Buscando apoio para a proposta, presidente faz maratona nesta terça-feira (22) com almoço com governadores e jantar com deputados da base aliada
Com Agência Câmara e NBR
Com a proximidade do recesso parlamentar, que começa oficialmente no dia 23 de dezembro, o presidente Michel Temer (PMDB) tem nesta quarta-feira (22) uma maratona de reuniões em busca de apoio para a aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano.
Temer recebe no Palácio da Alvorada governadores de estados e do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que foi o responsável por articular a reunião desta tarde. A expectativa é de que, ao lado dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Ronaldo Nogueira (Trabalho) e do secretário nacional da Previdência, Marcelo Caetano, Temer apresente números e reforce a importância das alterações nas regras para a aposentadoria para todos os entes da União. Também participam da reunião o relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA) e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
A busca pelo apoio dos chefes do poder Executivo nos estados também envolve o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). O parlamentar destacou nesta manhã que "estados e municípios também enfrentam distorções no sistema previdenciário", exaltando que prefeitos e governadores, assim como o governo federal, se veem obrigados a retirar recursos de outras áreas para cobrir despesas com a aposentadoria.
“Precisamos esclarecer à sociedade de que vamos acabar com essa sangria onde os que ganham menos trabalham até os 65 anos e financiam os que ganham perto do teto porque esses trabalham na sua maioria até 54 anos”, disse Maia. “Ninguém está exigindo nenhum excesso. Acho que é uma proposta bem amena. Se não fizermos nada, os próximos governos vão ser obrigados a cortar salários e aposentadorias ou a inflação vai acabar tirando o valor do salário dos brasileiros”, defendeu o democrata.
Agenda cheia Ainda nesta terça-feira, Temer e Maia participam de jantar com deputados da base aliada e com economistas e especialistas em previdência para tentar convencer os parlamentares a votar a proposta de reforma.
Antes disso, Temer ainda dará posse ao novo ministro das Cidades, Alexandre Baldy (sem partido-GO), que foi indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para substituir o tucano Bruno Araújo . Baldy deixou o Podemos na última segunda-feira e deve ingressar no PP neste sábado (25).
Considerada "fundamental" pelo Planalto para atingir o equilíbrio fiscal nas contas do governo, a reforma da Previdência está pronta para votação no plenário da Câmara desde maio deste ano, mas estagnou devido à crise política desencadeada pelas doações de executivos da JBS. Para ser aprovada na Casa, é necessário o apoio de ao menos 308 deputados, em duas votações. A expectativa do governo é de aprovar a matéria, ao menos na Câmara, ainda neste ano.
Na forma adotada, o eleitor vota duas vezes: uma vez em um candidato de seu distrito e outra no partido de sua preferência
Com Agência Senado
O Plenário aprovou nesta terça-feira (21) dois projetos de lei do Senado (PLS) que instituem o voto distrital misto nas eleições proporcionais. As regras valem para a escolha de vereadores e deputados estaduais, distritais e federais.
O PLS 86/2017, do senador José Serra (PSDB-S), e o PLS 345/2017, do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), tramitavam em conjunto. Os projetos foram relatados em Plenário pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e agora seguem para a Câmara dos Deputados.
O sistema distrital misto combina o voto proporcional com o distrital. De acordo com a proposta, o eleitor vai fazer duas escolhas na urna: o candidato de seu respectivo distrito e o partido de sua preferência.
As cadeiras das casas legislativas serão preenchidas primeiramente pelos candidatos eleitos pelo voto distrital. Esgotadas essas vagas, as cadeiras remanescentes serão distribuídas entre candidatos dos partidos mais bem votados.
De acordo com o texto, o número de representantes distritais deve corresponder à metade do número de cadeiras de cada circunscrição, arredondando-se para baixo no caso de números fracionários. Por exemplo: no caso de um estado com nove cadeiras de deputado federal, quatro serão escolhidos na modalidade do voto distrital.
A proposta delega à Justiça Eleitoral a missão de demarcar os distritos, que precisam ser geograficamente contíguos. A divisão deve seguir como critério o número de habitantes.
O relator, senador Valdir Raupp, apresentou uma emenda para eliminar a figura do suplente para os candidatos a cargos proporcionais. Outra emenda estabelece que, no caso dos vereadores, o voto distrital vale apenas em municípios com mais de 200 mil eleitores.
Debates
Os projetos foram aprovados por 40 votos a favor e 13 contra. Para o senador Valdir Raupp, o voto distrital misto vai refletir melhor a escolha dos eleitores nas votações proporcionais.
– A legitimidade do nosso sistema político é declinante. A cidadania não se sente representada no Parlamento. Precisamos reformar a política para que ela deixe de ser o problema e passe a ser parte da solução da crise brasileira – afirmou.
Para o senador José Serra, as novas regras vão reduzir os custos das eleições e respeitar a proporcionalidade.
– O sistema atual custa em excesso e sub-representa em excesso. Quem é eleito em São Paulo precisa ter uma base de recursos altíssima e não representa os eleitores. Muitas vezes, eles nem lembram em quem votaram. Estamos dando um passo para fortalecer a legitimidade democrática do sistema eleitoral – disse.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) criticou a proposta. Para ele o assunto deveria ser tratado em uma proposta de emenda à Constituição (PEC), que exige um quorum qualificado para aprovação.
– Esse tema tem que ser discutido numa PEC. É uma forçação de barra gigantesca votar isso como projeto de lei. Vamos diminuir o espaço de representantes que defendam ideias e projetos. Vamos fortalecer uma lógica paroquial, com aquele deputado que vai fazer a intermediação de verbas com o governo de plantão – argumentou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) votou favorável a matéria, mas também se mostrou receoso quanto à constitucionalidade.
– O sistema proporcional como está fracassou. O distrital misto traz como principal qualidade as virtudes tanto do majoritário quanto do proporcional em uma só proposta. Sou favorável à matéria, mas tenho dúvida se podemos enfrentar esse tema que não seja por meio de uma PEC – afirmou.
O troca-troca de legendas e de ideologias partidárias faz do deputado federal e ex-governador uma incógnita eleitoral
Por Edson Rodrigues
Um político de várias ideologias e vertentes, Carlos Eduardo Gaguim ainda não conseguiu emplacar a sua volubilidade política no Tocantins e no Brasil.
Tendo passado por partidos como o PTB, PMDB, PMB, PTN e, agora o PODEMOS, Gaguim – surpresa! –, preparava sua filiação ao DEM, do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, de olho no “gordo” hor´rio político de rádio e TV da legenda, sem o consentimento da competente deputada federal Professora Dorinha Seabra, presidente do partido no Tocantins. Silenciosamente, a presidente do partido “tirou um ás da manga” ao suscitar a filiação do ex-governador Siqueira Campos, líder das pesquisas para o senado em 2018, à mesma legenda, o que “fechou a porta” para Gaguim e suas pretensões senatoriais.
Além desse revés de Gaguim, que, há tempos, sonha com a vaga no Senado, chora o fato de o prefeito de Palmas, Carlos Amastha e seu grupo político terem assumido o comando do atual partido de Gaguim.
Ainda falando sobre Amastha, Gaguim, segundo a mídia local, teria sido o idealizador de um projeto de Lei, protocolado e assinado por um parlamentar maranhense, que tem com cerne impedir que estrangeiros, com nacionalidade dupla, sejam candidatos ao Senado e ao Governo dos estados brasileiros.
Gaguim também já foi o torcedor mais animado da possível candidatura da senado Kátia Abreu ao governo do Estado, mas, agora, veste o uniforme da torcida do presidente da Assembleia, Mauro Carlesse.
PORTA DA ESPERANÇA
Se alguém ainda lembra daquele quadro do Programa Sílvio Santos, “Porta da Esperança”, em que um sujeito escolhia entre algumas portas, qual esconderia um bom prêmio, fará facilmente a associação com a atual situação de Carlos Gaguim. A quantidade de portas que ele tem batido não garante – e até dificulta – que ele consiga seu intento.
No PMDB, nada feito, pois a legenda está sob o total comando do governador Marcelo Miranda, que, sabiamente, não farão de um partido tão tradicional, uma espécie de “barriga de aluguel” para uma candidatura de Gaguim.
Além do mais, essa instabilidade ideológica do nobre deputado já jogou por terra suas pretensões de candidatura ao Senado, restando apenas a reeleição a deputado federal, o que é visto como ameaça por qualquer pretendente à candidato a deputado federal, de qualquer legenda, pois Gaguim ainda tem força política capaz de incomodar.
Logo, seria muito bom para Gaguim que o apresentador Luciano Huck, já que estamos falando em programas de televisão, mudasse o quadro do seu semanário de “quem quer ser um milionário”, para “Ghguim quer ser deputado”, fazendo uma série de perguntas e tentando achar, em meio às respostas, um linha ideológica ou uma motivação de trabalho que deixasse claro qual seria o papel de Gaguim na Câmara Federal.
Afinal, ser deputado federal apenas para ser deputado federal, não justifica uma eleição....
Rá ráááíiiiii!
Artigo do senador Ronaldo Caiado na Folha de S. Paulo
Ronaldo Caiado
É cada vez mais profundo o abismo entre o país real e o institucional. Enquanto a violência, nos meios urbano e rural, cresce de maneira assustadora, sem que o Estado se mova para contê-la, a agenda parlamentar inclui entre suas prioridades temas como abertura de cassinos, sucessão presidencial e reforma ministerial.
Mundos desconectados, sem diálogo, o que explica o contínuo desgaste das instituições perante a sociedade.
Não há exagero em afirmar que as instituições brasileiras vivem (e não é de hoje) no mundo da lua, alheias às demandas mais elementares da população.
A violência rural fica em segundo plano. O agronegócio é, há décadas, o sustentáculo da economia brasileira. Responde por mais de 30% dos empregos formais e é o responsável pelos sucessivos superavit na balança comercial. Neste momento de crise, carrega o país nas costas.
O Brasil é, hoje, com todos os contratempos ao produtor, o segundo exportador mundial de alimentos, só atrás dos EUA - e com um diferencial: temos potencial de crescimento.
Se hoje já alimentamos mais de 1 bilhão e meio de pessoas no planeta, temos condições de ampliar bem mais esse mercado. Isso, em circunstâncias normais, tornaria o setor prioritário, independentemente de qual corrente ideológica estivesse no poder.
Não é, porém, o que ocorre. No discurso dito progressista, o produtor rural é descrito como retrógrado, perverso, herdeiro das mais aviltantes tradições coloniais, cultor de práticas escravagistas e predador ambiental, entre outras aberrações.
É evidente que tal perfil contrasta enormemente com o fato de ser ele reconhecido mundialmente como um dos mais sofisticados, em ciência e tecnologia de ponta. Não há como conciliar os dois perfis.
O discurso ideológico quer criar condições políticas e morais para justificar as invasões criminosas que têm aumentado.
Stálin, quando quis estatizar a produção rural soviética, não hesitou em matar de fome, entre 1932 e 1933, 7 milhões de camponeses ucranianos, confiscando alimentos e fechando as fronteiras, em meio a um inverno de -30ºC.
Aqui, o processo, obviamente, é outro, mas o objetivo é o mesmo. Promovem-se, via milicianos do MST, invasões e depredações, de propriedades produtivas; reivindicam-se para os índios terras que estão há gerações nas mãos dos atuais proprietários, devidamente documentadas; impõem-se multas bem acima da capacidade de pagamento do produtor, além de aumentos escorchantes de impostos. Entre outras barbaridades.
Não há dúvida de que se postula a estatização do agronegócio, como etapa do projeto bolivariano, engendrado por Lula e seu exército vermelho, comandado por Stédile, que põe em risco a economia do país e a subsistência da população.
Há dias, assistimos a alguns episódios dessa natureza no Rio Grande do Sul e na Bahia. E o que fez o Estado? Aprofundou o processo de emissão de multas, aumentando a insegurança jurídica dos produtores. Nenhum miliciano invasor foi preso. Não se registrou nenhuma manifestação das autoridades do governo federal, empenhado em reformar o ministério para se manter no poder.
A bancada petista no Congresso, como é de praxe, inverteu o julgamento moral, considerando vítimas os agressores e vilões os agredidos. Na mídia urbana, o tema preponderante é a sucessão presidencial.
Enquanto o país real está à deriva, o institucional, voltado para o próprio umbigo, considera razoável cortar R$ 10 do salário mínimo para que o Orçamento do próximo ano tenha seu deficit reduzido.
ÉPOCA DESTACA A DELAÇÃO QUE VAI IMPLODIR GEDDEL. ISTOÉ FALA DO PERIGO BOLSONARO E VEJA TRAZ O “CASO PICCIANNI”
Da Redação
ÉPOCA
Ex-assessor implode Geddel e revela que ajudou a destruir provas contra o peemedebista e pode comprometer Temer
O assessor parlamentar Job Ribeiro Brandão, funcionário de confiança do ex-ministro Geddel Vieira Lima e de seu irmão Lúcio, deputado federal, foi convocado para uma missão delicada. Graças a um habeas corpus, Geddel, um líder do PMDB, ex-ministro do governo Temer e integrante do círculo de amigos mais próximos do presidente Michel Temer, havia deixado a penitenciária da Papuda, em Brasília, na noite de 13 de julho. De volta a Salvador para cumprir prisão domiciliar, Geddel tinha pressa. Preocupado com a possibilidade de as investigações da Operação Lava Jato o devolverem ao cárcere, Geddel incumbiu Job de destruir documentos, agendas e anotações. Assim fez Job. Papéis foram picotados e jogados na privada; outros documentos foram colocados em sacos de lixo e descartados. Estava limpo o terreno caso houvesse uma nova batida da Polícia Federal.
Mas memória não vai para o lixo. A operação secreta foi revelada por Job, em um depoimento inédito ao qual ÉPOCA teve acesso com exclusividade, e constitui um grave relato de interferência nas investigações, capaz de agravar a situação de Geddel. Job contou um pouco do que sabe ao delegado Marlon Cajado na Superintendência da Polícia Federal da Bahia, em Salvador, na terça-feira, dia 14, como uma mostra de boa vontade e disposição para firmar um acordo de delação premiada com a Lava Jato. A memória de Job é perigosa para Geddel e seu irmão Lúcio. Em prisão domiciliar desde setembro, o ex-assessor pretende tornar públicas suas lembranças para se livrar da pena.
Job foi alvo de prisão domiciliar porque suas impressões digitais foram identificadas nas notas poucos dias depois de a Polícia Federal descobrir a caixa-forte de Geddel num pequeno apartamento em Salvador. As imagens com malas cheias de dinheiro, mais exatamente com R$ 51 milhões, correram o mundo como prova desvergonhada de corrupção. Geddel voltou à Papuda, porque o apartamento fora emprestado a ele e ao irmão. Lúcio, no entanto, nada sofreu por estar protegido pelo foro privilegiado. Era óbvio que as impressões dos dedos de Job estariam na bufunfa. Contratado como assessor parlamentar, pago com dinheiro público, uma das principais atividades de Job sempre foi contar dinheiro para os Vieiras Lima, como ele mesmo diz.
Job teve uma longa história de relacionamento com a família. Começou a trabalhar como secretário parlamentar do patriarca Afrísio Vieira Lima, que também foi deputado federal, no fim da década de 1980. Depois, passou a ser assessor parlamentar de Geddel, entre 1991 e 2007, quando ele exerceu mandatos de deputado federal, e se tornou funcionário de Lúcio Vieira Lima em 2011. Job só foi exonerado por Lúcio, no mês passado, após se tornar um investigado. Com um histórico desses, tinha acesso direto e privou da intimidade dos Vieiras Lima.
Procurado, o advogado de Job, Marcelo Ferreira, confirma que seu cliente quer fazer delação premiada e estuda entrar com uma ação na Justiça pedindo ressarcimento dos valores de seu salário que eram devolvidos à família Vieira Lima. “Apesar de figurar nos registros da Câmara dos Deputados como secretário parlamentar, na prática as atividades de Job se resumiam aos interesses pessoais dos parlamentares e familiares, um verdadeiro empregado doméstico, refém das circunstâncias e obrigado a devolver a maior parte de seu salário, pago pelos cofres públicos”, diz o advogado.
A defesa da família Vieira Lima afirmou que não comentaria o caso, por não ter tido acesso ao depoimento de Job. “(Job) É uma pessoa que trabalhava pra gente há 30 anos, então não estou sabendo de muita coisa que ele está dizendo, aí eu não posso dar opinião não, só o advogado mesmo”, disse Marluce Vieira Lima. O deputado Lúcio Vieira Lima disse que só seu advogado poderia responder. A defesa de Geddel argumentou que as buscas no apartamento com os R$ 51 milhões foram ilegais porque partiram de denúncia anônima.
ISTOÉ
A ameaça totalitária
O deputado Jair Bolsonaro empreende um enorme esforço para suavizar seu perfil. Tenta vestir pele de cordeiro, mas não adianta. É um predador. Tornou-se conhecido exatamente pela truculência, pelos raivosos ataques às minorias, pelas ofensas às mulheres, aos homossexuais e pela defesa radical da tortura e dos regimes autoritários. Salta aos olhos sua verve flagrantemente totalitária – o parlamentar reage a críticas a coices de cavalo. Demonstra não admiti-las. A virulência com que contra-ataca qualquer reparo dispensado a ele é típica de quem não suporta ser fiscalizado. Imagine no poder? Como diria o filosofo espanhol Ortega & Gasset, parece faltar a Bolsonaro aquele fundo insubornável do ser. Ou seja, o mais íntimo pensamento na hora em que o indivíduo encara o seu reflexo no espelho e tenta reconhecer a própria face. Não raro, acusa os outros do que ele mesmo faz.
Até hoje, Bolsonaro conseguiu se eleger graças aos votos de pessoas aparentemente tão preconceituosas quanto ele. As que não o são, transmitem a impressão de estarem inebriadas pelo fenômeno eleitoral – os olhos vidrados e a postura quase catatônica de seu séquito, a entoar “mito, mito, mito” a cada aparição de Bolsonaro pelas capitais do País, falam por si. Nos últimos meses, o parlamentar aproveitou a crise de segurança e a escalada da corrupção para ampliar sua faixa de simpatizantes. Mais moderado, apresenta-se como o candidato ideal à Presidência para quem perdeu a confiança na política tradicional. Com isso, já aparece em segundo lugar nas pesquisas de opinião, atrás somente do ex-presidente Lula. Porém, que ninguém se engane. Bolsonaro significa um retrocesso para o Brasil. O pré-candidato leva Messias no nome, mas definitivamente não conduz o País para um bom caminho. Depois de um impeachment e de a Lava Jato arruinar a velha política e seus métodos condenáveis, as próximas eleições podem representar um momento de inflexão para o Brasil. Pelo menos é o que se espera. Sua candidatura, no entanto, é a antítese disso.
Comete erro grosseiro quem não dá importância à ascensão do ex-capitão do Exército. O País pode estar diante do ovo da serpente. Embora sua candidatura seja legítima, e algumas de suas ideias passíveis de estarem em debate numa campanha, uma eventual eleição de Bolsonaro representa uma grave ameaça aos preceitos republicanos e democráticos. Do ponto de vista político, será como manter o País sob um Fla-Flu constante. E, pior, debaixo de um tacape manejado por um troglodita desprovido de freios. Ele sabe que grassa no eleitorado um sentimento de desolação e, para chegar lá, joga exatamente para essa platéia. Por isso, tornou-se um fenômeno nas redes sociais, com mais de cinco milhões de seguidores, além de admiradores fieis. Trata-se, no entanto, de um mito com pés de barros.
As declarações de Bolsonaro costumam ser contraditórias e inconsistentes, um espelho de seu repertório raso. Mostram seu total despreparo para exercer altas funções no Executivo. Seu conhecimento sobre a economia brasileira é de uma superficialidade chocante para um homem com tantos anos de vida pública. Ele próprio admite que não entende nada do riscado. E diz que, se chegar à Presidência, bastará nomear um ministro da Fazenda que seja do ramo para ficar tudo certo. Quem conhece seu estilo centralizador, sabe que não é bem assim. Os próprios aliados reconhecem que delegar não é seu forte.
Em encontro com representantes do mercado financeiro, Bolsonaro deu demonstrações de sua ignorância a respeito de temas econômicos. Ao ser questionado sobre o que pretende fazer para reduzir a dívida pública, disse que chamaria todos os credores para conversar. Perpetrou um absurdo. Como se sabe, qualquer pessoa ou empresa pode comprar títulos da dívida pública. E o número de detentores de tais títulos é imenso. O deputado confundiu dívida pública com dívida externa, essa sim com número de credores palpável. Dias antes, em entrevista a Mariana Godoy, da RedeTV!, disse que os militares guindaram a economia brasileira à 8ª maior do mundo. “Dos cinco presidentes militares, nenhum era formado em economia, e ainda assim, elevaram o Brasil da 49ª para a 8ª economia mundial”. Convenientemente ou não, esqueceu-se que, na ditadura, a dívida externa explodiu e houve hiperinflação.
Diante das derrapadas em profusão na seara econômica, Bolsonaro recorreu à consultoria dos irmãos Abraham Weintraub e Arthur Weintraub. O primeiro foi diretor da corretora do Banco Votorantim e o segundo é advogado e doutor em direito previdenciário. Com o auxílio, Bolsonaro divulgou uma espécie de nova versão da lulista Carta aos Brasileiros. Nela, defendeu a independência do Banco Central, que sairia da Fazenda. “Com sua independência, tendo mandatos atrelados a metas/métricas claras e bem definidas pelo Legislativo, profissionais terão autonomia para garantir à sociedade que nunca mais presidentes populistas ou demagogos colocarão a estabilidade do país em risco para perseguir um resultado político de curto prazo”, justificou. Sua ideia, no entanto, não encontra respaldo entre economistas de mais estofo. Nem os de esquerda, nem os liberais.
As patetices de Bolsonaro chamaram a atenção de importantes veículos de comunicação internacionais. Na semana passada, edições dos conceituados “Financial Times” e “The Economist”, da Inglaterra, trouxeram pesadas críticas ao deputado. O FT comparou o deputado aos presidentes dos EUA, Donald Trump, e das Filipinas, Rodrigo Duterte: “Um demagogo de direita com pontos de vista radicais”. Para “The Economist”, Bolsonaro não é um “Messias”, como seu sobrenome do meio, mas sim um “menino muito travesso”. A revista descreve o deputado como ele é: um nacionalista religioso, anti-homossexual, favorável às armas e que faz apologia a ditadores que torturaram e mataram brasileiros entre 1964 e 1985. “Bolsonaro quer ser o Trump brasileiro”, constata “The Economist”.
Ainda não se sabe exatamente qual foi a reação de Jair Bolsonaro às críticas que recebeu do exterior. Mas uma coisa é certa: deve ter perdido totalmente a compostura. Foi assim que revidou o artigo da colunista Miriam Leitão, que questionou seu total despreparo para lidar com a economia. “Miriam Leitão, a marxista de ontem, continua a mesma. Seu lugar é no chiqueiro da história”, atacou o ex-capitão, com a cólera que lhe é peculiar. Em nenhum momento, porém, Bolsonaro entrou no mérito da questão. Não respondeu ao que interessa: sua flagrante limitação acerca de temas importantes para o País.
Que o pavio do deputado é curto não constitui novidade. Mas é visível seu esforço para se tornar mais palatável para o mercado financeiro e a elite empresarial. Em viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro fez juras de amor ao credo liberal e afirmou que vê com bons olhos a redução do peso do Estado na economia. Possivelmente, ludibriou quem não conhece sua atividade parlamentar. Os fatos, porém, desmentem sua profissão de fé privatista. Entre o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e os oito anos de Lula no poder, Bolsonaro votou sistematicamente em sintonia com as propostas do PT, incluindo projetos intervencionistas e outros que concederam incentivos fiscais ao setor privado, de acordo com as prioridades estatais. Ele só passou a se opor à cartilha petista quando Dilma Rousseff se tornou presidente. Na realidade, nem um anti-Lula legítimo Bolsonaro é. Em entrevista concedida em 2003, ele admitiu ter votado no petista no segundo turno de 2002 – em discurso, o chamou até de “companheiro” e referiu-se a ele como “nosso querido Lula”.
As próprias propostas de autoria de Bolsonaro mostram que ele passa longe de uma postura antiestatizante. Os poucos projetos do deputado indicam pensamento que passa longe dos cânones liberais como a isenção tributária para taxistas e mudanças nos contratos habitacionais. Ou seja, fica claro o abismo entre seus votos e o que prega.
No Parlamento, Bolsonaro integra as bancadas da bala e evangélica, mas no tapete verde da Câmara não compõe exatamente um time: aparenta ser aquele jogador desagregador, sem espírito de grupo. Não por acaso, neste longo período como parlamentar, ele não conseguiu construir relações sólidas com nenhum partido. Já passou por PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL e o atual PSC. Há chance, porém, de disputar a Presidência por outra legenda, o PEN, que tende a mudar seu nome para Patriotas. Mais um ponto negativo de sua candidatura: sem uma base sólida no Congresso, será muito difícil governar o País.
Ultraconservador, Bolsonaro ataca até mesmo a defesa dos direitos humanos, uma garantia constitucional que remonta à Revolução Francesa. “Precisamos dar um cavalo de pau na política de direitos humanos”, afirmou no início do ano. Recentemente, o filho e vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) publicou nas redes sociais uma foto do pai segurando uma camisa com os seguintes dizeres: “Direitos Humanos, esterco da vagabundagem”. Em 2011, Bolsonaro admitiu, sem corar a face: “Sou preconceituoso com muito orgulho”. E é mesmo. As declarações do deputado incluem ataques a minorias, especialmente homossexuais. Ele coleciona frases polêmicas contra a comunidade LGBT. Eis algumas delas: “Se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”; “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, e já muda o comportamento”; “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”.
O incorrigível deputado também é autor de declarações eivadas de racismo e de claro desrespeito à mulher. Atacou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), em 2014, ao afirmar que ela “não merecia ser estuprada porque ela é muito ruim, porque é muito feia”. E completou: “Não faz meu gênero. Jamais a estupraria”. Foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça. Em palestra no Rio, Bolsonaro fez um comentário machista sobre a própria filha: “Tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
Para completar, Bolsonaro não esconde sua admiração pela ditadura que assolou o País por mais de duas décadas. Afirma que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”. Em maio de 1999, escancarou sua veia autoritária: num programa de TV, ao defender o fechamento do Congresso, ele afirmou: “deviam ter fuzilado corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”.
Quem ninguém perca de vista: as consequências da eleição de um político radical e agressivo podem ser funestas à nação. O Brasil começa a se erguer de um longo período de recessão. E tenta reencontrar o caminho do crescimento e, por que não, da pacificação. A saída, portanto, não é o extremismo. Ao contrário. O País precisa de união. Bolsonaro sem máscaras, aquele que (quase) todos conhecem, passa longe disso.
VEJA
Fora da prisão, Jorge Picciani se licencia da Alerj
O deputado estadual Jorge Picciani (PMDB) anunciou na manhã deste domingo que se afastará temporariamente do cargo da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, da qual é presidente, a partir de terça-feira 21.
Em nota oficial, ele anunciou que o objetivo da licença é cuidar de sua própria defesa e da defesa do empresário Felipe Picciani, seu filho, ambos investigados na operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato no Rio.
Ambos se entregaram à PF do Rio na quinta-feira. Felipe permanece na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio, mas Jorge Picciani foi solto em menos de 24 horas, assim como os também peemedebistas Paulo Melo e Edson Albertassi.
O Ministério Público Federal suspeita que eles praticaram crimes de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no suposto recebimento de propinas de empresas de ônibus do Rio de Janeiro e de empreiteiras, como a Andrade Gutierrez e a Odebrecht.
Jorge e Felipe Picciani tiveram 154,4 milhões de reais bloqueados, Melo teve 108,6 milhões de reais retidos e Albertassi, 7,6 milhões de reais.
Na nota oficial, Jorge Picciani diz que retomará suas atividades em fevereiro. Abaixo, o texto completo:
O presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Jorge Picciani (PMDB), comunica que vai tirar licença de suas atividades parlamentares a partir desta terça-feira (21/11), e só deverá retornar à Alerj em fevereiro de 2018, após o recesso de janeiro.
A razão imediata é o fato de querer se dedicar à sua defesa e à do filho, que permanece preso, e à sobrevivência da empresa de 33 anos da família. A empresa teve a conta bloqueada pela Justiça – apesar que arcar com gastos fixos como salário de funcionários, impostos, veterinários e alimentação dos animais.
Sobre os movimentos em curso para que ele e os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi sejam afastados do cargo, Picciani disse que aguarda a decisão com serenidade e, se for o caso, vai recorrer.