O caminho trilhado por Ciro tem como ponto de referência a busca pelo eleitor "nem nem": os antibolsonaristas e os antipetistas
Com Estadão Conteúdo
Após coordenar a comunicação das vitoriosas e milionárias campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014, o marqueteiro João Santana está cruzando a pandemia em Salvador, onde montou a base de operação para atender o presidenciável Ciro Gomes (PDT). Desde abril, quando assinou com o PDT um contrato de 1 ano por R$ 250 mil mensais, o publicitário já produziu 78 vídeos, todos com a sua marca inconfundível e plasticamente sofisticada.
Câmera em movimento com giros de 360°, imagens aéreas captadas por drones, fundo musical grandiloquente e gravações em locais simbólicos. Com essa embalagem, o pedetista grava suas falas. Ciro e Santana conversam regularmente sobre os vídeos, que são, segundo a assessoria do pré-candidato, "ação conjunta" da dupla.
A estratégia fica clara para quem se dispõe a assistir aos comerciais publicados nas redes sociais. Depois de aparecer segurando a Bíblia numa mão e a Constituição na outra, Ciro gravou um vídeo em Monte Santo, onde Glauber Rocha fez o clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol. A ideia foi passar a imagem de um "choque simbólico dos contrários".
"Muitos da direita dizem que sou da esquerda e muitos da esquerda, que sou de direita. Será que sou assim um bicho tão estranho, ou essas palavras não servem para definir as pessoas? Há muita confusão entre direita e esquerda, entre ser conservador e progressista", disse Ciro. Na vinheta de fechamento se via um logotipo com o mote "Cirão das massas". O vídeo teve modestas 7.500 curtidas no Instagram e 29 mil compartilhamentos.
O caminho trilhado por Ciro tem como ponto de referência a busca pelo eleitor "nem nem": os antibolsonaristas e os antipetistas. Por isso, a narrativa faz concessões à direita e até aos eleitores bolsonaristas, mas sem comprometer os pilares da esquerda.
O sindicalista Antônio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e vicepresidente nacional do PDT, admite que os adversários tentarão constranger Ciro pelo fato de João Santana ter sido condenado na Operação Lava Jato a sete anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro oriundo de campanhas petistas. "Sempre vão querer usar isso, mas João Santana é um excelente profissional, e todos os custos foram pagos por dentro."
Santana está recluso e não fala com a imprensa. A sua última aparição foi no Roda Viva, quando mandou o recado cifrado para Ciro ao dizer que uma grande chapa para 2022 teria ele na cabeça e Lula de vice. Carlos Lupi, presidente do PDT, percebeu o recado e tomou a iniciativa de buscar uma aproximação.
Ao chamar para sua equipe o último grande marqueteiro político em atividade, Ciro pagou um preço político e se afastou de aliados importantes como a ex-ministra Marina Silva (Rede). O pedetista também deu munição para adversários criticarem a incoerência de atacar sistematicamente a corrupção do PT e contratar o publicitário que simboliza o caixa 2.
"João Santana foi o pistoleiro orientado e pago pelo mandante Lula. Assim sendo, os dois representam a repugnante e desprezível destruição dos adversários que ousam atravessar o caminho ungido para ser poder", disparou a ex-senadora Heloísa Helena, porta-voz nacional da Rede. A chegada de Santana esfriou a aproximação de Ciro com Marina e azedou a conversa.
Ciente do potencial de danos, Ciro tratou de blindar-se. "O João Santana sabe que errou. Nunca negou, mas foi absolvido de qualquer acusação de corrupção pelo próprio Sérgio Moro, que é um juiz arbitrário. Pagou porque recebeu caixa dois. E quem pagou o caixa 2 foi o PT", disse. "No meu caso, não trabalho assim. Ele já pagou o que devia para a Justiça. Está completamente limpo. Quem vai ter moral para vir me criticar? Lula, que pagou o caixa 2?", disse ao Estadão.
O plano do PDT é que em 2022 Santana continue à frente do projeto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Lira mandou recado para Bolsonaro dizendo que as falas que colocam em risco o pleito do próximo ano não tem apoio da cúpula do Congresso
Da CNN, em São Paulo
A escalada da tensão entre poderes da República e Forças Armadas fez com que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), começasse a enviar recados para agentes políticos para pedir calma. As informações são da âncora da CNN Daniela Lima.
Apesar de não ter se posicionado publicamente em relação às ameaças do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de não realizar as eleições em 2022, Lira mandou recado para o presidente dizendo que as falas que colocam em risco o pleito do próximo ano não têm apoio da cúpula do Congresso.
Outros atores que foram contatados por Lira foram ministros do Supremo Tribunal Federal. O presidente da Câmara pede que a suprema corte se resguarde em relação à discussão da volta do voto impresso e que o Legislativo tem maneiras de resolver isso com a política.
Lira disse textualmente para aliados que o momento é critico e que o ideal agora é preciso colocar “água na fervura”, por conta disso vem enviando recado para atores no centro da crise institucional.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse nesta sexta-feira (9) que quem for contra os pressupostos democráticos do Brasil será definido como "inimigo da nação".
Por Guilherme Mendes
A fala é um recado a Jair Bolsonaro, que tem contestado o sistema eleitoral brasileiro e nesta sexta-feira proferiu ataques diretos ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso.
"Todo aquele que pretender algum retrocesso ao Estado Democrático de Direito, esteja certo, será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação e privado de patriotismo", disse o senador, sem citar o nome do presidente.
Pacheco ainda afirmou que a decisão sobre como será o modelo eleitoral brasileiro cabe exclusivamente ao Congresso Nacional e não aos outros poderes. Ele marmarcou sua posição: "Tudo quanto houver de especulações em relação a algum retrocesso à democracia, como a frustração das eleições próximas, vindouras em 2022 é algo que o Congresso Nacional, além de não concordar, repudia evidentemente", disse o senador, que prestou solidariedade ao ministro Barroso.
"Atentado à independência"
Ainda em seu discurso, Pacheco disse que Casa não admitirá "qualquer atentado à sua independência, sobretudo às prerrogativas dos parlamentares de palavras, opiniões e votos". A fala ocorre dois dias depois de o Ministério da Defesa e a cúpula militar atacarem a fala do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, que associou parte dos militares aos esquemas de corrupção na compra de vacinas.
"Nós não podemos admitir qualquer tipo de fala, de ato, de menção, que seja atentatória à democracia ou que estabeleça um retrocesso naquilo que a geração antes da minha conquistou, que é a democracia no Brasil", disse Pacheco.
Rodrigo Pacheco definiu as discussões públicas entre o senador e a cúpula militar como "esclarecidos, resolvidos e encerrados".
Recesso e CPI
O presidente negou que pretenda interromper os trabalhos da CPI da Pandemia ao decretar o recesso parlamentar. Ele garantiu que deve convocar recesso apenas se a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2022 for aprovada. Caso isso não ocorra, o parlamento entra em um "recesso branco", onde a decisão de manter ou não os trabalhos da CPI caberá ao presidente da comissão, Omar Aziz.
"De minha parte, não há nenhuma intenção de prejudicar o trabalho da CPI, tanto que o requerimento de prorrogação da CPI, tendo os critérios de fato determinado e número de assinaturas, será lido em plenário a tempo inclusive de dar solução de continuidade da CPI", afirmou o parlamentar.
Caiu percentual de eleitores que consideram o governo regular, de 30% para 24%, mesma proporção do grupo que apoia o presidente
Por Pedro Caramuru
A proporção de brasileiros que reprovam o presidente Jair Bolsonaro ultrapassou fatia de metade da população e atingiu o maior nível desde o início do mandato em 2019, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, 8, pelo jornal Folha de S. Paulo. De acordo com o levantamento, 51% avaliam o governo como ruim ou péssimo, 6 pontos porcentuais a mais que o último levantamento, em maio.
Já os que avaliam a gestão como regular somam 24% da população, 6 pp a menos que há dois meses. Os que avaliam como bom ou ótimo são 24%, número estável desde o levantamento passado. Não responderam somam 1%. A pesquisa tem margem de erro de 2 pontos porcentuais. Foram ouvidas 2.074 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 7 e 8 de julho em 146 municípios.
A piora da avaliação do governo coincide com os avanços da CPI da Covid e novas denúncias de supostos esquemas de corrupção. A deterioração da imagem presidencial aconteceu principalmente entre a parcela da população que ganha até dois salários mínimos. A avaliação negativa neste grupo cresceu 9 pontos porcentuais em dois meses, de 45% para 54%.
Entre os grupos que reprovam o governo, têm destaque os que preferem o PT, 79% desta fatia, os estudantes, 61%, moradores da região Nordeste, 60% e quem ganha mais de dez salários mínimos, 58%. Dos que aprovam, o governo é bem avaliado por 49% dos empresários, 36% dos que preferem partidos além de PT, MDB e PSDB, 34% dos moradores do Centro-Oeste e 32% de quem tem mais de 60 anos.
Em entrevista à Folha, o ex-presidente Michel Temer disse que impeachment de Bolsonaro é possível apenas com o “povo nas ruas”
Com Isto é
Michel Temer (MDB) afirmou à Folha que “povo na rua” é a única maneira de levar ao impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o ex-presidente, “o Congresso não derruba ninguém sozinho.”
“Quem derruba presidente não é o Congresso, é o povo nas ruas. Povo nas ruas sensibiliza o Congresso, que acaba acolhendo a manifestação da rua. Veja, eu tive aquelas tais denúncias, não aprovaram porque não tinha povo na rua. Não tinha um cidadão na frente do Congresso [apesar de haver protestos contra Temer na época que assumiu a presidência, foram de menor intensidade],” explicou
Em entrevista publicada na quarta, 7, Temer também disse não achar “útil” o início do processo de impeachment agora: “Se formos cronometrar, vai levar oito, nove meses, chegando nas eleições. Vale a pena? Convenhamos, o pessoal que apoia o presidente é tão ou mais ativo do que do PT.”
Nos últimos meses, diversas cidades do Brasil organizaram grandes protestos para pedir o impeachment de Bolsonaro. Em meio às denúncias de corrupção e irregularidades envolvendo compras de vacinas, as manifestações ganharam alcance internacional:
Como uma alternativa de superar o atual sistema “roto e esfarrapado” brasileiro, o ex-presidente defende o semipresidencialismo. A forma de governo consiste no Chefe de Estado partilhando o poder executivo com um primeiro-ministro e um gabinete.
“Você dá atribuições ao presidente, mas só tem governo, com primeiro-ministro indicado por ele, se tiver maioria parlamentar. Mas tem de ser semi, não parlamentarismo puro, porque o brasileiro quer eleger o presidente, quer o ver com poder (...),” explicou.
Sobre as próximas eleições para presidente, Temer acredita que o novo chefe de Estado precisa ser experiente, mas nega participar da corrida presidencial: “Já fiz de tudo,” disse à Folha.