Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues
A pouco mais de um ano da disputa eleitoral, o cenário político do Tocantins para 2026 se mostra cada vez mais complexo, especialmente na composição das chapas proporcionais. O coeficiente eleitoral, tanto para a Assembleia Legislativa quanto para a Câmara dos Deputados, será um divisor de águas. Partidos que não se organizarem com nominatas consistentes e competitivas correm o risco de nadar e morrer na areia, mesmo com tempo de televisão garantido e acesso a fundos eleitorais expressivos.
É hora de fazer as contas. Há partidos com estrutura financeira e espaço no horário eleitoral gratuito, mas sem apresentar nomes com potencial de votos suficientes para compor chapas que assegurem cadeiras. Nesse grupo estão siglas tradicionais, como MDB, PSDB e até mesmo o Progressistas, que enfrenta contradições dentro da federação firmada com o União Brasil.
O MDB rachado
Deputado Amélio Cayres e Alexandre Guimarães
O MDB, presidido atualmente pelo deputado federal Alexandre Guimarães, vive uma encruzilhada. Guimarães, que se elegeu em 2022 pelo Republicanos de Wanderlei Barbosa, migrou para o MDB, mas hoje encontra-se isolado da velha guarda do partido. O racha é evidente pois de um lado, o ex-governador Marcelo Miranda e sua esposa, a ex-primeira-dama Dulce Miranda, que deve se filiar ao União Brasil, atraem lideranças da região Sudeste, do Bico do Papagaio, do Vale do Araguaia e de Palmas. De outro, políticos históricos do MDB caminham ao lado do governador interino Laurez Moreira, como o ex-secretário de Segurança Pública Dr. Buty e o ex-senador Jacques Silva.
Essa divisão compromete a capacidade de o MDB formar uma nominata sólida. Para Alexandre Guimarães, que chegou a ser cotado para o Senado em uma chapa liderada por Amélio Cayres com apoio de Wanderlei Barbosa, restam dois caminhos: retornar ao Republicanos, partido que lhe garantiu a eleição anterior, ou tentar montar uma chapa federal que consiga ao menos 80 mil votos, patamar mínimo para sua reeleição.
O PSDB e a dificuldade de manter espaço
Deputado Eduardo Mantoan e a ex prefeita Cinthia Riberio
O PSDB não vive situação mais confortável. A ex-prefeita Cinthia Ribeiro, presidente estadual da sigla, chegou a ser cogitada como vice de Amélio Cayres antes do afastamento de Wanderlei Barbosa. Seu marido, o deputado Eduardo Mantoan, havia declarado apoio ao presidente da Assembleia Legislativa dias antes da substituição do governador afastado por Laurez Moreira.
O desafio tucano agora é construir duas nominatas competitivas em um cenário eleitoral já saturado. Para manter Mantoan na Assembleia, será preciso garantir cerca de 42 mil votos em uma chapa estadual. Já Cinthia, caso confirme sua candidatura à Câmara, precisará de uma nominata federal com capacidade de somar mais de 80 mil votos. O problema é que o “mercado eleitoral” já foi praticamente absorvido por partidos maiores, restando poucos nomes com real potencial de votos.
Dorinha, o PP, o União Brasil e a disputa pelo Senado
Dorinha e os deputados federais Carlos Gaguim e Vicentinho Júnior
Se no campo das proporcionais o cenário é desafiador, nas majoritárias a disputa é ainda mais acirrada. O deputado federal Vicentinho Júnior mantém sua pré-candidatura ao Senado, mas enfrenta dificuldades dentro da federação União Brasil/PP, que obriga uma decisão única em convenção. O União Brasil já lançou o deputado Carlos Gaguim como candidato a senador, com respaldo da executiva nacional, e como primeira suplente a irmã do presidente nacional do partido, Mila Rueda.
Essa configuração cria atrito direto com Vicentinho. O clima azedou, e o impasse precisa ser resolvido, uma vez que não convém à federação apresentar dois candidatos e formar uma chapa puro sangue.
Na verdade, Dorinha que lidera as pesquisas de intenção de votos para o governo do Estado e preside a federação União Brasil/PP no Tocantins tem sido categórica e tem afirmado que os dois pré-candidatos ao Senado, Gaguim e Vicentinho, precisam encontrar uma forma de medir quem está mais forte e mais encorpado politicamente. E como a senadora é quem comanda a federação no Estado, não precisa dizer mais nada.
A possibilidade de Vicentinho buscar um caminho alternativo existe, como a composição na chapa majoritária de Laurez Moreira ao lado do senador Irajá. No entanto, para isso, ele precisaria do aval da cúpula do PP, evitando riscos de perda de mandato por infidelidade partidária.
Vicentinho, filho do ex-senador Vicentinho Alves, tem serviços prestados e base consolidada, mas o jogo interno na federação ameaça seu projeto. A disputa entre Gaguim, Dorinha e Vicentinho expõe fragilidades na aliança União Brasil/PP e pode redefinir os rumos da eleição ao Senado.
As vagas ao Senado e o peso das composições
Em 2026, duas vagas ao Senado estarão em disputa. Uma será ocupada pelo atual senador Eduardo Gomes (PL), que buscará a reeleição. A outra está em aberto, mas com Gaguim já lançado pelo União Brasil e Vicentinho tentando viabilizar seu espaço, a composição das chapas majoritárias se torna peça-chave.
Especulações dão conta de que Vicentinho poderia integrar a chapa de Laurez Moreira com Irajá, mas a definição dependerá das negociações nas cúpulas partidárias. Enquanto isso, a candidatura de Gaguim, apesar do apoio nacional, ainda precisa superar resistências locais e garantir musculatura política suficiente.
Um jogo de sobrevivência
Ex senadora Kátia Abreu e o governador em exercício Laurez Moreira
A sucessão estadual e as disputas proporcionais no Tocantins em 2026 se desenham como um verdadeiro xadrez político. MDB, PSDB, PP e União Brasil enfrentam dilemas internos que podem comprometer não apenas seus projetos majoritários, mas também a sobrevivência de suas bancadas na Assembleia e na Câmara.
A ausência de nominatas competitivas, a fragmentação de lideranças e as disputas internas podem levar partidos tradicionais à estagnação ou mesmo à perda de representatividade. Mais do que nunca, a eleição de 2026 será um teste de sobrevivência.
A pergunta que se impõe, diante de tantos imbróglios, é inevitável: quem escapará da guilhotina das urnas no próximo ano?