Ex-presidente era investigado por suposto recebimento de propina de R$ 6 milhões por MP que favoreceu montadoras
Por Agência O Globo
A Justiça Federal do Distrito Federal absolveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho e outras cinco pessoas acusadas pelo Ministério Público Federal de favorecer montadoras por meio da edição da Medida Provisória 471 de 2009.
Segundo a decisão do juiz federal Frederico Botelho de Barros Viana, a investigação não "demonstrou de maneira convincente" como o ex-presidente e seu chefe de gabinete "teriam participado no contexto supostamente criminoso". Em maio, nas alegações finais, o Ministério Público Federal (MPF), que havia oferecido a denúncia em 2017, mudou de posição e pediu a absolvição de Lula.
"Isso porque muito embora existam elementos que demonstrem a atuação por parte da empresa de Mauro Marcondes — Marcondes e Mautoni — no que se refere à prorrogação de benefícios fiscais às empresas CAOA e MMC, não há evidências apropriadas e nem sequer minimamente aptas a demonstrar a existência de ajuste ilícito entre os réus para fins de repasse de valores em favor de Luiz Inácio Lula da Silva e Gilberto Carvalho", diz a sentença.
Na denúncia, o MPF alegava que a promessa de vantagem indevida — R$ 6 milhões para a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores — teria como objetivo favorecer as montadoras de veículo MMC e CAOA por meio de edição da MP, "cuja tramitação foi favorecida com celeridade atípica". A acusação ainda apontava que os empresários teriam tido acesso ao texto antes de sua publicação, "depois de realizados os ajustes encomendados". Para o órgão, porém, houve insuficiência de provas para a condenação.
"É segura, portanto, a conclusão de que a acusação carece de elementos, ainda que indiciários, que possam fundamentar, além de qualquer dúvida razoável, eventual juízo condenatório em desfavor dos réus", afirmou o magistrado na decisão desta segunda-feira.
Para senador tucano, aliança de partidos em 2022 para enfrentar polarização é uma 'possibilidade concreta'
Por Eduardo Laguna e Ernani Fagundes
Apontado como um dos "presidenciáveis" do PSDB para a eleição de 2022, o senador Tasso Jereissati (CE) disse neste domingo, 21, ver como uma "possibilidade concreta" a formação de uma aliança de forças políticas de centro para fazer frente à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para Tasso, o candidato que represente este campo não necessariamente tem de ser do PSDB. "Não precisa ser do nosso partido", disse o parlamentar, referindo-se ao nome que lideraria a coalizão.
Ao participar de videoconferência do grupo Parlatório S.A., o senador cearense disse que a viabilidade de uma candidatura alternativa, a chamada terceira via, na corrida ao Palácio do Planalto do ano que vem, vai depender da pressão popular. "Se houver pressão da opinião publica, a possibilidade se torna mais concreta ainda", afirmou o tucano.
Tasso é um dos quatro nomes cogitados para ser o candidato presidencial do PSDB em 2022. Além do senador, concorrem ao posto os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. As prévias do partido estão marcadas para novembro.
Questionado sobre a atuação do PSDB na corrida presidencial, Tasso defendeu a unidade da legenda e respondeu que as prévias tucanas também fazem parte da estratégia eleitoral para 2022. "Uma característica positiva que o PSDB tem é de ser um partido democrático, e, encontramos uma solução democrática. As prévias também são uma estratégia eleitoral", disse. "Veja o caso dos Estados Unidos, onde há prévias. (...) Se você entrar do zero para alçar voo depois é muito difícil. Essa é uma das estratégias, e, depois da prévia, todo mundo vai entrar em campo para jogar junto", afirmou o senador tucano.
Tasso citou o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro - ambos participantes da mesma reunião virtual - entre as "figuras centrais" no processo de aglutinação de forças de centro. "São atores fundamentais para que esse processo chegue", afirmou o senador.
Ameaças
Integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que investiga ações e omissões de autoridades pelo agravamento da pandemia de covid-19, Tasso revelou que testemunhas receberam ameaças de morte. "Pelo menos duas pessoas já pediram proteção à CPI por ameaças de morte. (...) Isso é muito grave, temos uma banalização da morte no Brasil."
Tasso afirmou que existe um "receio claro" do Congresso com alguns movimentos do presidente Jair Bolsonaro em relação ao poder Judiciário e outras instituições. "Todas as instituições estão em risco. Nesse momento, qualquer tipo de luta entre o Legislativo e o Judiciário seria inadequado. Existe um receio muito claro no Congresso de alguns movimentos do presidente da República em relação ao poder Judiciário."
O senador ainda disse que causou preocupação na classe política o arquivamento pelo Exército do processo administrativo sobre a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em ato em apoio a Bolsonaro. "O silêncio das Forças Armadas intranquilizou o País e também o meio político. Hoje, existe uma intranquilidade muito grande", afirmou. Tasso frisou que a não punição gerou ruído preocupante, mas afirmou acreditar que as Forças Armadas vão cumprir o papel de "resguardar a Constituição brasileira".
Parlamentarismo
O senador também fez uma defesa da adoção do parlamentarismo. "Eu sou parlamentarista, defendo que esse parlamentarismo seja adaptado à nossa cultura, história e tradição. Essa é uma das bases do nosso partido, o PSDB. Hoje, muitos senadores já se posicionam a favor do parlamentarismo", comentou Tasso.O senador ponderou, no entanto, que a mudança do sistema de governo depende de uma reforma eleitoral totalmente diferente da discutida recentemente. "O 'distritão' seria a destruição dos partidos", afirmou. Tasso completou que a "ideia básica" de mudança do sistema de governo no Brasil ao parlamentarismo está pronta para ser debatida, porém não na atual legislatura.
O senador tucano ponderou que, embora exista apoio da maioria dos senadores ao parlamentarismo - com cada um defendendo o seu modelo preferido -, será difícil fazer essa discussão na reforma política e eleitoral durante a atual legislatura. Isso porque, disse, a maioria dos deputados foi eleita dentro do sistema atual que prevê reeleição. "Existe receio de que o parlamentarismo coloque em risco suas eleições futuras", comentou. "É uma ideia provavelmente a ser votada na próxima legislatura para não haver impasse maior", acrescentou.
O quadro político sucessório do Tocantins dificilmente deixará de ser polarizado entre duas candidaturas, mas, o surgimento de uma terceira força não pode nem ser descartado, muito menos menosprezado
Por Edson Rodrigues
Levando-se em conta os atuais seguidores leais ao governo e aqueles que são oposição, a antecipação do processo sucessório deixou muitos líderes partidários em situação de descontrole desse processo.
Mauro Carlesse tem uma base sólida de sustentação na Assembleia Legislativa e nunca deixou nenhum marujo à deriva.
O Paralelo 13 faz, aqui, uma análise da convivência política do sentimento de “irmandade” entre Mauro Carlesse e seu grupo formado no Legislativo Estadual, onde, como é sabido, chegou à presidência e, no lugar certo, na hora certa, foi eleito três vezes governador, sempre contando com a maioria de seus pares, de diversos partidos, inclusive os da oposição, contando com os cinco representantes do MDB no parlamento.
Carlesse sabe, hoje, que tem uma grande responsabilidade como líder de um grupo político, composto por deputados estaduais que nunca lhe negou nenhum apoio, principalmente nos momentos em que mais precisou.
TOINHO ANDRADE, UM CASO À PARTE
O deputado Toinho Andrade, presidente da Assembleia Legislativa, conduziu com maestria, sabedoria e lealdade a aprovação de todos os projetos do Executivo enviados à Case de Leis, viabilizando o desenvolver dos governos de Carlesse, autorizando o Estado a contrair os empréstimos junto ao Banco do Brasil, à Caixa Econômica federal e ao BRB.
Todos os projetos foram votados e aprovados pe3lo parlamento estadual, que precisou cortar na própria carne ao autorizar com as milhares de demissões do funcionalismo público, mesmo que isso tenha deixado muita gente descontente, mantendo sua fidelidade à toda prova.
Na última quarta-feira, Toinho Andrade, ex-presidente estadual do PTB, sofreu uma intervenção na direção do partido que presidiu, fortaleceu e ajudou a criar musculatura, com a eleição de vários prefeitos e vereadores e com a formação da Comissões Provisórias nos municípios. Toinho foi destituído da presidência por não aceitar imposições da cúpula nacional do partido.
A decisão se deu porque o projeto político desenhado para o Tocantins pela cúpula nacional do PTB, conflitava com o posicionamento estadual, uma vez que o partido deve ser extremamente conservador e trazer candidatos próprios para o governo, o Senado e deputados federais e estaduais, entrando de cabeça nos movimentos religiosos em busca de apoio.
Esse novo grupo político, calcado na religiosidade, tem representantes em quase todos os municípios tocantinenses, tendo o PTB como legenda principal e várias lideranças evangélicas e de outras religiões. A intenção é ter uma chapa completa no tabuleiro sucessório, com candidatos próprios para todos os cargos à disposição.
RECIPROCIDADE
Por ser um político de poucas palavras e muita ação, e extremamente leal aos seus apoiadores, Carlesse, desde quando chegou à presidência da Assembleia, teve o apoio da maioria dos seus pares e jamais perdeu um companheiro sequer. Essa é uma visão apolítica do pacto feito por Mauro Carlesse, em que a reciprocidade e a lealdade sempre foram colocados em primeiro plano, em detrimento das cores partidárias.
O único porquê do grupo político de Carlesse é que o governador precisa decidir se renunciará para se candidatar ao Senado ou se disputa uma das oito vagas para deputado federal para liberar seus seguidores mais fiéis, que jamais o deixaram.
Pelos movimentos e articulações políticas e administrativas que Carlesse vem executando, fica claro que ele trouxe da vida de empresário bem-sucedido o fato de ser um político cumpridor da palavra e de acordos, e o jeito de agir sempre na hora exata, pois ninguém conseguiu extrair do governador qual será o seu destino político em 2022.
Mas, Carlesse precisa ter em mente que o sucesso político da sua base de sustentação depende da sua decisão, e todos estão em suspense, aguardando a definição para, também, definirem suas vidas. Seu grupo político, por incrível que pareça, está mais preocupado com a definição para o Senado que para o cargo de governador. E isso não é bom para ninguém.
Esse imbróglio precisa chegar ao fim o quanto antes, pois Mauro Carlesse marcou um “golaço” ao definir sua ida para o PSL e seguir, politicamente, o presidente Jair Bolsonaro, pois além de ter o partido para sua candidatura, tem, também o comando da legenda no Tocantins, sendo que o PSL é uma das maiores bancadas na Câmara Federal e no Senado.
Com o PSL do Tocantins nas mãos, Carlesse tem todas as condições de abrigar seus companheiros de grupo político e oferecer aos que estão indefinidos, um Horário Eleitoral Gratuito e um Fundo de Campanha que não encontrarão em qualquer outro lugar.
E o grupo político de Mauro Carlesse, que tem em seus quadros a maioria dos deputados estaduais, prefeitos, vereadores e lideranças municipais e regionais, além de líderes de outros partidos, deve, em breve, acertar os ponteiros políticos, o que engloba a situação do vice-governador, Wanderley Barbosa, candidatíssimo ao cargo de governador, e que já está colhendo os frutos de ter o apoio do governador e dos deputados estaduais.
Diante do acima exposto, O Paralelo 13 faz questão de deixar transparecer a sua simpatia por qualquer candidatura, pois, quanto mais candidaturas para o governo, para o Senado e para os parlamentos estadual e federal, mais rico de ingrediente fica o processo sucessório e mais opções o eleitorado tocantinense terá, nesta grande festa democrática.
Trocando em miúdos, o sucesso eleitoral dos deputados estaduais e dos candidatos a deputado federal do grupo político de Mauro Carlesse, depende exclusivamente do próprio Mauro Carlesse.
O tempo dirá!
Até breve.
Sucesso de candidatos ligados à Igreja não se deve somente ao aumento do número de fiéis na sociedade brasileira
Por Caroline Oliveira
São quase sete e meia da noite em uma das unidades da Igreja Pentecostal Deus é Amor, na região central de São Paulo. Depois de uma chuva intensa, os fiéis demoram a chegar. Enquanto o culto não começa e os irmãos não chegam, Serafina Ribeiro, de 36 anos, anda de um lado para o outro, colocando as coisas nos lugares, passando um pano úmido no chão, limpando os ventiladores e sorrindo para quem adentra ao espaço.
Empregada doméstica, ela está ali há quatro anos, desde que passou por um processo de depressão depois da morte da mãe, na Bahia, enquanto Serafina vivia em São Paulo – chegou na capital paulista acompanhada de sua patroa, com quem sempre morou. Na Igreja, sentiu o “amor de Deus”, parou de sentir angústia e se sente “curada”.
Serafina é o rosto evangélico brasileiro: mulher, negra e de baixa renda. Na Igreja relativamente pequena, se comparada ao Templo Salomão da Igreja Universal, a maioria ali presente confirmou o que levantaram os dados de uma pesquisa de janeiro de 2020, do Instituto Datafolha: um rosto feminino, negro, que ganha até dois salários mínimos por mês e tem apenas o ensino médio completo é rosto da religião evangélica hoje.
Os líderes evangélicos, segundo especialistas, não representam a maioria dos evangélicos que é negra, feminina e pobre
Bem diferente, no entanto, é o perfil dos líderes evangélicos que decidem atuar na esfera política, seja nos bastidores ou sob os holofotes.
Um exemplo é o pastor Edir Macedo. Líder da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada no terreno de uma antiga funerária, em 1977, no Rio de Janeiro, ele tem uma fortuna declarada de aproximadamente R$ 2 bilhões, segundo a Revista Forbes. Ele foi um dos apoiadores da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. Resultado: cerca de 70% dos evangélicos declararam voto no candidato abençoado da extrema-direita.
A presença de evangélicos na política não é de hoje, mas cresce de forma exponencial. De 1982 para cá, o número de parlamentares declaradamente evangélicos passou de 12 para 90, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). A mudança se explica parcialmente pelo aumento vultoso da população evangélica no Brasil, que, no mesmo período, passou de 7,8 milhões para 26,2 milhões. Mas não é só isso.
Um projeto de poder
Especialistas e evangélicos ouvidos pelo Brasil de Fato explicam que o avanço dos evangélicos sobre na política responde a um projeto de poder, instigado pelos líderes religiosos e em aliança com a direita brasileira.
“Com o crescimento dos evangélicos, muitos mais se apresentarão para a política partidária. Isso é natural e esperado. Com a Universal, no entanto, isso mudou”, afirma o pastor Ariovaldo Ramos, de 64 anos, líder da Comunidade Cristã Renovada e um dos coordenadores nacionais da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, formada em 2016. Para ele, a igreja de Edir Macedo se transformou em uma “agência política”, com uma lógica de lógica de ascensão ao poder.
Jair Bolsonaro é abençoado pelo pastor Edir Macedo (Foto: Igreja Universal do Reino de Deus)
Em 2008, o pastor Edir Macedo publicou o livro “Plano de Poder”, citando Maquiavel, apresentando Deus como um estadista e Adão e Eva como elementos de um estado de natureza ou de selvageria. “Os cristãos precisam despertar ao toque da alvorada. (...) A emancipação começa com o amadurecimento individual, o inconformismo com certas situações, o consenso em um ideal e a mobilização geral.”
Dez anos depois, nas eleições de 2018, o plano de poder estava em pleno andamento: foram os pastores, apoiados por candidatos da direita, que levaram parte da população brasileira para as ruas, defende o pastor Ariovaldo Ramos. Aqueles que melhor souberam surfar a onda do crescimento dos evangélicos foram as siglas de direita e extrema direita.
“É a religião que mais cresce no Brasil e na América Latina e que se cola muito bem a esse projeto de direita que passa pela questão moral e pelo conservadorismo”, afirma Andrea Dip, jornalista e autora do livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder”.
Como parte da apuração para o livro, em 2015, Dip foi assistir a um culto evangélico no Congresso Nacional, quando Dilma Rousseff (PT) ainda era presidente. “Até então não sabia que ocorriam cultos evangélicos nesse espaço. O Eduardo Cunha estava lá orando, com a Bíblia na mão. Ali eu percebi que havia um projeto de poder se desenvolvendo.” Entre os valores evangélicos e os da direita, nasceu a esteira necessária para o desenvolvimento desse projeto de poder.
O pastor Ariovaldo Ramos relata a participação de evangélicos na política partidária desde o fim da ditadura militar. As Igrejas Evangélicas, no entanto, tendiam a se manter distantes da lógica partidária. “Nunca passou pela lógica evangélica assumir o poder, influenciar na política. Até porque a fé protestante é a que mais atuou na construção do Estado laico, justamente porque é um cristianismo tardio, que vai ser perseguido, na Cortina de Ferro e, depois, no mundo islâmico”, afirma.
A lógica, entretanto, passou a entender que “era preciso estar no poder para garantir o avanço da fé, principalmente por causa das perseguições”. Com a chegada da Teologia da Prosperidade, explica Ramos, a mudança seria inevitável. Agora, “se você foi eleito por Deus, você tem prosperidade econômica. Aí virou a coluna que você vê na mensagem da Universal e de todas as neopentecostais. Isso é o ovo da serpente, criou um ambiente que nós temos hoje”.
Por que o número de evangélicos cresce tanto?
De acordo com Marco Fernandes, doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, para entender o que levou o número de evangélicos a aumentar tanto, é necessário estudar as mudanças ocorridas na sociedade brasileira nas três últimas décadas ligadas à precarização da vida da classe trabalhadora.
“Diante disso, o que as igrejas oferecem para as pessoas? Primeiro, a possibilidade de pertencer a uma comunidade. As Igrejas funcionam como um centro cultural nas periferias. Se um jovem quer aprender a tocar algum instrumento, por exemplo, vai para a Igreja Universal do Reino de Deus”, que, atualmente, têm cerca de 15 programas sociais destinados aos fiéis. De acordo com dados oficiais da Igreja, de 2018, cerca de 10,8 milhões de pessoas foram alcançadas por esses programas.
Outra constatação listada pelo pesquisador é o acolhimento emocional que esses espaços promovem. De acordo com um estudo feito pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), em 2017, os transtornos mentais estão entre as maiores causas de afastamento do trabalho.
“Onde esses trabalhadores vão procurar alívio? Na Igreja. E, de fato, elas melhoram de depressão, ansiedade. Quem cura o alcoolismo hoje nas classes populares são as Igrejas”, afirma Fernandes. Da mesma maneira, “é onde vão achar também um alívio material, mesmo que seja uma cesta básica alimentar no fim do mês”.
Para Fernandes, as instituições religiosas evangélicas acabam, desse modo, por organizar a vida em sociedade, principalmente em espaços onde o Estado não chega, como nas periferias.
“A mulher negra que está na periferia não tem acesso à cultura, saúde e educação. Aí a Igreja traz saúde, cultura e educação.
Ao passo que a religião evangélica se expande pelo país, o catolicismo perde espaço.
Ainda de acordo com o Datafolha, os católicos ainda são 50% da população, mas em 1980 eram 90%. A diferença, segundo Fernandes, se explica pela melhor penetração das igrejas evangélicas entre a classe trabalhadora, com um discurso e um formato mais próximo da realidade do que a Igreja Católica.
Para se ter uma ideia, apenas na década de 1960 a Igreja Católica deixou de pregar a missa em latim e de costas para os fiéis. Do outro lado, os evangélicos espalham a narrativa por meio da música, dos canais de rádio e TV e nas pequenas casas que transformam em templo, em todas as periferias.
A educadora social evangélica Rachel Daniel, de 24 anos, diz que a Igreja Evangélica acolhe as pessoas “de uma forma perfeita”. “Você é abraçado, se sente acolhido, as pessoas estão preocupadas se você tem o que comer em casa, sobre a sua saúde, te ligam no seu aniversário”, afirma.
“A mulher negra que está na periferia não tem acesso à cultura, saúde e educação. Aí a Igreja traz saúde, cultura e educação. O filho aprende a tocar um instrumento, faz teatro. Ela consegue ir ao médico, consegue os remédios. A Igreja tem um pré-vestibular comunitário. Tudo o que o Estado não traz, a Igreja traz.”
Esquerda não fez a lição de casa
“A esquerda não ouviu Paulo Freire, não foi ensinar o sujeito a escrever a partir do tijolo, da argamassa, que é o que Paulo Freire ensinava sobre a educação libertadora. A base ficou solta e foi virando religiosa”, argumenta Ariovaldo Ramos.
Para o pastor, o erro da esquerda é esquecer que “abaixo da linha do Equador nós todos somos religiosos". "Todo mundo fala ‘Graças a Deus’. Pensar que todo mundo, à medida que for ganhando a sua de dignidade econômica vai deixar a religião é imaginário. A fé é uma coisa mais profunda do que isso, é um jeito de se enxergar na vida.”
Política é afeto, é relação, e a religião também. A esquerda deixou de fazer isso e a direita usou esses pastores
Ramos alerta que, enquanto a esquerda não tratar da dignificação da mulher e do homem negro, seguirá perdendo votos para qualquer movimento que “empreste aos pobres, aos negros e aos miseráveis senso de dignidade, que não tem a ver com a grana que ele tem no bolso, porque ele vai colocar água no feijão de qualquer jeito. O que ele não vai aceitar é ser tratado como escravo”.
“Não dá para chegar na senhora de 90 anos que vai na minha Igreja e falar assim: eu sei que o pastor te levou no médico quando você precisou, conversou com você quando você precisava, visitou o seu filho na prisão, mas ele está errado, vota na outra pessoa. Porque é construção de afeto. Política é afeto, é relação, e a religião também. A esquerda deixou de fazer isso e a direita usou esses pastores”, sentencia a educadora evangélica Rachel Daniel.
Partidos políticos e institutos de pesquisas fizeram nas últimas semanas estudos qualitativos para tentar aferir que características o eleitor busca em um candidato que possa representar a chamada “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022
Por Laryssa Borges
Entre as perguntas que têm sido feitas estão se há a obrigatoriedade ou preferência de o político ser ficha limpa, de elencar o combate à corrupção como uma de suas prioridades e de procurar políticos tradicionais para alianças partidárias. Em uma das simulações, eleitores foram questionados, por exemplo, se o “candidato ideal” poderia se aliar a políticos tucanos investigados na Lava-Jato.
Eventuais respostas positivas não descartam ou classificam determinado pré-candidato, mas têm servido para os partidos monitorarem os interesses do eleitor que hoje não pretende votar nem no presidente Jair Bolsonaro nem no ex-presidente Lula no próximo ano. Entre os nomes apresentados aos entrevistados nestas pesquisas qualitativas estão o da empresária Luiza Trajano e do ex-juiz Sergio Moro.
De acordo com o cientista político Luiz Felipe d’Avila, embora o caminho para a terceira via hoje esteja congestionado, com diferentes agremiações tentando se cacifar para lançar seu próprio presidenciável, há espaço para que um nome seja competitivo a partir de março do próximo ano. Na avaliação dele, os pífios desempenhos de João Dória (3%), Luiz Henrique Mandetta (3%) e Sergio Moro (7%) na última pesquisa XP/Ipespe de intenção de votos, por exemplo, também não devem ser levados a fundo desde já como critério de exclusão do nome de quaisquer dos possíveis candidatos.
“O grande desafio do candidato do centro é perder o discurso tecnocrata e ganhar um discurso que seja capaz de sensibilizar o eleitor. A rejeição gigantesca do Lula e do Bolsonaro mostra que tem uma avenida promissora do centro. Isso é muito mais importante do que dizer quem está na frente. A preferência do eleitor vai mudando, e a eleição ainda não está no radar das pessoas”, afirmou ele a VEJA.
“Se houver o consenso em torno de um único nome, esse nome vai começar a crescer naturalmente no início do próximo ano. Na hora que aparecer um rosto e uma proposta, isso vai derreter o Bolsonaro, porque a turma que vota nele está insatisfeita e em busca de um candidato”, declarou.
De olho em que político poderia sintetizar os interesses e preocupações também de uma parcela do empresariado, o grupo Parlatório começa a realizar a partir deste domingo (20) seminários com o que tem chamado de “articuladores” da terceira via. Sob curadoria do ex-presidente Michel Temer, serão convidados a falar os governadores João Dória e Eduardo Leite, do PSDB, o ex-juiz Moro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o senador Tasso Jereissati. A primeira rodada de debates está agendada para a noite deste domingo e terá Jereissati como protagonista. Fazem parte do grupo de discussões Parlatório gigantes como Jorge Gerdau, Abílio Diniz, Elie Horn, Rubens Menin, além de artistas, pensadores e dirigentes dos maiores hospitais do país.