder de Deus. Se Ele transformou
água em vinho, pode transformar sua vida em bênçãos e vitórias”, publicou o evangélico em 4 de setembro. Em duas oportunidades, compartilhou vídeos de clipes de cantoras gospel. No dia seguinte, o tom era outro: “Alemão nunca mais coloca o pé aqui e se tentar colocar é bala neles firme.
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Raoni Metuktire rodou o mundo em prol das causas indígena e ambiental décadas antes da popularização das conferências sobre o meio ambiente e das marchas pelo clima
Por João Fellet
A concessão do último Prêmio Nobel da Paz ao primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, frustou quem esperava a vitória do cacique kayapó Raoni Metuktire — torcida impulsionada pelo embate que o líder indígena brasileiro travou nas últimas semanas com o presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista à BBC News Brasil, Raoni diz que não ficou abalado com o resultado da premiação e nem com as críticas de Bolsonaro. "A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia", disse o presidente na Assembleia Geral da ONU, em setembro.
"Bolsonaro pode falar mal de mim ou não, vou continuar lutando para que haja floresta e para que haja natureza para a geração por vir", rebateu o líder kayapó.
'Ofensivo', 'racista' e 'paranoico': a visão de líderes indígenas sobre discurso de Bolsonaro na ONU
O cacique falou à BBC News Brasil na sexta-feira (11/10) de Peixoto de Azevedo (MT), cidade mais próxima à sua aldeia, na Terra Indígena Capoto/Jarina. Ele respondeu as perguntas em seu idioma, o kayapó, e um assessor lhe serviu de intérprete.
Embora a conversa fosse por telefone, o cacique parecia discursar a uma multidão: falava alto e se valia de técnicas da oratória kayapó, como pausas e mudanças bruscas no tom da voz. Na entrevista, criticou índios que têm se aproximado do presidente, tratou de comunidades nativas favoráveis ao garimpo e disse que sua relação com o governo federal começou a se deteriorar nos anos Lula e Dilma, com a construção da hidrelétrica de Belo Monte.
Manchas de petróleo derramado na praia de Lagoa do Pau, no município de Coruripe, em Alagoas. As manchas já poluíram cerca de 138 áreas de litorais no estado do nordeste
Com Folhapress
O óleo que resultou nas manchas encontradas em mais de 130 localidades do litoral nordestino tem origem da Venezuela. É o que afirmou a pesquisadora Olívia Oliveira, em entrevista coletiva no Instituto de Geociências da UFBA (Universidade Federal da Bahia) na manhã desta quinta-feira (10).
De acordo com a professora, foram analisadas amostras coletadas nos litorais da Bahia e de Sergipe, numa parceria entre as universidades federais dos dois estados nordestinos e a Universidade Estadual de Feira de Santana (BA).
Todo o material coletado foi cadastrado no Lepetro, centro vinculado ao Instituto de Geociências da UFBA, com nove unidades laboratoriais nas áreas de geologia, química, microbiologia, geoquímica, petróleo e meio ambiente.
Foram selecionadas nove amostras, sete da costa sergipana e duas da baiana. Depois, feita a separação física e desidratação do material contaminante da areia e da água do mar. Em seguida, o óleo total foi injetado em cromatógrafos com detector de chamas para obtenção do fingerprint, ou seja, da impressão digital do material fóssil, em livre tradução.
"Os resultados das análises das amostras foram comparados com os resultados das análises de petróleo constantes na literatura e no banco de óleos do Lepetro, que possui amostras de diferentes bacias do Brasil e dos principais países produtores de petróleo."
A divulgação da análise do material colhido por pesquisadores da UFBA corrobora a afirmação feita na quarta (9) pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante audiência na comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da Câmara, com base em estudo feito pela Petrobras.
"Os resultados encontrados indicam uma bacia petrolífera que representa um ambiente geológico de formação de um conjunto de rochas que geraram petróleo", disse. "A indicação de similaridade com o petróleo produzido no país aqui citado fará referência apenas à região geográfica da referida origem geológica."
A professora afirmou, no entanto, que o incidente que resultou no passivo ambiental deverá ser alvo de investigação dos órgãos competentes. "Nosso papel se configurou como uma contribuição científica à sociedade. É o que chamamos de geoquímica forense", disse.
Ainda conforme a pesquisadora, o material analisado, por se tratar de petróleo cru, perdeu as características químicas por evaporação. "Já que sua viscosidade é alta, não podemos descartar a possibilidade de o material ser bunker, combustível de navio", afirmou.
Segundo a professora, por meio dos resultados das análises dos biomarcadores e dos isótopos de carbono, "observou-se uma boa correlação do óleo coletado nas praias com um dos tipos de petróleo que é produzido na Venezuela".
"Nenhum petróleo produzido no Brasil, com origem a partir da matéria orgânica marinha, apresenta distribuição dos biomarcadores e razão de isótopos de carbono similar aos resultados encontrados", disse a pesquisadora.
Neste domingo (13/10), o papa Francisco canoniza Irmã Dulce. Conhecida como o 'anjo bom da Bahia', entre as obras da religiosa está o Hospital Santo Antônio
Por Hellen Leite - Maria Eduarda Cardim
Ela nasceu Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Por amor aos pobres, tornou-se Irmã Dulce. Por muitos, foi chamada de “o anjo bom da Bahia” e agora entra para a história da Igreja e do Brasil como Santa Dulce dos Pobres. Com uma vida inteira dedicada aos mais necessitados, Irmã Dulce acreditou na fé em forma de caridade. A freira baiana será a primeira brasileira a ser canonizada após ter o segundo milagre reconhecido pelo Vaticano. A cerimônia, prevista para acontecer neste domingo (13/10), é um marco para a história da Igreja do Brasil.
Com aparência e saúde frágeis, irmã Dulce tinha a força de quem sabe o que quer. Foi combinando delicadeza e persistência que ela ingressou, ainda muito jovem, na vida religiosa. Foram essas mesmas qualidades que a levaram a criar um dos maiores e mais respeitados trabalhos filantrópicos do país: as Obras Sociais da Irmã Dulce (Osid).
Com uma mão, batia na porta de políticos, empresários e bem-nascidos; com a outra, acolhia pobres e doentes. Certa vez, conta o jornalista Graciliano Rocha, escritor do livro reportagem Irmã Dulce: a santa dos pobres (Editora Planeta), a freira pediu dinheiro a um comerciante que cuspiu em uma de suas mãos. Sem se abalar, ela estendeu a mão limpa dizendo que o cuspe era para ela e que, na outra mão, ele poderia colocar a oferta para os pobres.
A imagem paradoxal de Irmã Dulce, frágil e firme, é confirmada por quem esteve por perto da beata em algum momento dos 77 anos vividos pela santa. O consultor de marketing político e empresarial Renato Riella conheceu Irmã Dulce quando criança. Nascido em Salvador, durante a infância Renato morou no mesmo bairro em que Irmã Dulce fundou o Hospital Santo Antônio. “Fui vizinho dela durante muitos anos. Isso aconteceu no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Eu tinha uns 8 anos”, conta. Hoje, aos 70, Renato relembra a relação da santa com os vizinhos do bairro. “Ela era muito pequena, mas muito corajosa. Vivia na rua, era disponível, andava de loja em loja pedindo doações”, recorda.
Renato a define como uma grande administradora. “Na época, a obra dela ainda era pequena e uma coisa pessoal. Ela fez tudo com muita garra e depois foi ganhando reconhecimento. Era uma buscadora de recursos para ajudar os pobres. Muito firme, rigorosa e até mesmo brava”, lembra. Apesar de todo rigor, Irmã Dulce sempre falava baixo e era superdiscreta.
Galinheiro
Um episódio, em 1939, mostra o poder empreendedor da santa brasileira. Embora estivesse acostumada a lidar com os pobres doentes, o biógrafo Graciliano Ramos conta que um caso marcou a freira. Quando trabalhava na organização que ela mesma fundou, a União Operária São Francisco, foi abordada por um jornaleiro que ardia em febre implorando para que a irmã não o deixasse morrer na rua. Ela não pensou duas vezes. Levou o garoto para uma casa abandonada em um bairro chamado Ilha dos Ratos. “Primeiro Irmã Dulce pediu a um banhista para arrombar a porta da casinha, depois, levou colchonete, candeeiro, leite e biscoito e instalou o menino no local”, detalha o biógrafo. Em pouco tempo, Irmã Dulce já tinha ocupado cinco casas abandonadas para tratar doentes.
Quando o proprietário dos imóveis descobriu as invasões, ficou furioso. Denunciou a freira à polícia, mas ninguém conseguia fazer com que a Irmã saísse do local e abandonasse os doentes. “Até que o dono das casas foi pessoalmente conversar com Irmã Dulce, e ela acabou o convencendo a ceder o local”, relembra. “Ela era muito boa sensibilizando as pessoas para a causa dos pobres”, conta.
Foram dez anos de atendimento nas casinhas até que em 1949, quando, com 70 doentes, Irmã Dulce ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio. Foi assim, em um simples galinheiro, que nasceu o Hospital Santo Antônio, o maior da Bahia. É possível fazer um tour virtual pelas obras da freira no site.
Quatro perguntas para Graciliano Ramos / Biógrafo de Irmã Dulce
Como o senhor descreve a personalidade de Irmã Dulce?
Ela sempre foi fraca de saúde, mas tinha uma força interior imensa. Recitava o rosário todos os dias e era uma empreendedora. Mesmo já idosa, tocava o dia a dia de um hospital, então, era acostumada a uma rotina pesada, levantava muito cedo e trabalhava até muito tarde. As freiras da congregação de Irmã Dulce, que conviveram de perto com ela, lembram dela como uma figura muito alegre e bem humorada, que costumava colocar apelidos nas pessoas. Durante 30 anos, ela dormiu sentada em uma cadeira por penitência. É surpreendente.
E como ela era como empreendedora?
Como chefe do hospital, ela era sempre muito atenta. Tinha obsessão por limpeza. Se visse uma coisa suja, mandava logo limpar e, se não tinha ninguém para limpar, ela mesmo limpava. Mesmo aos domingos, era comum vê-la com o escovão na mão. O hospital estava sempre limpo. Como era público, vivia superlotado, algumas pessoas eram atendidas no corredor, mas era um corredor impecável. A prova disso é que o índice de infecção hospitalar lá era muito abaixo dos outros hospitais.
Com frequência comparam Irmã Dulce com Madre Teresa de Calcutá. O senhor vê essas semelhanças?
Santa Teresa de Calcutá esteve no Brasil em julho de 1979 e encontrou Irmã Dulce. Elas se pareciam pelo fato de serem religiosas da mesma geração e por acreditarem que a vocação religiosa estava ligada ao acolhimento dos pobres. Ambas foram licenciadas de suas ordens religiosas. As diferenças entre elas estão basicamente no que cada uma fazia com os doentes. Santa Teresa de Calcutá recebeu muitas críticas por que as casas dela eram casas onde as pessoas não tinham um tratamento médico completo, muitas eram acolhidas e esperavam a hora da morte. No hospital de Irmã Dulce não era assim. Deus podia curar, havia oração, mas quem dava o diagnóstico e definia o tratamento eram os médicos.
Qual foi o impacto social, cultural e religioso de Irmã Dulce para a Bahia?
Hoje em dia temos saúde pública como um direito, mas no passado não era assim. Na Salvador dos anos 1950, os pobres não tinham atendimento, só podia ser atendido quem tinha carteira assinada. O colapso social na saúde só não foi maior por causa da Irmã Dulce. Obviamente, ela não resolveu todos os problemas da cidade, mas foi fundamental para centenas de milhares de pessoas. Ela ofereceu um exemplo de humanidade para gente de todas as religiões. Foi uma mulher que deu seu melhor e não se deixou contaminar pelo egoísmo. Na minha opinião, foi a brasileira mais espetacular do século 20. Ela antecipou em muitas décadas a chegada da mulher a posições de poder.
Papa João Paulo II mudou programação em visita ao Brasil para abençoar Irmã Dulce em hospital, há 29 anos
O Papa João Paulo II teve seu último encontro com Irmã Dulce em 20 de outubro de 1991, durante sua passagem por Salvador. Aos 77 anos, a freira estava internada havia nove meses no Hospital Santo Antônio, uma de suas obras, inaugurado em 1983. Em um quarto improvisado como UTI, ela já não conseguia falar e tampouco se mexer. Foi ali, no leito, que a religiosa recebeu a bênção do pontífice. Um encontro se futuros santos: a brasileira será canonizada neste domingo pelo Papa Francisco, o mesmo que canonizou João Paulo II, em 2014.