Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues
A decisão do STF que devolveu o governo a Wanderlei Barbosa redesenha o tabuleiro político do Tocantins em um momento decisivo para a disputa de 2026. A interinidade de Laurez Moreira produziu movimentos silenciosos, tentativas de reposicionamento e uma nova engenharia de alianças que agora perde sustentação com o retorno do titular ao Palácio Araguaia. A consequência imediata é a reorganização da administração, a revisão de compromissos assumidos nesse período e a retomada de uma agenda centralizada no comando político de Wanderlei.
O PRIMEIRO IMPACTO

O primeiro impacto político do retorno do governador ao Palácio Araguaia foi imediato: a retomada fortalece o grupo da senadora Dorinha Seabra e do senador Eduardo Gomes, ao lado de Carlos Gaguim. Para aliados próximos, essa recomposição chega como “presente de final de ano” para os três principais articuladores do bloco, que vinham mantendo pontes com o governo mesmo durante a interinidade.
Nos bastidores do Palácio, a avaliação é de que Eduardo Gomes funcionou como verdadeiro porto seguro de Wanderlei em Brasília, garantindo articulação e apoio logístico no período mais tenso do processo. O senador evitou exposição pública, mas trabalhou internamente pela estabilidade do governo, movimento que agora rende dividendos políticos e reforça sua presença estratégica na condução do projeto para 2026.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

Outro fator decisivo foi a postura da Assembleia Legislativa. Pressionado a pautar um dos pedidos de impeachment apresentados contra o governador, o presidente da Casa, deputado Amélio Cayres, não cedeu. A resistência funcionou como sinal político claro de lealdade ao governador, garantindo que o processo não fosse usado como instrumento para uma ruptura institucional durante a interinidade.
O papel de Cayres foi interpretado dentro do governo como movimento firme, e sobretudo estratégico. Apenas o presidente da Assembleia tem prerrogativa de colocar um pedido de impeachment em votação, e a decisão de não avançar preservou a estabilidade institucional e evitou que a crise jurídica se transformasse em crise política.
Durante o período, apenas dois ou três parlamentares adotaram posição alinhada ao governo interino. A maioria permaneceu fiel ao governador afastado, o que garantiu ambiente político suficiente para o retorno de Wanderlei por decisão liminar do ministro Nunes Marques, restabelecendo o mandato legitimado pelas urnas.
OS SUBSTITUTOS COLOCADOS NO GOVERNO

Durante os dias em que esteve no comando, Laurez avançou em nomeações, abrindo espaço para atores que vinham operando como substitutos em secretarias, autarquias e superintendências. Esses quadros apostaram que a decisão do Supremo demoraria e, ao assumir cargos-chave, passaram a operar com agenda própria. A volta de Wanderlei dissolve essa construção e impõe uma recomposição imediata. Quem ocupou funções provisórias perde força, quem aguardava retorno volta ao centro das decisões, e setores que vinham ensaiando novos caminhos retornam ao alinhamento original do governo.
HOMERO BARRETO, OLYNTHO NETO E AS INGRATIDÕES POLÍTICAS

A reviravolta também expôs lealdades frágeis. Entre os aliados que surpreenderam pela mudança de rota, o ex-superintendente da Codevasf, Homero Barreto, se tornou símbolo de desconforto dentro do grupo de Wanderlei e do senador Eduardo Gomes. Elevado ao cargo federal com apoio político direto do senador, Homero aproveitou o governo interino para reposicionar sua atuação, gesto interpretado como traição dentro do Palácio Araguaia.

O deputado estadual Olyntho Neto repetiu movimento semelhante: desembarcou do grupo de Wanderlei e buscou abrigo junto ao governo provisório, numa leitura que misturou ambição eleitoral e cálculo oportunista. Agora, os dois terão dificuldade para recuperar espaço. O retorno do titular ao governo empurra Homero e Olyntho para fora do núcleo político que antes os protegia.
OS VICENTINHOS

Entre aqueles que apostaram na interinidade de Laurez está o deputado federal Vicentinho Júnior, pré-candidato ao Senado e aliado direto do vice-governador. Ele precisará mudar do PP, hoje federado com o União Brasil, legenda comandada no Tocantins pela pré-candidata ao governo, senadora Dorinha, e que já tem duas candidaturas ao Senado confirmadas: Eduardo Gomes e Carlos Gaguim. O deputado Vicentinho Júnior deve mudar de partido na janela partidária de abril sem risco de perda de mandato.
Seu pai, o ex-senador Vicentinho Alves, também havia caminhado ao lado de Laurez e apresentou como apoio político os próprios filhos prefeitos: Thiago Tapajós (Pindorama) e Neto Aires (Ipueiras). O grupo deve se posicionar nos próximos meses sobre o rumo que pretende seguir na sucessão estadual.
OS ANDRADES

O deputado federal Toinho Andrade, eleito pelo Republicanos, partido presidido no Tocantins pelo governador Wanderlei Barbosa, já estaria em busca de uma nova sigla para se filiar em abril, quando se abre a janela eleitoral que permite aos parlamentares mudarem de partido sem risco de perda de mandato.
O movimento inclui também seu irmão, o ex-prefeito de Porto Nacional Otoniel Andrade, ambos anunciados como pré-candidatos a deputado estadual em 2026 e que, portanto, precisarão consolidar novas bases partidárias para se manter competitivos no próximo pleito.
Os dois, vale lembrar, já haviam se afastado de Wanderlei antes mesmo do período de afastamento temporário do governador, mesmo ocupando espaços estratégicos no governo estadual. Toinho, inclusive, mantém forte influência na máquina pública em Porto Nacional, com indicação de cargos e centenas de contratos comissionados em diferentes órgãos estaduais. O baque político para a família tende a ser significativo, ainda mais considerando que um dos filhos chegou a ocupar posição na gestão interina de Laurez Moreira. Na política, cada escolha cobra um preço e o cenário atual coloca os irmãos Andrade diante das consequências de suas próprias decisões.
ARAGUAÍNA

Em Araguaína, a articulação passou essencialmente pelas mãos do ex-prefeito Ronaldo Dimas, supersecretário no governo interino, e do deputado federal Tiago Dimas. Pai e filho estiveram na base de Laurez, administrando espaços estratégicos durante a interinidade. Com a liminar recolocando Wanderlei no Palácio, o bloco de Araguaína volta a reposicionar cálculo político e avaliar caminhos para 2026.
EDUARDO GOMES EM SILÊNCIO ESTRATÉGICO
Eduardo Gomes preferiu manter silêncio público durante todo o processo, preservando sua posição institucional e evitando alinhar-se de forma ostensiva a qualquer lado. O senador, que acumula força em Brasília e trabalha para ampliar aliados no estado, agora retoma sua articulação no ritmo próprio, sem ter colocado suas fichas integralmente em nenhum dos lados durante a interinidade. O silêncio foi estratégia e funcionou. Eduardo volta à cena sem desgastes e com espaço para seguir influenciando os rumos políticos do Tocantins.
Em meio ao retorno de Wanderlei, o senador Eduardo Gomes discursou em Palmas dentro do encontro do PL e reforçou a defesa da anistia ampla, geral e irrestrita. Aproveitou o palco para projetar crescimento da direita em 2026 e, ao mesmo tempo, marcar presença no debate estadual. Sua mensagem foi dupla: reposicionar o PL no cenário nacional e sinalizar que o projeto conservador para o Tocantins terá força independentemente do comando momentâneo do governo estadual.
KÁTIA ABREU E UM JOGO SEM PRECIPITAÇÕES

Kátia Abreu também operou com cautela. Com trânsito histórico no estado e articulação nacional consolidada, do outro lado, a ex-senadora Kátia Abreu enfrenta um momento decisivo. O julgamento da Segunda Turma do STF é especialmente sensível para seu grupo político, que conta com Irajá Abreu buscando reeleição ao Senado e Iratã Abreu articulando candidatura a deputado federal. Ambos vinham ganhando fôlego durante a interinidade, com trânsito consolidado junto ao governo provisório. A volta de Wanderlei altera o eixo e diminui espaço. Se o STF confirmar a liminar, o impacto eleitoral pode ser imediato. Se reverter, o desgaste institucional já está feito. Em qualquer hipótese, o cenário ficou mais difícil para a família Abreu.
DORINHA E A EQUAÇÃO DAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

No caso de Dorinha, o cenário é mais delicado. A senadora e pré-candidata ao governo e tem se movimentado em torno de prefeitos e lideranças regionais avaliando composições para 2026. A presença da senadora Dorinha Seabra no evento do PL foi interpretada como movimento calculado de aproximação com o eleitorado mais conservador. Ao citá-la publicamente e reforçar sua trajetória, Eduardo Gomes jogou luz sobre a possibilidade de Dorinha ser o nome capaz de dialogar com o grupo bolsonarista no Estado. Para 2026, essa aproximação não é um detalhe: pode redesenhar alianças e abrir espaço para uma candidatura competitiva dentro da centro-direita tocantinense.
LAUREZ E A TENTATIVA DE GOVERNO NO RELÓGIO

Laurez Moreira tentou, nesse curto período, consolidar a imagem de gestor responsável e articulador político confiável, posição estratégica para quem sonha com maior protagonismo em 2026. A aposta era usar a interinidade como vitrine. A volta imediata de Wanderlei interrompe esse movimento e devolve Laurez para a condição anterior importante, mas não central. Seu esforço, no entanto, produziu efeitos: ele mostrou capacidade administrativa e gerou apreensão em setores do governo, o que não será esquecido na próxima composição.
O JOGO RECOMEÇA

Ao reassumir o governo, Wanderlei Barbosa retorna com mais informações do que quando saiu. Agora sabe quem manteve lealdade, quem ensaiou novas alianças e quem avançou sob a sombra da interinidade. O governo volta ao ponto anterior, mas as relações internas mudam. O jogo recomeça e Wanderlei, desta vez, entra sabendo quem realmente joga com ele.