Por Edson Rodrigues
Os eleitores de todo o mundo já foram alertados sobre o uso criminoso de ferramentas da Inteligência Artificial – IA – em campanhas políticas, principalmente quando utilizadas para denegrir a imagem de adversários. Mas, a evolução e o barateamento dessa tecnologia que permite a criação e a divulgação de vídeos e áudios manipulados, fez aumentar exponencialmente os casos comprovados de manipulação de informações (três casos nas eleições de 2022 contra incríveis 109(!) em 2024).
A grande preocupação é que os órgãos de fiscalização e repressão não conseguem acompanhar a evolução das ferramentas de IA, colocando a Justiça Eleitoral sempre um passo atrás em relação aos criminosos tecnológicos, que se especializam à mesma velocidade com que as ferramentas são atualizadas.
Especialistas reforçam que vídeos ultrarrealistas, produzidos com imagens manipuladas —como os que circularam recentemente sobre o papel do presidente Lula e de integrantes do governo no escândalo dos descontos indevidos do INSS, ou de anúncio de impostos que nunca existiram, e até de uma proposta de Bolsa Família para mães de bebês reborn — têm alto potencial de alterar o resultado de uma eleição.
Em um país como o Brasil em que o grande diferencial das campanhas políticas se concentra nos programetes e no Horário Eleitoral Obrigatório de Rádio e TV, o perigo de uma peça produzida por IA influenciar no processo eleitoral cresce ainda mais.
SOLUÇÃO
A sorte do povo brasileiro, especificamente, é que, tradicionalmente, somos uma nação de desconfiados.
Segundo os especialistas, essa desconfiança natural do povo brasileiro pode ser o antídoto contra a evolução do uso negativo da Inteligência Artificial, principalmente em períodos eleitorais.
Mesmo com o acesso à internet se tornando cada vez mais facilitado, segundo o IBGE a população brasileira está envelhecendo. A pirâmide etária brasileira continuará mostrando um padrão de envelhecimento populacional, com redução da taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida, pelo menos nos próximos 10 anos.
Isso torna a tradicionalidade – ou, neste caso , a desconfiança – uma característica da maioria do eleitorado, o que significa que, mesmo com o aumento do acesso à internet, a população eleitoralmente ativa ainda vai estar intrinsecamente ligada a velhos hábitos. E isso se traduz na busca por informações nos veículos de comunicação mais tradicionais, o que inclui, prioritariamente, os jornais impressos e as suas versões digitais.
Mesmo que as peças de vídeo e áudios ganhem destaque, ou seja, viralizem, os eleitores brasileiros buscarão a confirmação do conteúdo dessas peças nos veículos tradicionais de comunicação. Ou seja, se os jornais ou seus sites não confirmarem o conteúdo dos vídeos ou áudios, os eleitores saberão que a informação é falsa.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria a favor da responsabilização das redes sociais por conteúdos ilegais publicados em suas plataformas, durante o julgamento do Marco Civil da Internet. Isso significa que os portais onde foram publicados não precisarão aguardar uma decisão judicial para remover conteúdos falsos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se manifestou pela primeira vez sobre uso de inteligência artificial apenas no ano passado. A Corte determinou que o uso da ferramenta é liberado desde que haja um aviso na publicação de que aquele conteúdo foi gerado por IA.
Felizmente, o eleitor brasileiro já vem com o seu próprio “sistema de alerta” contra o uso indevido da Inteligência Artificial e tem nos veículos de comunicação tradicionais sua “bússola”.
Amém!