Ministério da Educação divulgou nesta sexta-feira (11) dados conforme Indicador Criança Alfabetizada
Por Heloísa Noronha
O MEC (Ministério da Educação) divulgou nesta sexta-feira (11) dados coletados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) sobre os índices da alfabetização de crianças em 2024.
Segundo o levantamento, 11 estados atingiram a meta de 60% de crianças alfabetizadas projetada para 2024 (em relação a 2023): Ceará, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso, Piauí, São Paulo, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Sergipe.
Já Rio Grande do Sul, Amazonas, Bahia, Paraná, Pará e Rondônia tiveram desempenho pior do que em 2023. De acordo com Camilo Santana, ministro da Educação, esses estados estão tendo um acompanhamento priorizado para a recuperação dos dados.
De modo geral, o Brasil aumentou o número de crianças de até 7 anos alfabetizadas em 2024, mas não atingiu a meta de 60% dos alunos na faixa etária estabelecida pelo governo federal. Os últimos números indicam que 59,2% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental são capazes de ler e escrever textos simples. Em 2023, este índice era de 56%.
Segundo o ministro da Educação, as enchentes que acometeram o Rio Grande do Sul no ano passado causaram o descumprimento da meta de alfabetização do país. A tragédia levou o índice de alfabetização do estado desabar de 63,4%, em 2023, para 44,7% em 2024.
Levantamento
O levantamento contou com a participação de 2 milhões de alunos de 42 mil escolas em 5.450 municípios brasileiros. O único estado que não participou da avaliação foi Roraima, sob a justificativa de que 40% das escolas estão em territórios indígenas.
Os dados seguem o Indicador Criança Alfabetizada, que define que os alunos até o 2º ano do Ensino Fundamental precisam ter capacidade de ler pequenos textos, localizar informações em textos curtos, compreender tirinhas e quadrinhos e escrever, mesmo que com alguns desvios ortográficos.
No ano passado, o MEC estabeleceu a meta de que todos os estados cheguem a 80% das crianças alfabetizadas até 2030.
Confira os índices de alfabetização em 2024 por estado em %:
Acre: 51,4
Alagoas: 48,6
Amapá: 46,6
Amazonas: 49,2
Bahia: 36,0
Ceará: 85,3
Distrito Federal: 59,1
Espírito Santo: 71,7
Goiás: 72,7
Maranhão: 59,6
Mato Grosso: 60,6
Mato Grosso do Sul: 55,9
Minas Gerais: 72,1
Pará: 48,2
Paraíba: 56,0
Paraná: 70,4
Pernambuco: 60,8
Piauí: 59,8
Rio de Janeiro: 55,3
Rio Grande do Norte: 39,3
Rio Grande do Sul: 44,7
Rondônia: 62,6
Roraima: dados não foram coletados
Santa Catarina: 62,0
São Paulo: 58,1
Sergipe: 38,4
Tocantins: 50,1
Medida é necessária para que Brasil operacionalize possíveis respostas ao tarifaço anunciado por Donald Trump
Por Paola Cuenca
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que o decreto presidencial que definirá a regulamentação da Lei da Reciprocidade Econômica "deve estar saindo amanhã ou terça-feira". A fala do também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços ocorreu na manhã deste domingo (13) após evento de inauguração de um viaduto na cidade de Francisco Morato, na Grande São Paulo.
A Lei de Reciprocidade Econômica foi sancionada em abril deste ano, mas ainda aguarda a regulamentação. A medida é necessária para que órgãos internos do governo tenham prazos e regras para implementação das possíveis respostas que podem ser adotadas em relação ao tarifaço anunciado por Donald Trump na última quarta (9). Em carta endereçada a Lula e publicada nas redes sociais, o presidente norte-americano escreveu que tarifas de 50% serão aplicadas em todos os bens brasileiros que acessarem o país a partir de 1º de agosto.
O governo ainda não definiu quais serão as ações tomadas. Neste domingo, Alckmin reforçou que o principal objetivo ainda é o de derrubar a implementação das taxas.
"O governo vai trabalhar no sentido de reverter esta taxação porque entendemos que ela é inadequada, além de recorrer à Organização Mundial do Comércio. Com o Brasil, os Estados Unidos tem superávit [ou seja, exportam mais do que importam]. Além disso, dos 10 produtos que eles mais exportam para nós, oito não tem imposto. Não tem sentido esta tarifa. Ela prejudica também o consumidor norte-americano", pontuou.
Em evento de entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida em Salvador, capital da Bahia, neste domingo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), também comentou as articulações internas em andamento.
“Nós instituímos um grupo de trabalho formado pela Casa Civil, [Ministério da] Fazenda, a SRI [Secretaria de Relações Institucionais] e o Ministério da Indústria e Comércio. Ao longo da semana, nós vamos fazer o decreto de regulamentação da Reciprocidade e vamos analisar e preparar as medidas até o dia primeiro de agosto", declarou Rui Costa.
A Lei de Reciprocidade Econômica permite que o Brasil adote ações que criem resistência ou até neutralizem atitudes tomadas por outras nações ou blocos econômicos que prejudiquem a competitividade brasileira ou tentem interferir nas escolhas soberanas. Estas "contramedidas" podem se expressar na aplicação de tarifas e taxas extras a produtos importados, restrição a importações de bens e serviços, suspensão de benefícios tanto comerciais quanto de investimentos, além da suspensão de obrigações previstas em acordos de comércio internacional e em direitos de propriedade intelectual, como patentes de medicamentos.
Em paralelo às articulações internas, Alckmin ainda afirmou que o governo irá se reunir com os setores privados mais prejudicados pelo tarifaço, entre eles o agronegócio. Rui Costa também comentou que o governo já trabalha com planos B. "Nós vamos buscar abrir outros mercados de outros países para colocar nossos produtos. E eventualmente, repito, se essa taxa se mantiver, nós vamos aplicar a reciprocidade com várias medidas", concluiu.
Presidente norte-americano decidiu aplicar uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros
Por Giovana Cardoso
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos do Brasil pelos Estados Unidos vem gerando incertezas na economia e no comércio exterior no país. Apesar de serem limitadas as chances do governo brasileiro de conseguir substituir o mercado americano de forma equivalente, especialistas acreditam que a medida de Donald Trump poderia facilitar a aceleração de acordos entre Brasil, Mercosul e países asiáticos.
Parcerias com outras nações seriam uma forma de compensar a tarifa imposta pelos EUA. Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, no curto prazo, o Brasil teria dificuldade de redirecionar toda a produção exportada aos EUA. Entretanto, poderia trabalhar para acordos com Índia e Indonésia, além de aprofundar relações com Mercosul, África e Oriente Médio.
“Países com potencial parcial de absorção incluem China, Índia, Vietnã, Indonésia, Emirados Árabes, México e países da Europa. Nenhum deles, isoladamente, tem escala para substituir o mercado americano de forma equivalente”, comenta.
Outros mercados
Para Rodrigo Provazzi, especialista em gestão de risco e governança corporativa, a diversificação de mercados pode ser uma das soluções para que o Brasil não dependa tanto dos norte-americanos. Neste caso, a alternativa compensatória poderia ser intensificar relações comerciais com países da Ásia, Europa e do Oriente Médio, uma vez que essas nações demonstram “apetite” por produtos brasileiros, especialmente commodities agrícolas e minerais.
Provazzi acredita que a triangulação logística também seria uma opção para o Brasil. Neste caso, o país poderia exportar para nações com acordos comerciais mais favoráveis com os EUA, que, por sua vez, reexportariam os produtos brasileiros.
“Essa prática exige uma análise criteriosa de custos logísticos, regras de origem e compliance regulatório, mas pode ser eficaz em setores específicos”, explica.
Tarifas anunciadas por Trump em julho
Luce Costa/Arte R7
Na opinião do especialista Jackson Campos, um acerto entre Mercosul e União Europeia seria inviável neste momento, principalmente por causa da aproximação entre o governo argentino e os Estados Unidos. “A opção seria o Brasil procurar um acordo diretamente com a UE, mas que tem poucas chances de prosperar”, ressalta.
A parceria entre Mercosul e União Europeia — que envolve a formação de uma das maiores áreas de livre comércio do mundo — busca diversificar mercados comerciais e promover um maior fluxo de investimentos. A expectativa é que o acordo fomente o comércio, impulsione economias e alinhe padrões regulatórios entre os blocos.
Para o coordenador de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, a indisposição entre Brasil e Estados Unidos aumenta a pressão para a assinatura do acordo.
“No entanto, a UE não deve adotar um posicionamento muito crítico aos EUA sobre as novas tarifas contra o Brasil”, opina Franco.
Via diplomática
Na última sexta-feira, Trump sinalizou que uma eventual negociação com o Brasil sobre a taxação não será imediata: “Em algum momento, vou conversar, mas não agora.”
Jackson Campos entende que ainda há espaço para reverter o tarifaço por uma via diplomática, focando em conversas bilaterais que mostrem os prejuízos econômicos mútuos.
“Pode ainda envolver empresas americanas que dependem do Brasil para pressionar internamente. Também é possível recorrer a fóruns, como o G20 ou a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), para apoio político, já que a OMC está esvaziada. Negociações podem ocorrer por meio de visitas oficiais, envio de missões técnicas, articulação com embaixadas e atuação conjunta com o setor privado para influenciar congressistas americanos”, elenca o especialista.
Em relação aos prejuízos ao Brasil provocados pela taxação de Trump, Rodrigo Provazzi entende que é possível haver compensações. Entretanto, elas dependerão de uma ação coordenada entre o governo brasileiro, o setor privado e instituições de comércio exterior.
“O Brasil já possui uma base diversificada de parceiros comerciais, e há espaço para crescimento em mercados como Índia, Indonésia, Vietnã e países africanos. No entanto, é importante destacar que a substituição do mercado norte-americano não é imediata. A compensação é possível, mas requer estratégia, resiliência e visão de longo prazo”, completa.
O Brasil chegou a um ponto de inflexão. Pressionado por ameaças externas e consumido por uma crise política interna que se aprofunda a cada semana, o país precisa reafirmar dois pilares inegociáveis, sua soberania e a democracia
Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues
Nesta semana, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de mais de 50% sobre os produtos brasileiros, acendeu um alerta que vai muito além da economia. Trata-se de uma agressão à soberania nacional. E não há margem para ambiguidade. Quem relativiza esse ataque, sob qualquer pretexto político, coloca interesses estrangeiros acima do Brasil.
A medida de Trump, anunciada como uma reação ao tratamento dado pelas instituições brasileiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro, não é apenas injusta, é perigosa. Como afirmou com firmeza o deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos), “os Estados Unidos não punem a esquerda. Punem o Brasil. Punem o agro, punem o empresariado, punem a economia inteira”. Já o deputado Alexandre Guimarães destacou que a decisão rompe uma relação histórica entre os dois países e não pode ser respondida com silêncio ou submissão: “O povo brasileiro não pode pagar por discursos e egos”.
Essas manifestações revelam que a defesa do país deve estar acima das disputas partidárias. Mesmo durante a ditadura militar, os Estados Unidos jamais impuseram retaliação econômica dessa magnitude. É preciso dizer com todas as letras que a soberania brasileira não está à venda, nem pode ser instrumentalizada por nenhuma potência estrangeira.
Mas enquanto enfrentamos essa ofensiva externa, o cenário doméstico parece incapaz de construir respostas firmes e unificadas. A radicalização política, que transformou o Brasil em um campo de batalha entre polos irreconciliáveis. A polarização entre lulistas e bolsonaristas contaminou o Congresso Nacional, degradou o debate público e transformou a sucessão presidencial e as eleições estaduais em guerras ideológicas, sem espaço para o diálogo.
Em meio a esse clima beligerante, crescem os ataques às instituições. O ex-deputado Eduardo Bolsonaro, por exemplo, voltou a sugerir um projeto de anistia para as pessoas envolvidas na situação de 8 de janeiro. A fala é mais uma fagulha num ambiente já inflamado, que pode estimular a desinformação.
Diante disso, o Poder Judiciário assume o papel de fiador das regras do jogo democrático. Em uma fala emblemática, o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi direto.“Nenhuma outra democracia contemporânea enfrentou uma tentativa de golpe de Estado em plena luz do dia (...), uma campanha colossal de desinformação, ataques virulentos à honra de magistrados, incluindo planos de assassinato arquitetados por grupos extremistas. Essas singularidades definem o momento histórico da democracia combativa brasileira, quando a defesa irredutível de preceitos constitucionais se transforma em imperativo civilizatório.”
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para setembro, será o ponto mais alto dessa tensão. Apesar de inelegível, Bolsonaro continua sendo uma das duas principais lideranças políticas do país, ao lado do presidente Lula. Ambos carregam milhões de seguidores fiéis e polarizam o país como nunca antes. O julgamento não será apenas jurídico será também um teste institucional, social e de segurança pública.
É nesse contexto que se torna imprescindível um planejamento de segurança à altura do momento histórico. Por isso, será necessário o maior esquema integrado de proteção já montado no Brasil, não para defender governos, mas para proteger a legalidade e a democracia.
O Brasil precisa de estadistas, não de incendiários. Precisa de firmeza no enfrentamento externo e de sabedoria interna para não se deixar consumir pelo caos. A reflexão deste domingo é clara, ou nos unimos para proteger o que é de todos, a soberania e a democracia ou perderemos ambos, um para o estrangeiro, outro para o conflito interno.
Cabe às lideranças em Brasília, no Tocantins e em todos os estados brasileiros fazer escolhas que honrem o país. A história cobrará não apenas os atos, mas também os silêncios.
Especialistas veem falhas na condução externa do governo e alertam para riscos à economia após tarifas americanas
Com portal Do R7
A decisão dos Estados Unidos de elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump, acendeu um alerta entre especialistas em comércio internacional e diplomacia.
A medida é interpretada como resposta direta à orientação ideológica da política externa brasileira — vista, por muitos, como descolada da realidade geopolítica e econômica global.
Segundo o advogado Marcelo Godke, especialista em direito internacional empresarial, a diplomacia brasileira perdeu rumo e hoje opera sem direção clara.
“Nosso posicionamento internacional virou uma colcha de retalhos. O país se alinha por afinidade ideológica, sem avaliar os impactos. No fim, estamos do lado errado da história, isolados de parceiros que valorizam liberdade e crescimento sustentável”, afirma.
Godke acredita que a retaliação tarifária é consequência de anos de tensionamento com os Estados Unidos. “Agora, o Brasil colhe o resultado de uma postura que desprezou as relações com as grandes economias ocidentais”, aponta.
Postura hostil
A crítica é compartilhada por Luís Garcia, tributarista e sócio do Tax Group. Para ele, o governo contribuiu para o desgaste com Washington ao adotar uma postura hostil desde o início da atual administração.
“A sinalização contrária aos Estados Unidos começou bem antes da eleição de Trump. A insistência em discursos confrontativos, especialmente nas cúpulas dos Brics, tornou inevitável a reação do governo norte-americano. O resultado é esse: prejuízo comercial e diplomático”, resume.
Trump vinculou publicamente as tarifas ao processo judicial contra Jair Bolsonaro, atitude considerada “inaceitável” por Brasília. No entanto, o gesto expôs também uma fragilidade diplomática crescente, segundo o advogado Marcelo Censoni.
Para ele, a postura atual reduziu a confiabilidade do Brasil como parceiro. “Perdemos espaço e influência. Precisamos reconstruir pontes institucionais com maturidade e pragmatismo. Reagir com agressividade só agravará os danos”, diz.
“O agro e a indústria de base exportadora estão no centro da tempestade. Sem alternativa jurídica para contestar a decisão, o governo precisa agir com inteligência estratégica. O risco é entrar num ciclo de retração e perda de competitividade global”.
Apesar do tom crítico, os analistas são unânimes em apontar o caminho para contenção dos danos: diplomacia ativa, reposicionamento internacional e busca por consensos.
“Enfrentar a maior economia do planeta com retórica ideológica não serve ao interesse nacional. É hora de recuperar o canal de diálogo e proteger o que realmente importa: o desenvolvimento do país”, conclui Godke.