Por Edson Rodrigues
O Observatório Político de O Paralelo 13 faz uma análise minuciosa e atualizada do cenário político tocantinense para as eleições de 2026, com destaque para a disputa ao Senado, que já se desenha como a mais acirrada da próxima corrida eleitoral. Com duas vagas em jogo, a eleição vai exigir dos candidatos mais do que votos consolidados, vai exigir articulação, infraestrutura robusta e habilidade para formar alianças improváveis.
Apoio de prefeitos não é garantia, mas pesa
Nos bastidores, observa-se um cenário confuso e fragmentado. Prefeitos que apoiam determinados pré-candidatos ao governo, por exemplo, dividem seus apoios ao Senado entre diferentes grupos. Há casos em que os chefes do Executivo municipal endossam nomes que sequer estão na chapa majoritária do candidato a governador que escolheram apoiar.
Isso evidencia que, embora influentes, prefeitos não têm o poder absoluto de definir o sucesso de uma candidatura ao Senado neste momento. Esse peso só se consolidará após convenções, registros e homologações. Até lá, os pré-candidatos continuarão mapeando redutos eleitorais e tentando costurar dobradinhas inteligentes, inclusive entre adversários, mirando especialmente o “segundo voto”, que será determinante para a definição da segunda vaga.
Além da habilidade política, os nomes mais competitivos deverão dispor de estrutura logística e recursos financeiros suficientes para manter uma campanha robusta em todo o estado.
Nomes no tabuleiro
A senadora Dorinha Seabra (União Brasil) já assumiu publicamente sua pré-candidatura ao Governo e trabalha com os nomes dos deputados federais Carlos Gaguim (União Brasil) e Vicentinho Júnior (PP) para o Senado. Ela articula uma aliança partidária sólida, apostando em um arranjo político com base, experiência e presença nacional.
Do lado governista, o presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (PSD), também é pré-candidato ao Governo, deve contar com a candidatura à reeleição do senador Eduardo Gomes (PL).
Eduardo Gomes é líder em liberação de recursos federais para os municípios tocantinenses, tem apoio dos prefeitos dos principais colégios eleitorais, tem apoiado os municípios médios e pequenos sem arestas com nenhum outro partido político. As últimas pesquisas para a vaga de senador, Gomes aparece em segundo lugar, sendo o primeiro colocado o governador Wanderlei Barbosa. A segunda vaga, na chapa de Amélio Cayres segue indefinida, mas poderá ser ocupada por Alexandre Guimarães (MDB), caso o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) opte por não entrar na disputa.
A possível candidatura de Wanderlei Barbosa ao Senado é um fator de peso. Com mais de 85% de aprovação popular e um pacote de obras estimado em R$ 900 milhões até o fim do ano, o governador é um nome competitivo. Caso renuncie ao mandato para concorrer, transfere o comando do Executivo ao vice, que passa a dispor de toda a máquina pública, orçamento e cargos, transformando-se automaticamente em um novo polo de poder. Isso enfraqueceria o projeto de Cayres e abriria espaço para candidaturas como a de Laurez Moreira (PDT), que seria o novo governador.
Laurez Moreira, atual vice-governador e ex-prefeito de Gurupi, trabalha discretamente na consolidação de sua pré-candidatura ao Governo. Ainda sem nomes definidos para o Senado, articula com partidos de centro-esquerda e mantém boa margem de manobra para futuras composições.
Do lado petista, Paulo Mourão aguarda o resultado do segundo turno da eleição interna do PT, marcada para 27 de julho. Se o grupo aliado a ele vencer, Mourão ganha legitimidade para conduzir a estratégia do partido rumo a 2026. Uma eventual fusão com o PDT não está descartada, caso um dos dois nomes (ele ou Laurez) não decole nas pesquisas. A união entre PT e PDT, embora improvável hoje, é considerada possível por interlocutores dos dois lados.
Por outro lado, Mauro Carlesse, ex-governador, ainda sem partido, chegou a ensaiar um retorno à política, mas se recolheu. Segundo avaliação do Observatório, uma candidatura ao Senado ou ao Governo é improvável. Caso retorne, o caminho mais viável seria uma candidatura à Assembleia Legislativa.
Palácio Araguaia
A permanência ou não de Wanderlei Barbosa no cargo até o fim do mandato é o ponto mais sensível da sucessão. Se decidir permanecer, fortalece Amélio Cayres, seu pré-candidato ao Governo, que se tornará o nome oficial do Palácio Araguaia com apoio institucional, acesso à máquina, influência entre os deputados estaduais e respaldo de prefeitos. Com isso, o projeto governista ganha musculatura, podendo até mesmo vencer no primeiro turno.
Mas se optar por disputar o Senado, Wanderlei corre o risco de perder a capacidade de transferência de votos. Amélio deixaria de ser o candidato da máquina e o vice-governador, agora no comando, passaria a montar sua própria estratégia, com a caneta na mão, o Diário Oficial, o orçamento do Estado e o poder de nomeação nas mãos. Nesse cenário, nomes como Laurez ganham força, enquanto aliados de Wanderlei na estrutura do governo podem perder espaço e cargos.
Ainda assim, Wanderlei Barbosa é considerado um dos nomes com maior chance de ser eleito senador, mesmo sem a máquina, dada sua popularidade e capilaridade política.
Oposição arma palanque
Sem acesso à estrutura do Estado nem da União, Dorinha Seabra sabe que terá de travar uma campanha pesada, investindo na eleição de uma base sólida de deputados federais e estaduais para dar sustentação à sua candidatura ao Governo e às vagas ao Senado. Ela aposta em uma dobradinha entre Gaguim e Vicentinho, e articula alianças com foco em palanques regionais fortes no segundo turno.
No entanto, por ser oposição tanto ao Palácio Araguaia quanto ao Palácio do Planalto, precisará de fôlego financeiro e logístico para manter sua campanha até o fim. Um segundo turno presidencial entre Lula e a oposição pode favorecer suas chances. Mas se o presidente for reeleito em primeiro turno, o cenário tende a se complicar.
PT: no compasso da direção
O futuro do PT no Tocantins depende da eleição interna do partido. De um lado, o grupo do ex-deputado Zé Roberto; do outro, os aliados de Paulo Mourão e Célio Moura, que apoiam Milli na disputa. O resultado do segundo turno, no próximo dia 27, será determinante para definir se Mourão terá espaço para articular como cabeça de chapa ou se o partido será atraído por outra composição.
Cenário indefinido
A sucessão estadual de 2026 é uma verdadeira salada mista com alianças cruzadas, interesses regionais, vaidades políticas e estruturas assimétricas de poder. Há candidatos que têm votos, mas não têm estrutura. Outros têm estrutura, mas ainda não têm densidade eleitoral.
O eleitor será decisivo. Ao votar duas vezes para o Senado, poderá equilibrar o jogo e criar um novo cenário político. O desafio para os candidatos é conquistar não apenas a cabeça do eleitor, mas também o seu segundo voto silencioso, estratégico e muitas vezes imprevisível.
O Observatório Político de O Paralelo 13 reforça que esta análise foi construída a partir de informações e articulações em curso até julho de 2025. Nos próximos meses, com a definição das candidaturas, as convenções partidárias e o início oficial da campanha, o cenário poderá se confirmar, se redesenhar ou se reinventar completamente. Seguimos acompanhando.