Hoje filiado ao DEM, o presidente do Senado é visto pelo ex-ministro Gilberto Kassab como o nome ideal para concorrer ao Palácio do Planalto pelo PSD
Por Edoardo Ghirotto
O ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, bateu o martelo em relação à eleição presidencial de 2022 e tem dito publicamente que irá lançar um candidato próprio na disputa. Para Kassab, o nome ideal é o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que hoje está filiado ao DEM. No entanto, segundo pessoas familiarizadas com as conversas entre os políticos, Pacheco não tem demonstrado muita disposição para encabeçar o projeto.
Kassab considera que Pacheco já tem a experiência necessária para concorrer ao Palácio do Planalto e que o senador tem como trunfo um perfil moderado, que serviria como uma alternativa à polarização entre o bolsonarismo e o petismo. No entendimento do ex-ministro, Pacheco também largaria com bom respaldo em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, o que facilitaria as costuras para uma aliança mais ampla em torno do projeto.
De acordo com aliados do senador, as qualificações não são suficientes para ele embarcar na aventura do PSD. Pacheco entende que está conduzindo a presidência do Senado com respaldo do setor financeiro e sem se indispor com nenhuma ala política — ele foi eleito para o posto com o apoio de bolsonaristas e petistas. Se mantiver a postura conciliadora até o final do ano que vem, o senador acredita que não terá problemas para ser reconduzido ao posto em 2023, quando o Congresso terá uma nova legislatura. Na linha de raciocínio desses aliados, dois mandatos seguidos à frente do Senado seriam suficientes para Pacheco alcançar um patamar mais elevado e ter mais chances de vencer uma disputa pelo governo de Minas Gerais ou, quem sabe, pela Presidência da República em 2026.
Embora esteja cauteloso, o presidente do Senado tem participado com Kassab de conversas com empresários e políticos. Um dos encontros foi com José Luiz Datena. O apresentador da TV Bandeirantes ouviu do ex-ministro que terá o PSD de São Paulo à sua disposição caso queira concorrer ao Senado em 2022. Outro que se reuniu com Pacheco foi Alfredo Cotait Neto, que é presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e foi apontado pelo PSD como pré-candidato ao governo paulista. Kassab, no entanto, mantém tratativas para filiar Geraldo Alckmin (PSDB) e lançá-lo na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
Se entrar na eleição pelo PSD, Pacheco será mais um quadro relevante a deixar o DEM antes do próximo pleito. No último dia 24, a cúpula da sigla chefiada por ACM Neto (BA) se reuniu em Brasília para avaliar os resultados de uma pesquisa qualitativa que o partido encomendou. O nome de Pacheco sequer foi incluído nos cenários para a Presidência da República. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é a única alternativa com a qual o DEM trabalha para a eleição ao Planalto. O plano é oficializar a pré-candidatura de Mandetta até o fim de junho.
Governador interrompe discurso de deputada enquanto ela fazia uma defesa das medidas antilockdown do presidente
Com Estadão
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) bateram boca durante cerimônia de entrega de conjuntos habitacionais em São Paulo nesta sexta-feira, 28. Em pronunciamento durante o evento, Zambelli defendia as ações do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia, quando Doria a interrompeu.
"Bolsonaro não decretou lockdown, Bolsonaro não fez toque de recolher e também não destruiu empregos", dizia a deputada. "Destruiu vidas", gritou Doria, que também usou a expressão "genocida". Algumas das pessoas na cerimônia começaram a aplaudir. "Foi isso que fez Bolsonaro, destruiu vidas", repetiu.
Em seguida, Zambelli criticou o governador e lembrou de uma declaração de Doria em junho do ano passado. "É natural, vindo de um governador que já mandou eu engraxar botas de militares", disse a deputada. Houve vaias. "Eu prefiro ter que engraxar bota de militares - como o meu marido, por exemplo, é militar, e engraxo com muito orgulho a bota dele pra ele poder ir trabalhar e fazer a segurança de pessoas."
Em uma referência à nova postura de Doria nas redes sociais, que há dois meses debocha do apelido "calça apertada" - que ganhou de Bolsonaro -, Zambelli disse que o governo federal "não aperta as calças, mas arregaça as mangas, mãos à obra".
O evento passou a contar com declarações de várias autoridades que pediam entendimento e trabalho em conjunto. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, disse que "não faz bem a ninguém essa atmosfera de politização de um problema em que o único inimigo é o vírus."
Já o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), propôs uma reflexão sobre a necessidade de "viver com ódio ou com amor". "Nós viemos aqui, junto ao governador João Doria, com o coração cheio de alegria para compartilhar alegria com vocês, não foi para brigar nem ofender ninguém, nenhum líder do governo", disse.
O próprio governador pregou união entre esferas governamentais logo depois, na mesma cerimônia. "A união do governo federal, estadual e municipal não é a união de ideologias, nem de ódios, nem de ataques. É servir, atender, respeitar", disse Doria, que se dirigiu novamente à deputada durante seu discurso. "Carla, não farei também o discurso do ódio. Aqui é uma ação coletiva, comum, para todos."
Nas redes sociais, Zambelli criticou o governador e disse que nunca imaginou "passar por este tipo de saia justa". Em outra mensagem, com um vídeo do bate-boca, comentou que "aves de plumas diferentes não voam juntas".
A cerimônia ocorreu na manhã de sexta-feira. Os conjuntos habitacionais entregues, na zona leste da capital, tiveram investimento dos governos federal, estadual e municipal.
No início da tarde, a assessoria de comunicação do governo estadual divulgou um vídeo do evento no qual constavam discursos de quatro pessoas, mas não o trecho em que Zambelli falou. Após ser questionada pelo Estadão, a assessoria disse haver um problema técnico. Um novo vídeo, dessa vez com o discurso da deputada federal, foi publicado por volta das 18h40.
A ação integrada de entrega de kits de alimentos é realizada em parceria com os Cras, associações, entidades de classes, religiosas e educacionais
Por Cláudio Duarte
O Governo do Tocantins, por meio da Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) atende nesta sexta-feira, 28, trabalhadores pertencentes ao Sindicato dos mototaxistas de Paraíso do Tocantins. São 200 famílias de mototaxistas impactadas pela pandemia da Covid-19.
A vice-prefeita de Paraíso, Raquel Ogawa, falou da importância da ação. “Essa ação do Governo do Tocantins é muito bem-vinda, principalmente por atender, nesse momento, uma categoria de trabalhadores que está impactada pela pandemia, que são os mototaxistas”, afirmou ela.
Confirmando o que disse a vice-prefeita, o mototaxista Osvaldo Dias de Oliveira, disse que “a pandemia abalou financeiramente a todos, mas a ajuda do Governo com as entregas de cestas ajuda muito a todos nós”.
A ação integrada de entrega de kits de alimentos é realizada em parceria com os Centros de Referências de Assistência Social (Cras), associações, entidades de classes, religiosas e educacionais.
O gestor da Setas, José Messias Araújo, disse que o Governo do Tocantins está trabalhando para que os alimentos cheguem aos municípios de forma contínua e com agilidade, para que não falte comida na mesa dos tocantinenses. “O Governador Mauro Carlesse determinou que as entregas tenham continuidade para que não falte comida na mesa de nenhuma família impactada pela pandemia”, enfatizou o secretário.
Entidades educacionais
As famílias de alunos do Instituto Federal do Tocantins (IFTO) de Porto Nacional e dos alunos do Centro Educacional São Francisco, em Palmas, que foram impactadas pela pandemia da Covid-19, também estão sendo atendidas. São 5,6 toneladas de alimentos que beneficiarão 350 famílias.
A assistente social do Centro Educacional São Francisco, Gisele Regina, falou que as famílias que serão atendidas têm renda muito baixa ou os genoitores estão desempregados. "As cestas serão entregues para as famílias de alunos bolsistas que moram na extremidades de Palmas e estão passando por dificuldades nesse momento", disse ela.
Outras ações
Várias comunidades em diversos municípios estão sendo atendidos nesta nova etapa de entrega de cestas básicas. São 44,4toneladas de alimentos entregues à população impactada pela pandemia da Covid-19.
Dessa quinta-feira, 27, até sábado, 29, também serão atendidos com entrega de cestas básicas as famílias impactadas de Axixá, Piraque, Tocantinópolis, Pequizeiro, Itaporã e Novo Acordo.
A ação de entrega de alimentos será realizada por meio do Instituto de Cidadania Ecovida em Axixá, da Associação de Rádio Comunitária de Piraque, e da Associação de Moradores do Alto Bonito em Tocantinópolis. Em Pequizeiro as cestas são entregues por meio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), e em Itaporã, por meio da Associação Cultural de Radiodifusão. Em Novo Acordo, na quarta-feira, 26, também foram entregues cestas ao Cras do Municipio.
Ação emergencial
A ação de entrega de kits de alimentos, executada pelo Governo do Tocantins, teve início com o Decreto n° 6.070, de 18 de março de 2020, quando o governador Mauro Carlesse declarou situação de emergência no Tocantins em virtude dos impactos da pandemia provocada pelo novo Coronavírus.
O objetivo da ação emergencial de entrega de cestas básicas é garantir a segurança alimentar e nutricional das famílias vulneráveis e impactadas pela pandemia da Covid-19. Os recursos são oriundos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep-TO) e de emendas parlamentares de deputados estaduais.
Desde o início da ação, em março de 2020, já foram distribuídas 1,1 milhão de cestas básicas nos 139 municípios do Estado, por meio da Setas e de outros órgãos estaduais como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins), a Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esporte (Seduc), a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju) e a Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc).
Transparência e controle
Os processos referentes às aquisições e aos contratos realizados no contexto da Covid-19 estão disponíveis no Portal da Transparência pelo endereço: http://www.transparencia.to.gov.br. Para consultar, acesse na página principal a aba azul - Consulta Contratos Emergenciais -, e a aba verde - Gráficos dos Empenhos e Pagamentos -, e informe-se sobre todos os trâmites.
É importante ressaltar que compras diretas, ou seja, sem licitação, estão autorizadas pela Lei Federal n° 13.979/2020 – de enfrentamento à Covid-19, somente para atender a situação emergencial provocada pela pandemia.
Legislações federal e estadual, referentes a este contexto, estão disponíveis para consulta no site da Controladoria-Geral do Estado (CGE-TO) pelo link https://www.cge.to.gov.br/legislacao/legislacao
Profissionais do setor educacional devem ser vacinados concomitantemente com pessoas com comorbidades, com deficiência permanente, pessoas em situação de rua, funcionários do sistema de privação de liberdade e população privada de liberdade
Por Maria Eduarda Cardim
O Ministério da Saúde confirmou nesta sexta-feira (28/5) a antecipação da vacinação de trabalhadores da educação, que já estavam incluídos no Programa Nacional de Operacionalização (PNO) de vacinação da covid-19. Agora, os profissionais desse setor devem ser vacinados concomitantemente com pessoas com comorbidades, com deficiência permanente, pessoas em situação de rua, funcionários do sistema de privação de liberdade e população privada de liberdade.
Anteriormente, os professores e outros profissionais que trabalham em escolas só seriam vacinados após todos desses grupos citados acima receberem ao menos a primeira dose. Além disso, o governo federal definiu vacinar os profissionais do setor educacional dando prioridade aos trabalhadores envolvidos na educação dos indivíduos mais jovens.
Portanto a ordem seguida deve ser essa: profissionais de creches, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e educação de jovens e adultos e trabalhadores da educação do ensino superior.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, no próximo envio de vacinas para os estados a pasta já deve enviar doses suficientes para imunizar parte desse grupo de trabalhadores da educação.
Vacinação por idade
Como já informado nesta quinta (27), a pasta também autorizou que após a finalização desses grupos (pessoas com comorbidades e gestantes e puérperas com comorbidades e pessoas com deficiência permanente, pessoas em situação de rua, funcionários do Sistema de privação de Liberdade e população privada de liberdade; e trabalhadores da educação) será dado seguimento a vacinação dos demais trabalhadores dos serviços essenciais, incluídos no plano, como caminhoneiros. De maneira simultânea, será iniciada a vacinação da população geral (18 a 59 anos), em ordem decrescente de idade.
A decisão, aprovada durante a 5ª reunião ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), veio de uma demanda exposta pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), e pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), diante da heterogeneidade dos estados e municípios.]
Com menor quantidade de chuvas da série histórica, reservatórios do país que alimentam hidrlétricas começam época mais seca do ano com baixo armazenamento de água
Por Roberta Vassallo
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revisa novamente a tarifa de energia elétrica nesta sexta-feira, 28. Em maio, a agência reguladora passou a bandeira tarifária para vermelha no patamar 1, o que significou uma cobrança adicional de R$ 4,169 para cada 100 quilowatts-hora consumidos. A expectativa é que agora a tarifa chegue ao patamar mais alto, o de bandeira vermelha 2. Se confirmado, o aumento já é aplicado para os consumidores na contas de luz de junho.
A Aneel explicou que abril, quando vigorava a bandeira tarifária amarela, marcou o fim do período de transição entre as estações úmida e seca nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia elétrica. De acordo com a agência reguladora, o período úmido 2020-2021 registrou a pior entrada de água no reservatório das hidrelétricas da História do SIN, medido desde 1931. Esse cenário indica a necessidade de acionar mais usinas térnicas, que são mais caras.
Há algumas semanas uma crise no abastecimento dos reservatórios de hidrelétricas no Brasil tem acendido alertas de risco energético para este ano. O país, que tem pressão crescente no setor de geração elétrica, terminou o período chuvoso em abril com os menores níveis dos reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste, a principal em termos de geração hidráulica de energia, para o mês desde 2015, quando o país também enfrentou crise hídrica severa.
Diante do risco, o governo, por meio do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou que sejam utilizados todos os recursos disponíveis de geração de energia, sem importar quanto isso custará para o consumidor no início de maio. A definição envolve o acionamento de todas as usinas térmicas e importação de energia da Argentina ou do Uruguai.
O governo federal também criou uma “sala de situação” para acompanhar o suprimento de energia no Brasil que envolve diversos ministérios, incluindo a Casa Civil e as pastas da Economia, de Relações Exteriores e Meio Ambiente, além da Secretaria de Comunicação da Presidência, do Ibama e autarquias como a Aneel e Agência Nacional de Águas (ANA). A primeira reunião do grupo ocorreu há duas semanas.
Para o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, o país não enfrenta risco de racionamento de energia, como ocorreu em 2001, mas há possibilidade de apagões em momentos de pico de demanda nos meses finais do ano. O especialista aponta que a matriz energética do país tem capacidade de suprir a demanda total.
"Temos energia suficiente para atender a carga, mas dadas as condições e limitações de operação do sistema, não estamos livres de que antes do fim do ano surjam momentos de pico de demanda que não possa ser integralmente atendido", avalia.
No início do mês, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou haver condições de garantir a segurança energética do País para este ano. "Mas, já adianto, vai exigir medidas excepcionais e também bastante atenção por parte de todos os agentes públicos”, disse em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.
Segundo Sales, a situação crítica neste ano ocorre principalmente pois nos últimos oito anos, intervalo de tempo comumente considerado nas comparações históricas de chuvas, foram os de menor índice pluviométrico na área dos reservatórios das hidrelétricas do Sistema Interligado Nacional de energia elétrica desde 1931, quando iniciou a série histórica. Isso fez com que em maio o Brasil entrasse no período seco do ano com níveis críticos nos reservatórios.
Para piorar a situação, o consumo de energia no país está acima dos níveis pré-pandemia desde março deste ano, mesmo com a queda da atividade econômica em março e abril por conta das restrições causadas pelo recrudescimento da pandemia.
Pressão inflacionária
A perspectiva de alta no custo da energia deve pressionar a inflação para o ano, aponta o economista Arthur Mota, que ressalta que os cenários previstos para 2021 até o início do mês ainda não consideravam o impacto. "Não se achava que seria algo a perdurar. O principal vetor de curto prazo em termos de risco é ver choques vindos de preços administrados com o custo de energia elétrica subindo pois o tipo de fonte que se está usando que é mais cara", avalia o economista Arthur Mota, da Exame Invest PRO, braço de análise de investimentos da Exame.
Neste mês, economistas do mercado financeiro elevaram para 5,24% a estimativa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o ano, segundo o último relatório Focus. Na primeira semana do mês, a previsão era de aumento de preços de 5,04%.
"Isso pode daqui para frente gerar atenção, porque estamos num período de reabertura, volta de atividades, vacinação, com alguns segmentos voltando a operar, o que vai demandar mais energia do que está se demandando agora", ressalta Mota, da Exame Invest PRO.
Para Mota, o risco reside mais nos preços e menos na possibilidade de falta de energia para o fornecimento. O Brasil conta com as usinas termelétricas que podem ser acionadas para complementar a matriz quando a geração de energia por outros meios, como o hidráulico, eólico e solar, não dá conta da demanda. O uso das termelétricas, no entanto, é caro e implica no aumento do custo da energia.
Risco crescente
Apesar da situação de seca deste ano, os especialistas apontam que a preocupação com a pressão sobre a capacidade energética ocorre desde 2000. "Mesmo com o baixo crescimento que a gente teve nesta última década, temos essa preocupação com o nível do reservatório e portanto com os impactos na energia", aponta Mota.
O pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura da FGV Diogo Lisbona ressalta que o crescimento da demanda por energia no Brasil ao longo dos anos, que era suprida em grande parte pelas hidrelétricas, não foi acompanhado por um aumento dos reservatórios para o fornecimento de energia dessas usinas.
"Nos anos 2000, se os reservatórios estivessem todos cheios, conseguiriam atender seis meses de consumo. Hoje está em torno de quatro meses, pois o nosso consumo aumentou e a gente não consegue mais construir novos reservatórios. É como se essa caixa d'água estivesse proporcionalmente ficando menor", afirma.
Como consequência, a pressão sobre os reservatórios ao longo do ano, após o período de chuvas, fica cada vez maior.
Pouco controle
A expansão da matriz energética no Brasil nos últimos anos, aponta Sales, ocorreu principalmente pelo aumento de fontes mais limpas, mas que dão ao operador pouca capacidade de ditar o fornecimento, como a energia solar e eólica. O seu funcionamento depende de fatores climáticos e tem pouca margem de operação para suprir variações de demanda.
"Há essa multiplicidade de fontes das quais várias delas, e isso tem sido de forma crescente na matriz, são não despacháveis pelo operador do sistema, ou seja, o operador não tem o controle sobre o seu acionamento", explica.
O fator é somado à redução da participação das usinas hidrelétricas como proporção da carga total de energia do país. O cenário é mais um que contribui para a projeção do especialista de dificuldade do sistema em momentos de pico de demanda.
"Aí é que está parte do grande desafio: a despeito do fato de termos energia suficiente para atender a carga, pode ocorrer situações em que o operador do sistema não tenha capacidade disponível para acionar no momento de pico", afirma.
Segundo ele, como a expansão da oferta de energia tem sido predominantemente de fontes de geração intermitente, há uma utilização das usinas hidrelétricas para a prestação de serviços "oscilares", de controle de potência e frequência, para estabilizar o sistema, "deixando de otimizar o uso daquela água para produzir energia propriamente dita", afirma.
Sales aponta também para um segundo gargalo no controle e previsão da geração de energia no Brasil. Segundo o especialista, a queda da produtividade das usinas hidrelétricas quando o nível dos reservatórios está mais baixo não é contabilizada nos modelos utilizados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para prever a capacidade de geração de energia. Isso faz com que o potencial de geração seja sobreestimado em situações em que há níveis baixos dos reservatórios.
"A altura da queda é uma variável fundamental para a produtividade de uma turbina que está instalada na hidrelétrica. Se está trabalhando com reservatório permanentemente em níveis muito baixos, a produtividade cai muito", explica.
"Se o modelo computacional não internaliza isso, o operador opera com a sobreestimação do potencial de geração hidrelétrica. Daí, resultando numa política operativa equivocada."