Além de acesso a recursos, filiação ao partido envolve cálculo de distância segura em relação ao presidente, que recebeu convite do Patriota
Por Bernardo Mello
Apesar da aproximação da família Bolsonaro com o Patriota, aliados do presidente Jair Bolsonaro em diferentes estados buscam abrigo no PSL para disputar as eleições de 2022, de olho nos recursos do fundo eleitoral e no tempo de TV proporcionado pela sigla.
Em estados como Bahia, Ceará e Tocantins, as conversas sobre filiação ao PSL envolvem também a possibilidade de manter uma distância segura de Bolsonaro, a depender da popularidade do presidente no ano que vem. No Rio, com um possível desembarque de deputados da base do governo Bolsonaro para acompanhar o presidente rumo ao Patriota, o PSL entrou na mira do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB).
Para o PSL, as negociações fazem parte da tentativa de atrair políticos com votação elevada em seus estados, de olho em emplacar uma bancada numerosa na Câmara em 2022. Na última eleição, o partido elegeu mais de 50 deputados federais.
Por ora, o PSL mantém postura dúbia em relação a Bolsonaro. O presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), tem sinalizado que apoia a construção de uma terceira via nas eleições presidenciais, mas parlamentares que seguem alinhados a Bolsonaro incentivaram seu retorno ao partido, do qual saiu brigado em 2019. Integrantes mais críticos a Bolsonaro, como o deputado Junior Bozzella (PSL-SP), já admitiram a possibilidade de deixar o PSL por conta da reaproximação com Bolsonaro e da abertura de espaços a aliados do presidente.
Um dos movimentos mais significativos ocorreu no Ceará, onde o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) foi convidado publicamente a se filiar pelo também deputado Heitor Freire (PSL-CE), presidente estadual do PSL e integrante da "ala bivarista" do partido.
Para atrair Wagner, o PSL acenou com uma estrutura partidária robusta para acomodar aliados do deputado, além da possibilidade de unificar a oposição ao grupo do governador Camilo Santana (PT). Por ter feito a segunda maior bancada da Câmara em 2018, o PSL será um dos principais destinatários de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) em 2022, segundo a legislação em vigor. No ano passado, nas eleições municipais, o partido recebeu R$ 199 milhões do chamado "fundão".
"Capitão Wagner tem um grupo forte, muitos deputados federais e estaduais, então unindo as nossas forças, nós teremos mais condições de combater esse grupo que tem comandado o Ceará nos últimos anos", informou Freire em nota divulgada na última semana.
Embora tenha recebido apoio de Bolsonaro na eleição à prefeitura de Fortaleza em 2020, quando ficou em segundo lugar, Wagner evitou trazer a imagem do presidente para a campanha e fez críticas à conduta do governo federal na pandemia, numa tentativa de marcar distância do presidente. Mesmo assim, recebeu apoio público de lideranças bolsonaristas locais e também de policiais militares — em 2012, Wagner liderou um motim da PM cearense durante o governo de Cid Gomes, aliado do atual governador.
Na Bahia, o deputado federal Elmar Nascimento (DEM), aliado do presidente do DEM, ACM Neto, costura uma filiação ao PSL para se lançar ao Senado na mesma chapa do correligionário, que disputará o governo do estado. O movimento é estudado em comum acordo entre Elmar e ACM, já que a troca de partido facilitaria a construção da chapa e o acesso a recursos do PSL. O plano de Elmar é fazer a troca na próxima janela partidária, no início de 2022.
Com bom trânsito com Bolsonaro, Elmar tem procurado reaproximar ACM Neto do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Ambos se afastaram depois que Bolsonaro chamou Roma para o ministério, em fevereiro. O presidente do DEM evita se associar ao bolsonarismo por conta da alta rejeição ao presidente na Bahia, apontada em pesquisas, mas busca ocupar o espaço de candidato antipetista, já que seu principal adversário deve ser o ex-governador e atual senador Jaques Wagner (PT-BA).
— A mudança ao PSL seria uma condição para facilitar a construção da chapa majoritária, já que não tem como fazer aliança ocupando duas vagas com nomes do DEM. O PSL, com sua estrutura, é um aliado importante para encorpar nosso grupo. É um diálogo estritamente local. Tenho trabalho pela união de todos — disse Elmar.
Disputa por comando
No Rio, o PSL entrou no radar de Waguinho, reeleito em Belford Roxo no ano passado numa campanha na qual buscou associar seu nome ao do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Desde o fim de 2020, em paralelo à reaproximação entre Bolsonaro e PSL, Waguinho e aliados têm buscado a cúpula nacional do partido para assumir o diretório estadual.
Waguinho faz parte do grupo de prefeitos da Baixada Fluminense mais próximos ao governador Cláudio Castro (PL), e que inclui o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), cotado para disputar o Senado. Além do acesso a recursos partidários, a tomada do PSL pelo grupo de Waguinho garantiria o partido na base de Castro. Embora a defesa do apoio a Bolsonaro em 2022 seja uma bandeira comum a Castro e ao atual presidente do PSL fluminense, deputado federal Gurgel Soares, ambos vêm se desentendendo nos últimos meses e não garantem estar na mesma chapa.
Com uma possível filiação de Bolsonaro ao Patriota, a maioria dos 12 deputados federais e dos 10 deputados estaduais do PSL cogita seguir o presidente no novo partido. O esvaziamento do PSL facilitaria a tomada do partido pelo grupo de Waguinho, que articula candidaturas de aliados à Câmara e à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). No entanto, segundo a colunista Berenice Seara, do Extra, Gurgel vem garantindo ter o aval da cúpula do PSL para seguir no comando local.
Em estados da região Norte, a aproximação ao PSL vem sendo feita por pré-candidatos a cargos majoritários que apostam em ter Bolsonaro no palanque, ainda que o presidente esteja numa sigla diferente. No Tocantins, o governador Mauro Carlesse já se desfiliou do DEM e ingressou no PSL, mirando uma possível candidatura ao Senado — outra opção é se lançar a deputado federal. Carlesse se mantém próximo ao senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo Bolsonaro no Congresso e possível candidato ao governo de Tocantins. A depender da decisão de Gomes, Carlesse pode adotar um apoio menos explícito a Bolsonaro.
No Amapá, o PSL é uma das opções colocadas para o vice-governador Jaime Nunes (PROS) disputar o governo. Nunes, que tenta assumir a bandeira de candidato bolsonarista no estado, é aliado do deputado federal Acácio Favacho (PROS-AP) e também vem conversando com legendas como PTB e MDB. O diretório estadual do PSL foi dissolvido em dezembro de 2020 e segue sem comando.
A mudança para o partido atrairia recursos e tempo de propaganda eleitoral para encorpar a coligação de Nunes, que deve ter como adversários o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e um candidato indicado pelo grupo do também senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
TCU contraria presidente e nega questionar 50% das mortes por covid
Por Lauriberto Pompeu
O presidente Jair Bolsonaro declarou nesta segunda-feira, 7, que um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta número inflado de mortes por covid-19 no Brasil. O Estadão apurou que o TCU prepara uma nota sobre o assunto para negar a conclusão citada por Bolsonaro
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"O relatório final, que não é conclusivo, disse que em torno de 50% dos óbitos por covid no ano passado não foram por covid, segundo o Tribunal de Contas da União", afirmou Bolsonaro a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada.
"Esse relatório saiu há alguns dias. Logicamente que a imprensa não vai divulgar. Já passei para três jornalistas com quem eu converso e devo divulgar hoje à tarde. Está muito bem fundamentado, todo mundo vai entender, só jornalista não vai entender", completou o presidente.
Ministros do TCU negam a existência de um relatório da Corte que coloca dúvida sobre 50% dos registros de morte por covid no País.
O Brasil tem mais de 470 mil mortos por coronavírus. Desde o início da pandemia, Bolsonaro e aliados agem para minimizar o número de vidas perdidas em decorrência de covid-19. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), por exemplo, chegou a compartilhar nas redes sociais, em maio de 2020, notícias falsas de que o governo do Ceará estaria sepultando caixões vazios para inflar o número de vítimas da doença.
Na semana passada, ao justificar a realização da Copa América no Brasil, durante a pandemia, Bolsonaro novamente criticou as medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos. "Lamento as mortes, mas nós temos de viver. Se é para todo mundo ficar em casa, vamos determinar que é para o homem do campo ficar em casa também. Quero ver do que a cidade vai sobreviver", afirmou ele.
Em pronunciamento veiculado em rede nacional de rádio e TV, na quarta-feira, 2, Bolsonaro também exaltou a vacinação contra o vírus e comemorou a transferência de tecnologia para o laboratório da Fiocruz fabricar o imunizante da AstraZeneca por conta própria.
Na ocasião, o grupo de sete senadores independentes e de oposição na CPI da Covid, conhecido como G7, divulgou nota para criticar o pronunciamento do presidente. "A inflexão do presidente da República celebrando vacinas contra a covid-19 vem com um atraso fatal e doloroso", escreveram os senadores.
TCU contraria Bolsonaro e nega questionar 50% das mortes por covid
O TCU (Tribunal de Contas da União) disse nesta 2ª feira (7.jun.2021) que é falsa afirmação do presidente Jair Bolsonaro. Horas antes, ele atribuiu a suposto relatório do tribunal informação que “em torno de 50% dos óbitos de 2020 por covid não foram por covid”.
Em nota, o tribunal nega a existência de qualquer conclusão nesse sentido: “O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do Presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje”.
De acordo com Bolsonaro, o documento “não é conclusivo”, teria sido finalizado “há uns dias” e seria divulgado pelo Planalto na tarde desta 2ª feira (7.jun).
Órgão não viu 'transgressão disciplinar' por parte do ex-ministro e arquivou procedimento
Com Agências
O Comando do Exército anunciou nesta quinta-feira, 3, que o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello não cometeu transgressão disciplinar por ter participado de ato político no Rio de Janeiro ao lado do presidente Jair Bolsonaro.
A polêmica decisão acaba indo ao encontro à vontade do presidente, que não queria que seu aliado fosse punido. Mas também amplia o desgaste das Forças Armadas com o governo, já que a punição para o general era defendida por muitos oficiais de alta patente.
"Acerca da participação do General de Divisão Eduardo Pazuello em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general. Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello", afirma o comunicado emitido pelo Exército.
Com isso, foi arquivado o procedimento administrativo que havia sido instaurado para verificar a conduta do general.
A polêmica, porém, deve continuar por um bom tempo já que a decisão abre brecha para que o regulamento disciplinar fique desacreditado. Uma punição para o general mostraria que o Exército não hesitaria em punir um oficial de alta patente, mesmo que ele fosse aliado do presidente, em nome de sua disciplina interna. Como isso não ocorreu, a mensagem enviada é a oposta.
Na sua defesa, Pazuello argumentou que o passeio de moto no Rio não representou um evento político-partidário. Também lembrou que não é um período eleitoral e que o presidente Bolsonaro sequer está filiado a algum partido.
O Regulamento Disciplinar do Exército e pelo Estatuto das Forças Armadas proíbe a participação de militares da ativa em manifestações políticas. No ato que gerou o procedimento disciplinar, Pazuello chegou a subir em um trio elétrico onde Bolsonaro discursava para apoiadores.
Capa da 'The Economist' traz Brasil em década sombria. Revista britânica afirma que o presidente Jair Bolsonaro não é o único culpado pela situação do país. A culpa por isso pertence principalmente ao Partido dos Trabalhadores (PT), que ocupou a Presidência entre 2003-2016...
Do The Economist
Os hospitais estão lotados, as favelas ecoam tiros e um recorde de 14,7% dos trabalhadores estão desempregados. Inacreditavelmente, a economia do Brasil está menor agora do que era em 2011 – e serão necessários muitos trimestres fortes como o relatado em 1.º de junho para reparar sua reputação. O número de mortos no Brasil pela covid-19 é um dos piores do mundo. Mas o presidente Jair Bolsonaro faz piada dizendo que as vacinas podem transformar as pessoas em jacarés.
O declínio do Brasil foi chocantemente rápido. Após a ditadura militar de 1964-85, o país conseguiu uma nova Constituição que devolvia o Exército aos quartéis, uma nova moeda que acabou com a hiperinflação e programas sociais que, com um boom de commodities, começaram a reduzir a pobreza e a desigualdade. Uma década atrás, o País estava cheio de dinheiro do petróleo e tinha sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Parecia destinado a florescer.
Mas o Brasil não aproveitou a oportunidade. Como argumenta nossa reportagem especial desta semana, governos consecutivos cometeram três erros. Primeiro, eles cederam à visão de curto prazo e adiaram as reformas econômicas liberais. A culpa por isso pertence principalmente ao Partido dos Trabalhadores (PT), que ocupou a Presidência entre 2003-16. Ele alcançou um crescimento de 4% ao ano, mas não investiu para aumentar a produtividade. Quando os preços das commodities caíram, o Brasil enfrentou uma das piores recessões de sua história. Os governos de Michel Temer e Bolsonaro fizeram algum progresso nas reformas, mas pararam muito aquém do que é necessário.
Ex-presidentes Michel Temer e Lula
Em segundo lugar, em seus esforços para se protegerem das consequências da Lava Jato, os políticos têm resistido às reformas que impediriam a corrupção. Os promotores e juízes por trás da Lava Jato são parcialmente culpados. Depois que alguns demonstraram ter uma agenda política, os inquéritos dos quais eram responsáveis ficaram estagnados no Congresso e nos tribunais.
Por último, o sistema político do Brasil é um fardo. Distritos estaduais e 30 partidos no Congresso tornam as eleições caras. Mais ainda do que em outros países, os políticos no Brasil tendem a apoiar projetos extravagantes para ganhar votos, em vez de reformas valiosas de longo prazo. Uma vez no cargo, eles seguem as regras erradas que os elegeram. Eles desfrutam de privilégios legais que os tornam difíceis de serem processados e de uma grande quantidade de dinheiro para ajudá-los a manter o poder. Como resultado, os brasileiros os desprezam. Em 2018, apenas 3% disseram confiar “muito” no Congresso.
A desilusão abriu o caminho para Bolsonaro. Ex-capitão do Exército com uma queda pela ditadura, ele convenceu os eleitores a verem seu jeito politicamente incorreto como um sinal de autenticidade. Ele prometeu eliminar políticos corruptos, reprimir o crime e turbinar a economia. E tem fracassado em todas as três tarefas.
Depois de aprovar a reforma da previdência em 2019, ele abandonou a agenda de seu ministro da Economia liberal, temendo que ela lhe custasse votos. A reforma tributária e do setor público e as privatizações estagnaram. O auxílio emergencial ajudou a evitar a pobreza no início da pandemia, mas foi reduzido no final de 2020 em razão do aumento da dívida. A taxa de desmatamento na Amazônia aumentou mais de 40% desde que Bolsonaro assumiu o cargo. Ele levou uma motosserra para o Ministério do Meio Ambiente, cortando seu orçamento e forçando a saída de funcionários. Seu ministro do Meio Ambiente está sob investigação por tráfico de madeira.
Em relação à covid-19, Bolsonaro apoiou manifestações contra os bloqueios totais e curas de charlatões. Ele enviou aviões carregados de hidroxicloroquina para povos indígenas. Por seis meses ele ignorou ofertas de vacinas. Um estudo descobriu que o atraso pode ter custado 95 mil vidas.
Em vez de lidar com a corrupção, ele protegeu seus aliados. Em abril de 2020, demitiu o chefe da Polícia Federal, que investiga os filhos dele por corrupção. Seu ministro da Justiça pediu demissão, acusando-o de obstrução da justiça. Dias antes, Bolsonaro havia ameaçado a independência do Supremo Tribunal Federal (STF). Em fevereiro, seu procurador-geral acabou com a força-tarefa da Lava Jato.
A democracia brasileira está mais frágil do que em qualquer momento desde o fim da ditadura. Em março, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, que se recusou a enviar o Exército às ruas para forçar a reabertura de empresas. Se ele perder a reeleição em 2022, alguns acham que ele pode não aceitar o resultado. Ele lançou dúvidas em relação ao voto eletrônico, aprovou decretos para “armar a população” e se gabou de que “só Deus” o tirará da cadeira presidencial.
Impeachment
Na verdade, o Congresso brasileiro poderia fazer o trabalho sem a intervenção divina. Sua conduta provavelmente se qualifica como passível de impeachment, incluindo “crimes de responsabilidade”, como encorajar as pessoas a desafiar os bloqueios totais, ignorar ofertas de vacinas e demitir funcionários para proteger seus filhos. O Congresso recebeu 118 petições de impeachment. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em 29 de maio para exigir sua expulsão do cargo.
Por enquanto, ele tem apoio suficiente no Congresso para impedir o impeachment. Além disso, o vice-presidente, que assumiria, é um general também nostálgico do regime militar. A última vez que o Congresso votou pelo impeachment de um presidente no Brasil – Dilma Rousseff em 2016 por esconder o tamanho do déficit orçamentário – isso dividiu o País. Bolsonaro se apresentaria como um mártir. Muitos de seus apoiadores estão armados.
No longo prazo, além de substituir Bolsonaro, o Brasil deve lidar com o cinismo e o desespero que o elegeu, enfrentando o baixo crescimento crônico e a desigualdade. Isso exigirá uma reforma dramática. No entanto, a própria resiliência que protegeu as instituições brasileiras das predações de um populista também as torna resistentes a mudanças benéficas.
As ações necessárias são difíceis. Acima de tudo, o governo precisa servir ao público e não a si mesmo. Isso significa reduzir os privilégios dos trabalhadores do setor público, que consomem uma parcela insustentável dos gastos do governo. Os políticos também não devem poupar a si mesmos. Os titulares de cargos devem ter menos proteções legais. Eles deveriam reorganizar os sistemas eleitoral e partidário para deixar sangue novo entrar no Congresso.
O próximo governo deve combater a corrupção sem preconceitos, conter gastos desnecessários e aumentar a competitividade. A aplicação de medidas severas na Amazônia deve ser acompanhada de alternativas econômicas ao desmatamento. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde, novos Bolsonaros surgirão.
Há um longo caminho pela frente.
A não ser que o impeachment de Bolsonaro ocorra, o destino do Brasil provavelmente será decidido pelos eleitores no ano que vem. Seus rivais deveriam oferecer soluções em vez de espalhar nostalgia. Seu sucessor herdará um País deteriorado e dividido. Infelizmente, a podridão vai muito além de um homem só. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
Flávio Bolsonaro, o Zero Um, adianta-se ao pai e filia-se ao Patriota, um dos menores partidos com representação na Câmara dos Deputados
Por Ricardo Noblat
O presidente Jair Bolsonaro tem tudo para se sentir em casa no partido de nome Patriota ao qual, ontem, filiou-se seu filho Flávio, o Zero Um, senador. Não por causa do filho, mas porque o partido tem todas as características de ser um empreendimento familiar, algo que Bolsonaro tanto preza como alardeia.
Uma das menores siglas da Câmara, com apenas seis deputados, o Patriota destaca como uma de suas bandeiras a eficiência na gestão pública, com o menor gasto possível para a promoção de bens e direitos, e a “verdadeira austeridade fiscal com busca ao déficit nominal zero”. Como o papel aceita tudo…
O presidente do partido atende pelo nome de Adilson Barroso Oliveira. A levar-se em conta sua gestão à frente do Patriota, por eficiência deve-se entender o uso que faz de dinheiro público para empregar parentes com bons salários. No momento, segundo a Folha de São Paulo, são pelo menos 10 parentes.
As prestações de contas do partido relativas aos anos de 2017 a 2020 revelam que Oliveira embolsou R$ 1,5 milhão de verba do Fundo Partidário. Só no ano passado, R$ 225 mil. Depois dele, sua mulher, Cássia Freire Sá, que no mesmo período recebeu R$ 112 mil. Em seguida, a cunhada, Andresa Nabarro (R$ 56 mil).
Rute Ferreira de Lima, ex-mulher de Oliveira, foi contemplada com R$ 50 mil no ano passado; a filha Fabiana com R$ 47 mil, e o sobrinho Willian com R$ 48 mil. Dinheiro do partido em 2019 foi gasto com a compra de cinco carros, entre eles uma Mitsubishi Pajero Sport zero quilômetro no valor de R$ 260 mil.
Embora nanico, o Patriota conta com alas. E uma delas entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral onde acusa Oliveira de ter cometido irregularidades ao organizar a convenção nacional do partido em que foi anunciada a filiação de Flávio.