Democrata venceu Donald Trump mesmo após o presidente entrar com dezenas de recursos para fazer a recontagem dos votos
Por Caique Alencar
O Congresso dos Estados Unidos (EUA) confirmou na madrugada desta quinta-feira (6) a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais realizadas no ano passado. O democrata venceu presidente Donald Trump, que tentava a reeleição, com os votos de 306 delegados, sendo que o mínimo necessário era de 270. Trump terminou a corrida eleitoral com 220 votos no colégio eleitoral.
A sessão foi retomada após horas de interrupção causadas pela invasão de manifestantes pró-Trump que tentavam evitar a ratificação do resultado das urnas . Em discurso, o vice-presidente Mike Pence, que se distanciou nos últimos dias do líder norte-americano, criticou os invasores e disse que eles "não ganharam" pois "a violência nunca vence. A liberdade vence".
A confirmação ocorre após um período eleitoral turbulento. Desde o início da campanha, Trump já sinalizava que não reconheceria o resultado caso não fosse favorável a ele.
Já durante a contagem dos votos populares, o republicano fez várias acusações de que as eleições estariam sendo fraudadas. Trump, porém, nunca apresentou provas de que isso estaria acontecendo.
Biden começou a contagem atrás de Trump, já que, como uma consequência da pandemia da Covid-19 , eleitores democratas preferiram votar pelos correios. A alternativa permite que os americanos não vão até os locais de votação para depositar os seus votos, mas a contabilização nesses casos demora mais tempo.
Após a divulgação do resultado, Trump entrou com dezenas de recursos para que os votos fossem recontados. Nos estados onde esses pedidos foram aceitos, como na Geórgia, foi confirmado que Biden realmente teve mais votos.
Ainda embaralhada por conta da pandemia e das eleições internas, a fila reúne interesses de interesse do Centrão, do governo e da oposição
Por Victor Ohana / CartaCapital
As prioridades no Congresso Nacional para 2021 ainda estão embaralhadas. Há os reflexos da segunda onda de Covid-19 e a corrida pela vacina. Espera-se ainda o resultado da eleição para os presidentes da Câmara e do Senado, em 1º de fevereiro – Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) deixas as respectivas cadeiras ainda neste mês. Na Câmara, o candidato de Maia, Baleia Rossi (DEM-SP), abocanha parcela do Centrão e tem o apoio de maior parte da oposição. Do outro lado, há o nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL). No Senado, há mais de dez parlamentares de olho no cargo.
Uma agenda que parece cada vez mais improvável é a do impeachment de Bolsonaro. Em junho do ano passado, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-RR) dizia que o impedimento era “mais do que viável, imperioso”. O presidente, entretanto, entra no 3º ano de mandato passando ileso por mais de 50 pedidos.
A depender dos resultados das eleições, há quem cogite ao menos a análise do tema, que começa sempre pela Câmara e passa depois pelo Senado. Depende dos resultados das eleições das”Arthur [Lira] já entra com o compromisso de não pautar nada”, diz o senador Alessandro Vieira (Cidadania-RS). Mas nada garante que Baleia Rossi tope abrir o processo. O deputado não firmou esse compromisso nem mesmo para atrair o apoio do PT.
CartaCapital reuniu a seguir outros 10 assuntos que estão na mira do Congresso neste ano, ou que pelo menos haja significativo interesse externo para que entre na agenda de discussões dos parlamentares. Confira.
Oposição quer ampliar transferência de renda
Com o fim da validade do Decreto de Estado de Calamidade Pública, em 31 de dezembro de 2020, o Brasil volta a ser obrigado a cumprir o teto de gastos em 2021. O governo não dá sinais, até agora, de que o decreto será prorrogado. Maia também advoga pela manutenção do teto de gastos para este ano.
Ainda assim, a oposição mantém conversas para, ao menos, estender o auxílio emergencial por alguns meses, mesmo que a transferência da renda exija disposição maior de verbas públicas. O benefício, voltado para trabalhadores informais e desempregados, acabou em dezembro. O governo diz já ter gastado mais de 250 bilhões com 68 milhões de beneficiários das parcelas mensais de 600 e 300 reais.
O economista David Deccache, assessor econômico do PSOL na Câmara, dá como certa a aprovação de alguma medida de ampliação de transferência de renda ainda no primeiro trimestre. Estão em abertas as condições e o modelo da medida – por exemplo, estender o auxílio emergencial ou redesenhar o Bolsa Família. “O formato ainda está totalmente em aberto: valores, grupos de exigibilidade e afins. Tudo vai depender da correlação de forças interna e externa”, avalia.
Centrão, direita e governo defendem autonomia do Banco Central
O debate sobre o Banco Central estava parado no Senado fazia pelo menos 30 anos. Foi na pandemia que os senadores viram a oportunidade de votar sobre o tema, por meio de um projeto de lei que dá “autonomia” à instituição. Uma das principais propostas é garantir que os mandatos da diretoria do BC comecem e terminem em datas que não coincidam com a posse do presidente da República.
Agora, só falta a matéria ser aprovada pela Câmara para entrar em vigor. Sob autoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM), o texto chegou na Casa em 11 de novembro e pode tramitar junto com uma proposta do governo. O relator é o deputado Celso Maldaner (MDB-SC), que já sinalizou a possibilidade de reunir tudo em um texto só.
A oposição, que votou contra o PLP no Senado, ainda vê chance de barrá-lo na Câmara. Será preciso evitar uma reprise do placar fracassado de 56 a 12 entre os senadores.
A discussão divide opiniões. Defensores da “autonomia” acreditam que o Banco Central deve ser afastado de pressões políticas do governo. Já os críticos argumentam que a instituição não pode ser “independente” do Executivo, porque deve cumprir a agenda econômica que foi eleita nas urnas.
Nova Lei do Gás está perto da aprovação
O PL 6407/2013, batizado de Nova Lei do Gás, tem o objetivo de aumentar a participação de empresas privadas no mercado de gás natural no Brasil, hoje controlado pela Petrobras.
Para o governo, o estímulo à concorrência vai reduzir o preço ao consumidor – principalmente para as indústrias e termelétricas. A mudança concreta está no transporte de gás natural. Atualmente, a operação ocorre sob o regime de concessão. Com a nova lei, o regime passa a ser de autorização.
Não há consenso entre especialistas sobre o projeto. Críticos não creem na redução de preços e teme que as empresas privadas controlem a atual estrutura, erguida sobre investimentos públicos, sem perspectivas de real expansão.
De autoria do ministro Paulo Guedes, a proposta foi aprovada em 1º de outubro na Câmara e em 10 de dezembro no Senado. Com as alterações dos senadores, o texto volta para revisão na Câmara, que só pode votar os trechos que sofreram mudanças.
Reforma administrativa traz mudanças no serviço público
O governo enviou ao Congresso Nacional em 3 de setembro a PEC da reforma administrativa, para alterar normas que regem os direitos dos servidores públicos.
O Palácio do Planalto promete reduzir gastos, diminuir a burocracia, aprimorar o serviço e extinguir privilégios, dando fim, por exemplo, à estabilidade desses trabalhadores. Especialistas afirmam que a reforma pode desproteger o servidor de assédios do governo, afastar profissionais mais qualificados e, em essência, retirar o Estado das políticas públicas.
Para Marcos Verlaine, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o fato de a PEC ter sido apresentada pelo governo não significa que ele esteja à frente da articulação pela sua aprovação – a reforma representa amplos interesses do Centrão. É por convicção dos líderes do Congresso, portanto, que a medida tem altas chances de ser aprovada neste ano.
“Essa vai ser a prioridade do Congresso, o governo não controla isso”, diz Verlaine. “Toda essa pauta de cunho econômico e fiscal tem sido aprovada porque havia um consenso entre os parlamentares, como na reforma da Previdência. A mesma coisa vai acontecer com a reforma administrativa.”
Reforma tributária: Há chances de votar taxação de fortunas?
As mudanças na legislação que regula os impostos públicos já são debatidas há pelo menos duas décadas. Mas, segundo Verlaine, dificilmente o governo e o Congresso conseguirão dar andamento a duas reformas no mesmo ano.
Não se sabe quantos passos serão dados na reforma tributária em 2021. Em junho do ano passado, Paulo Guedes apresentou ao Congresso uma parte do que deseja, via projeto de lei. Duas propostas também tramitam dentro do Parlamento, uma PEC assinada por Baleia Rossi, outra por líderes do Senado.
Para especialistas ouvidos por CartaCapital, todas as ideias apresentadas até agora são insuficientes para combater a desigualdade.
“Ainda há impasses na comissão que discute essa reforma, que dizem respeito a conflitos de interesses entre União, estados e municípios”, diz Verlaine. “A prioridade, na minha opinião, será a reforma administrativa.”
Para o deputado Afonso Florence (PT-BA), vice-líder do seu partido na Câmara, faltam condições para aprovar a reforma proposta pelo governo. Ele lidera a minoria na comissão que debate a nova legislação tributária. Na PEC que veio da Câmara, ele pede a constitucionalização da tributação progressiva da renda e do patrimônio, que inclui, por exemplo, a taxação de lucros, dividendos, grandes fortunas e heranças.
A taxação sobre os mais ricos não entrou no acordo que levou o PT a apoiar Baleia Rossi como novo presidente da Câmara, diz Florence. Mas o petista afirma que Rossi participou de negociações com Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Rodrigo Maia sobre o conjunto da constitucionalização da tributação progressiva da renda e do patrimônio, “entre isso, grandes fortunas”.
“Eles estavam discutindo e estavam topando. Mesmo que não esteja no acordo, eu considero que temos chance real de votar”, afirma.
Governo pressiona Congresso por privatização de estatais
Guedes elegeu a Eletrobras, os Correios, o Porto de Santos e a PPSA, empresa que administra contratos do pré-sal, como as estatais alvo das privatizações de 2021. “São quatro privatizações óbvias”, disse o ministro, em dezembro do ano passado, em entrevista sobre o balanço de fim de ano.
Ele argumenta que a Eletrobras consegue investir apenas 3,7 bilhões de reais anuais, em vez dos 17 bilhões que deveria dispor. O governo teria pouca capacidade fiscal para injetar o que falta. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) rebate. Eletrobras é lucrativa, escreveu em artigo para CartaCapital, tem baixo endividamento e mantém cerca de 15 bilhões de reais em caixa. A privatização da Eletrobras se manteve em banho-maria com Rodrigo Maia na presidência, graças a um acordo político. Mas o futuro é incerto.
Em relação aos Correios, Temer e Bolsonaro vêm apontando supostos prejuízos no caixa. Os críticos à privatização apontam possível queda brutal do serviço no interior do Brasil. Sobre a PPSA, Guedes diz que o trabalho é “patético”, porque os 100 bilhões de reais em contratos administrados pela estatal seriam “um pretexto para a corrupção”. No caso do Porto de Santos, administrado pela Companhia Docas do Estado de São Paulo , o projeto de privatização é propagandeado pelo governo como um plano de expansão de infraestrutura.
O processo de privatização precisa do aval do Congresso, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2019. Para técnicos da Economia, há um embate de interesses entre o Executivo e o Legislativo nesse tema. Se, até agora, nenhuma privatização prometida por Guedes foi concluída, um processo desses neste ano se torna ainda mais complicado, avaliam parlamentares. Outra estratégia do governo foi vender empresas em fatias, como no caso da Caixa Econômica no ano passado, mas a tentativa também fracassou: a Medida Provisória lançada pelo Planalto em agosto perdeu a validade em dezembro. A conferir.
Flexibilizar o porte de armas, um plano de Bolsonaro
Não falta vontade a capitão avançar nas pautas de costumes, como a flexibilização da posse e do porte de armas. Até então, o governo vem agindo com decretos, sem o reforço dos congressistas. Com Arthur Lira, as pautas bolsonaristas podem ganhar fôlego.
Alessandro Vieira, senador pelo Cidadania, acha que a pauta é “de baixa relevância diante dos problemas que o Brasil enfrenta”. O ceticismo se repete entre outros parlamentares.
Mas, em dezembro, Bolsonaro prometeu fazer de tudo para aumentar as liberações para que os brasileiros se armem, especialmente policiais, caçadores, atiradores e colecionadores.
“No que depender de mim… depende do Parlamento muita coisa… a arma vai ser bastante democratizada no Brasil”, disse o presidente, em entrevista ao filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
“Conseguimos liberar 20% do imposto de importação de armamento. Estamos no caminho certo, mas não consigo avançar mais porque dependo de alterações na lei do desarmamento, que estão paradas. De acordo com a futura composição da mesa, em especial os presidentes da Câmara e do Senado, teremos chances, obviamente, de botar esse projeto em votação”, completou.
Voto impresso também vira prioridade
“Sem voto impresso em 2022, pode esquecer a eleição”, disse Bolsonaro em dezembro, a apoiadores de Santa Catarina. Uma PEC da deputada governista Bia Kicis (PSL-DF) trata do tema. A parlamentar exige a impressão de cédulas em papel na votação e na apuração de eleições, plebiscitos e referendos no Brasil. As cédulas não substituiriam a urna eletrônica, mas poderiam ser conferidas pelo eleitor e depositadas em urnas para fins de auditoria. Um formato semelhante ocorre na Venezuela.
Eduardo Bolsonaro defende prioridade para a pauta. No entanto, assim como a flexibilização, a instituição do voto impresso é colocada em segundo plano por parlamentares. Primeiro, porque não foram apresentadas provas de fraudes no sistema eleitoral. Segundo, a empreitada demandaria aumento de gastos públicos e mais trabalho ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Será mais uma pauta, portanto, a depender da composição da mesa diretora das Casas Legislativas a partir de fevereiro.
PEC da 2ª instância espera votação de relatório de Fábio Trad
Logo após a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Alex Manente (Cidadania-SP) apresentou a PEC da 2ª instância, a mais promissora entre outros projetos sobre o tema.
O texto ganhou parecer favorável do relator Fábio Trad (PSD-MS), em setembro. Mas a matéria já completou um ano de estagnação no Congresso. Falta apenas uma decisão do presidente da Câmara de reinstalar a comissão especial para votar o relatório. Em seguida, o texto seguiria para o plenário.
Advogado, Trad já chegou a pedir apoio de Bolsonaro para ajudar a criar melhores condições políticas para aprovar a PEC da 2ª instância. A pauta tem o apoio do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, desafeto do governo, mas que ainda tem a capacidade de motivar alguns parlamentares. Em outubro, Maia sinalizou disposição para votar a PEC até o fim do ano passado, o que não se concretizou.
“O tema é fundamental, porque a PEC representa a maior conquista da cidadania brasileira no âmbito do sistema judicial, na medida que reduzirá consideravelmente o tempo para se efetivar uma decisão judicial. É uma PEC de direitos humanos”, diz Trad a CartaCapital. Críticos à prisão em 2ª instância, no entanto, apontam que a ordem de encarceramento nesse estágio pode favorecer injustiças no sistema penal.
Direitos dos entregadores seguem em suspenso
Entregadores de aplicativos fizeram manifestações históricas pelo Brasil no ano passado, e as mobilizações pressionaram o Congresso pela elaboração de uma lei que lhes assegure direitos básicos. Um texto, portanto, foi construído pela bancada do PSOL e relatado por Fábio Trad em setembro.
Ao escrever o PL 1665/2020, Ivan Valente (PSOL-SP) quis ao menos determinar garantias aos entregadores no contexto da pandemia, sem tocar em condições gerais de trabalho. Na prática, o texto diz respeito a assistência financeira durante afastamento por doença e outros itens com enfoque preventivo.
Mas a proposta até agora não foi aprovada na Câmara, apesar de correr sob regime de urgência. Em 2020, Trad lamentou o “retardamento” no percurso do projeto. Meses depois, o relator segue insatisfeito com a demora. Ele diz ter incorporado algumas sugestões apresentadas pelo deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) e aguarda o retorno do parlamentar para “ver se chegamos a um consenso”.
“Há desinformação sobre o conteúdo do projeto. Ele não intervém na economia e passa ao largo de qualquer restrição à livre iniciativa, como apregoam alguns parlamentares. Trata-se de uma proposição que, basicamente, assegura aos entregadores o direito de serem tratados como seres humanos, com respeito à sua condição laborativa. Creio que avançaremos neste tema”, diz.
Para Sachsida, o Brasil não está "maneira alguma, de jeito nenhum" quebrado
Por Mateus Fagundes
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, considera que o presidente Jair Bolsonaro usou um "jargão popular" ao dizer que o Brasil está "quebrado" e que essa declaração do chefe do Poder Executivo reforça o compromisso do governo com a consolidação fiscal, porque mostra que a gestão federal não pode conceder novos benefícios tributários e que tem conhecimento da situação delicada das contas públicas.
"O que o presidente deu foi uma tremenda declaração em defesa da consolidação fiscal, mostrando o compromisso do presidente da República com a estabilidade macroeconômica. Eu pessoalmente acho que é um tipo de declaração que mostra para todo o mercado que o presidente está sim comprometido não apenas com agenda de reformas, mas com a agenda de consolidação fiscal", afirmou Sachsida à CNN.
Para Sachsida, País não está 'de maneira alguma, de jeito nenhum' quebrado. © Dida Sampaio/Estadão Para Sachsida, País não está 'de maneira alguma, de jeito nenhum' quebrado.
A apoiadores hoje cedo, Bolsonaro disse que não "consegue fazer nada" e citou como exemplo supostas mudanças na tabela do Imposto de Renda estudadas pelo governo no ano passado. "O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do imposto de renda, tá (sic), teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter", afirmou Bolsonaro a um apoiador na saída do Palácio da Alvorada nesta manhã.
Para Sachsida, o Brasil não está "de maneira alguma, de jeito nenhum" quebrado. Ele reforçou o discurso da equipe econômica de que o País está se recuperando depois do tombo na atividade em 2020 por causa da pandemia de covid-19.
"É claro que o primeiro trimestre ainda tem questões relacionadas à pandemia, ainda é um pouco mais difícil. Mas ao longo do primeiro semestre a economia vai melhorando. Vai ser um bom ano. O setor privado está entrando forte, as reformas econômicas estão andando", declarou.
Para o secretário, é um equívoco dizer que a agenda do governo não está avançando, citando as votações do marco do saneamento, da independência do Banco Central e o projeto da BR do Mar, entre outros, reforçando a necessidade de diálogo com o Congresso nestes temas. Mas ele fez um mea-culpa. "Eu infelizmente não consegui criar alguns consensos. Quem sabe a partir de hoje a gente consiga criar mais consenso e avançar nisso?", disse.
Imunizantes devem chegar ao Brasil ainda em janeiro
Por Carlos Eduardo Vasconcellos
O Ministério da Saúde confirmou, nesta terça-feira (5), após reunião com Bolsonaro e os ministros Ernestro Araújo (Relações Exteriores) e Fábio Farias (Comunicações) , a importação de 2 milhões de doses da vacina contra Covid-19 produzida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Os imunizantes, que chegarão da Índia, custarão aproximadamente R$ 60 milhões.
No encontro, a pasta também apresentou a Bolsonaro o status das tratativas com os diversos laboratórios produtores de vacina e informações sobre aquisição de seringas, agulhas e vacinas.
"Foram dadas também informações de casos confirmados da COVID-19 no Brasil em comparação com outros países, assim como óbitos causados por essa doença categorizados por regiões do território nacional, idade, presença de comorbidades e curvas epidemiológicas ao longo do período de 2020", disse o Ministério da Saúde, em nota.
Hoje pela manhã, o Itamaraty já havia confirmado o acordo e informado que as doses começam a chegar ao Brasil ainda neste mês de janeiro. "Está confirmada a importação de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford produzidas na Índia, com data provável de entrega a partir de meados do corrente mês de janeiro", informou o ministério.
"Corona, corona! Volte para o seu país."
COM O TEMPO
Em meio à pandemia de coronavírus, brasileiros contam que vêm sendo vítimas de hostilidades no exterior. Segundo relatos de viajantes na Índia e em alguns países da África, estrangeiros têm sido expulsos de hotéis, sofrido constrangimento por parte de autoridades e ouvido frases como a da abertura deste texto na rua.
Até na China, origem da pandemia, há casos de preconceito contra estrangeiros, desde que o país conseguiu reduzir a transmissão local e começou um esforço para evitar uma segunda onda de contaminação, desta vez vinda de fora.
Uma reportagem do jornal inglês The Guardian traz casos de pessoas expulsas de restaurantes, lojas e hotéis, e um vídeo que circula na internet mostra três russos impedidos de entrar em uma loja para comprar máscaras.
Na Índia, onde quase 180 brasileiros tentam ser repatriado após o fechamento das fronteiras, parte conta ter vivido momentos tensos, especialmente em cidades menores.
A servidora pública Claudia Segobia, 50, foi pressionada para sair do hotel onde estava havia mais de um mês em Vrindavana, no norte do país. "Começaram a me perseguir lá dentro. Fui chamada por três homens da administração, pediram meu passaporte, eu ingenuamente dei na mão deles. Disseram que teriam que entregar o documento à polícia e que viriam me buscar para fazer exame e me colocar em quarentena."
Hoje, ela está na casa de uma amiga. "No caminho para lá, começaram a apontar para mim na rua e a gritar: 'Corona, vá para casa!'", lembra. "Descobriram meu telefone, não sei como, e me ligaram dizendo que sabem onde estou e que vão chamar a polícia."
Em vídeo enviado à reportagem, ela mostra um tecido que colocou na janela do quarto onde está, para não ser vista do lado de fora. "Estou com muito medo, não saio para nada. E a situação tende a piorar. Nenhum relato consegue expressar o que estou sentindo. Foi muita humilhação."
Cláudia diz que informou a embaixada brasileira e que tem recebido suporte do corpo diplomático. "Mas precisamos sair daqui. Espero que algo possa ser feito por nós."
Em outra pequena localidade no leste da Índia, o fotógrafo Tiago Mendonça, 38, foi expulso com um amigo mexicano que o acompanha na viagem. "A dona do hostel começou a nos pressionar para sairmos. Ela estava muito ansiosa, acho que estava sendo pressionada também. Um dia, saímos para comer, e três adolescentes pegaram uma pedra no chão e nos olharam, dizendo: 'Você não é bem-vindo aqui'."
Na noite seguinte, alguém jogou uma pedra no telhado do hostel. "Era um paralelepípedo enorme, fez um barulho muito alto." A dupla saiu da cidade e está em um lugar seguro.
"A paranoia está criando um sentimento de repúdio aos estrangeiros. Não os culpo, estão com medo. É um problema no mundo todo, mas as pessoas não deveriam procurar um culpado", afirma.
Em uma enquete feita por um dos brasileiros que aguardam repatriação na Índia, respondida por 140 pessoas na mesma situação, 23 relataram ter sofrido hostilidades por parte da população e 13, por parte da polícia. Ao menos 30% temem que as hostilidades aumentem à medida que surgirem mais casos no país.
Um dos depoimentos reunidos pelo grupo é de uma brasileira que se hospedou na casa de um guru de ioga após seu curso ter sido suspenso. Um grupo de 20 policiais foi até a residência, obrigando todo mundo a ficar de quarentena, e divulgou para a população local que a casa estava infectada por tê-la recebido. "Estamos vendo muitos atos xenofóbicos por autoridades na Índia. Para os mesmos, se você for estrangeiro, é um coronavírus ambulante", diz o relato.
A embaixada na Índia conseguiu negociar cerca de 15 lugares para brasileiros em um voo da Air France. O valor da passagem, porém, é impeditivo para alguns: entre US$ 1.500 (R$ 7.800) e US$ 2.000 (R$ 10.500). "Normalmente a passagem de ida e volta custa uns R$ 4.000. A maioria não tem condições de arcar com esse valor", diz Cláudia.
Em nota, o Itamaraty afirmou que a embaixada em Nova Déli e o consulado em Mumbai estão buscando meios de superar as restrições do governo indiano para possibilitar o retorno dos brasileiros.
O órgão diz que tem negociações em curso com companhias aéreas para buscar soluções de repatriamento e que está apoiando os brasileiros com compra de medicamentos e alimentos para quem precisa, "resgate de brasileiras expulsas de seus hotéis e em situação de vulnerabilidade em cidades próximas a Nova Déli e obtenção de alojamento em local seguro na capital" e "atendimento de brasileiros detidos pela polícia".
Em alguns países africanos, viajantes que se sentiam bem recebidos relataram uma mudança de atitude da população após a chegada da pandemia ao continente. A jornalista Marina Pedroso, 27, que faz uma viagem de volta ao mundo e parou no Quênia durante o isolamento, conta que o primeiro caso que ouviu de constrangimento a estrangeiros foi na Tanzânia.
"Aconteceu com três asiáticas que conheci. Disseram para elas: 'Corona, volte para seu país'. Aqui no Quênia, depois que descobriram o primeiro caso, comecei a sentir eu mesma essa hostilidade", conta. "Eles falam 'hello'; se não dou bola, soltam logo um 'corona!'. Tenho medo de sair, compro comida no máximo uma vez por semana."
Marina conta um episódio quando ela estava com uma viajante de Hong Kong em um ônibus. "Um homem sentou do lado dela, cobriu a boca e o nariz com a camiseta e começou a falar 'corona'. Depois o pessoal pediu desculpas pelo comportamento dele."
Em Botsuana para fazer trabalho voluntário, Lucy Mazera, 49, doutora em serviço social, foi outra que notou a mudança de tratamento. "Quando vou ao mercado, ficam me olhando como se fosse um vírus. Não chega a ser agressivo, mas percebo que eles têm medo. Já me disseram: 'good morning, coronavírus' [bom dia, coronavírus]. Sou loira de olhos claros, acho que eles pensam que sou europeia."
Lucy afirma, porém, que entende o lado da população. "Não é proposital, é questão de sobrevivência. Os brancos sempre trouxeram doenças."
Acostumada a ser bem tratada em Gana, onde vive temporariamente, a professora de dança Ana Carolina Ussier, 30, diz que a mudança foi "da noite para o dia". "Normalmente existe aqui até uma espécie de reverência às pessoas brancas. Com a confirmação dos primeiros casos, isso mudou."
Há cerca de um mês, ela passeava com um grupo de brasileiras em um mercado de rua e uma mulher saiu correndo ao vê-las. "Uma vendedora perguntou: 'Você entendeu o que aconteceu? Ela ficou com medo de vocês, porque coronavírus é doença de branco'."
A brasileira também ajudou um chinês que estava viajando o mundo de bicicleta e não conseguiu hospedagem.
Em três semanas de isolamento, Ana Carolina saiu de casa duas vezes. "Peguei transporte público e todas as fileiras lotaram, menos a minha. Estava com vontade de tossir, fiquei morrendo de medo."