Safra de grãos compensou queda nas exportações de ferro
Por Wellton Máximo
O bom desempenho da safra de grãos e a recuperação das exportações de carne fizeram o superávit da balança comercial dobrar em outubro. No mês passado, o país exportou US$ 3,921 bilhões a mais do que importou – alta de 90% em relação ao registrado em outubro do ano passado, de US$ 2,064 bilhões. Esse é o terceiro melhor resultado para o mês, só perdendo para outubro de 2020 e de 2018.
De janeiro a outubro, a balança comercial acumula superávit de US$ 51,64 bilhões. Isso representa 11,7% a menos que o registrado nos mesmos meses do ano passado. Apesar do recuo, o saldo é o segundo melhor da história para o período, perdendo apenas para os dez primeiros meses de 2021, quando o superávit tinha fechado em US$ 58,504 bilhões.
No mês passado, o Brasil vendeu US$ 27,299 bilhões para o exterior e comprou US$ 23,378 bilhões. Tanto as importações como as exportações bateram recorde em outubro, desde o início da série histórica, em 1989. As exportações subiram 27,1% em relação a outubro do ano passado, pelo critério da média diária. As importações, no entanto, aumentaram em ritmo maior, 19,8% na mesma comparação.
No caso das exportações, o recorde deve-se mais ao aumento dos embarques do que dos preços internacionais das mercadorias e do que do volume comercializado. No mês passado, o volume de mercadorias exportadas subiu em média 14,4% na comparação com outubro do ano passado, enquanto os preços médios aumentaram 5,7%.
A valorização dos preços das mercadorias vendidas para o exterior poderia ser maior não fosse a queda do minério de ferro, cuja cotação caiu 33,9% na mesma comparação, e por produtos semiacabados de ferro ou de aço, cujo preço recuou 26%, por causa dos lockdown na China, que reduziram a demanda internacional.
Nas importações, a quantidade comprada subiu 6,7%, refletindo a recuperação da economia, mas os preços médios aumentaram em ritmo mais intenso: 11,1%. A alta dos preços foi puxada principalmente por adubos, fertilizantes, petróleo, carvão mineral e trigo, itens que ficaram mais caros após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Setores
No setor agropecuário, o aumento do volume embarcado, provocado pela safra de grãos, pesou mais nas exportações. O volume de mercadorias embarcadas avançou 49,7% em outubro na comparação com o mesmo mês de 2021, enquanto o preço médio subiu 24,3%. Na indústria de transformação, a quantidade exportada subiu 16,1%, com o preço médio aumentando 8,3%.
Na indústria extrativa, que engloba a exportação de minérios e de petróleo, a quantidade exportada caiu 8,4%, e os preços médios recuaram 15,4% em relação a outubro do ano passado.
O petróleo bruto, que até o mês passado puxava o aumento das exportações, ficou estável, com o volume exportado caindo 0,1% e os preços subindo 0,6%. Isso ocorre porque a cotação do petróleo começou a disparar no último trimestre do ano passado, quando a economia global se reaqueceu com o avanço da vacinação contra a covid-19.
Os produtos com maior destaque nas exportações agropecuárias foram milho não moído, exceto milho doce (468%), café não torrado (53,9%) e soja (52,5%) na agropecuária. O destaque negativo foram produtos hortícolas, cujas exportações caíram 27,9% de outubro do ano passado a outubro deste ano.
Na indústria extrativa, os maiores crescimentos foram registrados nas exportações de carvão mineral não aglomerado (137.845%), outros minerais brutos (138,2%) e minério de cobre e concentrados (22,2%). Na indústria de transformação, as maiores altas ocorreram na carne bovina fresca (173,5%), nos açúcares e melaços (90,6%), farelos de soja, farinhas de carnes e de outros animais (69,1%).
Quanto às importações, os maiores aumentos foram registrados nos seguintes produtos: látex e borracha natural (37,6%), frutas e nozes (21,1%) e cevada não moída (15,8%), na agropecuária; petróleo bruto (325,1%) e fertilizantes (149,8%), na indústria extrativa; e combustíveis (22,6%), válvulas e tubos termiônicos (59,7%) e compostos organo-inorgânicos (71,4%), na indústria de transformação.
Em relação aos adubos e aos fertilizantes, o crescimento nas importações decorre inteiramente do preço, que subiu 29,4% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado. O volume importado caiu 36,6% por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Estimativa
Em outubro, o governo reduziu para US$ 55,4 bilhões a estimativa de superávit comercial neste ano. Apesar da queda na estimativa, esse valor garantiria o segundo maior superávit comercial da série histórica. O saldo seria menor apenas que o superávit de US$ 61,407 bilhões observados no ano passado.
As estimativas oficiais são atualizadas a cada 3 meses. As previsões estão mais pessimistas que as do mercado financeiro. O boletim Focus, pesquisa com analistas de mercado divulgada toda semana pelo Banco Central, projeta superávit de US$ 58,6 bilhões neste ano.
Bolsonaro agradeceu votos recebidos
Por Pedro Rafael Vilela
Pela primeira vez, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou sobre os resultados das eleições, na tarde desta terça-feira (1º), no Palácio do Alvorada, residência oficial. A manifestação ocorreu dois dias depois da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito pela terceira vez para a Presidência da República no domingo (30).
Bolsonaro apareceu, num púlpito previamente preparado, acompanhado por diversos ministros do seu governo e aliados políticos. Foram pouco mais de dois minutos de uma declaração lida, em que o presidente agradeceu pela votação recebida, sem citar o presidente eleito. Ele também comentou sobre as manifestações de apoiadores que estão bloqueando rodovias em diversos estados do país. Os bloqueios têm causado uma série de prejuízos, como transporte de oxigênio hospitalar e desabastecimento de aeroportos.
"Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no ultimo dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição do patrimônio e direito de ir e vir", afirmou.
Com 100% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula obteve 60,3 milhões de votos, o que corresponde a 50,90% dos votos válidos. Já o presidente Jair Bolsonaro ficou com 49,10% dos votos, somando 58,2 milhões de sufrágios.
Bolsonaro também afirmou que vai cumprir a Constituição Federal e mencionou sua condição de líder de milhões de brasileiros. "Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira".
Transição
Após ler o discurso, Bolsonaro deixou o salão central do Palácio do Alvorada com sua equipe e, em seguida, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, fez uma declaração complementar sobre a transição de governo.
"O presidente Jair Messias Bolsonaro me autorizou, quando for provocado, com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição. A presidente do PT [Gleisi Hoffmann], segundo ela em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira [3] será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin [como coordenador da equipe de transição do governo eleito]. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei no nosso país", informou.
Alckmin foi anunciado nesta terça-feira como coordenador da equipe de transição. Outros nomes serão definidos nos próximos dias, envolvendo integrantes de partidos da coligação de Lula.
STF
Em nota divulgada no final da tarde, o Supremo Tribunal Federal (STF) destacou a importância do pronunciamento de Bolsonaro.
“O Supremo Tribunal Federal consigna a importância do pronunciamento do presidente da República em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios e, ao determinar o início da transição, reconhecer o resultado final das eleições”, declarou a Corte.
Após o pronunciamento no Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi ao Supremo e se encontrou com a presidente da Corte, ministra Rosa Weber, e mais seis ministros. O presidente estava acompanhado do ministro da Economia, Paulo Guedes. A reunião ocorreu a portas fechadas e durou cerca de uma hora.
Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, a reunião foi uma visita institucional feita por Bolsonaro em que foi destacada “a importância da paz e harmonia para o bem do Brasil”.
Também participaram da reunião os ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux, Edson Fachin, Nunes Marques, André Mendonça e Alexandre de Moraes.
Em seu primeiro pronunciamento após a derrota, presidente pediu fim de manifestações violentas
Por: Rafaela Vivas
Em seu primeiro pronunciamento após as eleições -- feito na tarde desta 3ª feira (1º.nov), quase dois dias após a proclamação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) --, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que continuará "cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição".
Em uma fala rápida, de menos de 2 minutos, ainda agradeceu os 58 milhões de votos e defendeu as mobilizações de caminhoneiros que fecham rodovias em todo o país. "Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça". Bolsonaro pediu, contudo, que as manifestações sejam pacíficas e disse que atos violentos são "da esquerda".
"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", afirmou, sem citar o nome do presidente eleito, Lula.
O presidente ressaltou que a direita ganha força no Brasil e que acredita que ela veio pra ficar. "A direita sirgiu de verdade no nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra força dos nossos valores: Deus, pátria, famíla e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca, somos pela Ordem e pelo Progresso. Mesmo enfrentando todo o sitema superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra", disse Bolsonaro.
Ele repetiu que, "apesar de ser rotulado como antidemocrático, sempre joguei nas quatro linhas da Constituição". Disse que nunca falou em regulação ou controle de mídia ou redes sociais e que enquanto for presidente vai continuar cumprindo as regras da Lei Maior do País e "todos os mandamentos da Constituição".
Bolsonaro afirmou que é uma honra "ser o líder de milhões de brasileiros que defendem a liberdade econômica, liberdade religiosa, liberade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da bandeira".
O pronunciamento foi no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, em Brasília. Foi a primeira manifestação pública de Bolsonaro desde o resultado das eleições presidenciais no domingo (30.out), quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi declarado presidente eleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tradicionalmente, candidatos derrotados fazem declaração pública após divulgação do resultado e telefonam para o eleito.
Apagão no Planalto
O mandatário estava acompanhado de ministros palacianos, aliados e ex-ministros de seu governo. Ele falou ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), do filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), do deputado federal Helio Lopes (PL-RJ), que já foi conhecido por Hélio Negão e é amigo de longa data do presidente, e do candidato à vice na chapa à reeleição, general Braga Netto (PL).
Bolsonaro entrou sorrindo, ao lado de assessores e se mostrava tranquilo. Ele começou a falar às 16h38, quase duas horas depois de a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República ter enviado uma comunicação aos jornalistas avisando que o presidente faria um pronunciamento "em instantes" no Palácio da Alvorada.
Minutos antes do mandatário dar início ao pronunciamento, o tempo fechou na capital do país. Um apagão atingiu a área central de Brasília e o Alvorada ficou às escuras por pelo menos 20 minutos. A queda de energia também atingiu várias cidades do Distrito Federal.
Alexandre de Moraes determinou que PRF e PMs deverão cumprir a decisão
Por Agência Brasil
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou hoje (31) o total desbloqueio das rodovias federais que registraram paralisações de caminhoneiros.
Pela decisão, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as policias militares estaduais deverão cumprir a decisão e garantir total trafegabilidade do trânsito de veículos.
Para Moraes, as paralisações “desvirtuam o direito constitucional de reunião”.
“O quadro fático revela com nitidez um cenário em que o abuso e desvirtuamento ilícito e criminoso no exercício do direito constitucional de reunião vem acarretando efeito desproporcional e intolerável sobre todo o restante da sociedade, que depende do pleno funcionamento das cadeias de distribuição de produtos e serviços para a manutenção dos aspectos mais essenciais e básicos da vida social”, afirmou o ministro.
Ontem (30), após o anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República em segundo turno, grupos de caminhoneiros iniciaram bloqueios em diversos pontos do país.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) está sendo aconselhado por ministros e militares a reconhecer o quanto antes o resultado da eleição presidencial e evitar o acirramento do clima de conflito no País
Por André Borges e Daniel Weterman
Interlocutores dizem que Bolsonaro se sente injustiçado, mas indicou que irá aceitar a derrota para o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo apurou o Estadão, Bolsonaro disse ter consciência de que um movimento dele em contrário pode deflagrar uma reação incontrolável por parte de seus apoiadores mais radicais. O presidente segue em silêncio 24 horas após ser derrotado na eleição.
O discurso com a manifestação presidencial vem sendo redigido pelo próprio Bolsonaro. A demora em falar publicamente sobre a eleição está ligada a dificuldade de Bolsonaro de assimilar a derrota. O presidente não conseguiu dormir à noite e hoje dava sinais de cansaço.
Bolsonaro estaria atuando pessoalmente junto ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Bruno Bianco, para buscar uma solução para os protestos dos caminhoneiros que bloquearam pelo menos 70 pontos de rodovias pelo País. A AGU indicou que a Polícia Rodoviária Federal pode atuar para desobstrução das estradas sem necessidade de autorização judicial.
O efeito de um discurso do presidente reconhecendo a derrota pode arrefecer o movimento dos caminhoneiros. Mas Bolsonaro afirmou a interlocutores que não tem como assegurar que será sua manifestação terá o mesmo efeito entre os mais radicais. Esse grupo, contudo, é bem menor.
O silêncio de Bolsonaro incomodou aliados, incluindo representantes do agronegócio, bancada ruralista e governadores eleitos. A falta de uma declaração reconhecendo o resultado é vista como um sinal de autorização para manifestações de rua e bloqueios em rodovias. Esse grupo avalia que é preciso seguir em frente e fazer a transição de governo de forma pragmática. O governador eleito em Santa Catarina, senador Jorginho Mello, um dos aliados mais próximos de Bolsonaro no Congresso, criticou as manifestações de eleitores do atual presidente no Estado. “Quebradeira não constrói nada”, disse o governador eleito, que não conseguiu conversar com Bolsonaro após o resultado.
O sentimento de injustiça que atinge o presidente, como mostrou o Estadão, parte da percepção dele de que perdeu a eleição por medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As duas cortes proferiram decisões para exigir a garantia do transporte gratuito de eleitores no segundo turno. No entendimento de Bolsonaro, isso acabou beneficiando o petista Lula com redução da abstenção no dia da votação.
Durante a campanha eleitoral, o TSE determinou a retirada de centenas de postagens de apoiadores de Bolsonaro e que foram consideras pela Corte como fake news. Na última semana de campanha, Bolsonaro chegou a perder boa parte das inserções (peças publicitárias de 30 segundos de duração). Como mostrou o Estadão, a campanha petista adotou estratégia de exigir a retirada de postagens de Bolsonaro e seus seguidores. Já a defesa do presidente, no início da campanha, entrou com menos pedidos de retirada de conteúdo.