Agrotins 2025: discursos afinados marcam nova fase de união política no Tocantins

Posted On Segunda, 12 Mai 2025 04:44
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A abertura da Agrotins 2025, maior feira do agronegócio da região Norte, foi muito mais que um evento técnico. Tornou-se, simbolicamente, o palco da nova engenharia política que começa a tomar forma no Tocantins. Em vez de ataques, vaidades e ruídos internos, os discursos das principais lideranças do Estado ecoaram acenos mútuos, apelos à unidade e recados milimetricamente calculados, tudo com a contundência que se insinua nas entrelinhas

 

 

Por Edson Rodrigues

 

 

Quem prestou atenção às falas das lideranças presentes percebeu que há um novo clima no ar. O tom combativo, agressivo que por décadas emperrou projetos e dissolveu alianças estratégicas cede espaço a uma tentativa, ainda inicial, de convivência madura. Cada qual segue seu próprio roteiro eleitoral para 2026, mas com um pacto de não agressão.

 

Eduardo Siqueira

 

O prefeito da capital não economizou nos recados. Acenou ao governador Wanderlei Barbosa, alfinetou a gestão passada sem citar nomes, mirando claramente a ex-prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) e mandou mensagens internas. Falou de um “rombo de mais de R$ 200 milhões” herdado da administração anterior e lamentou o impacto nas ações da prefeitura.

 

Deixou no ar que a máquina só começou a funcionar quando “fofoqueiros” e “gente que faz intriga” foram afastados. A fala soou mais como desabafo do que como protocolo. Eduardo exaltou o bom relacionamento com Wanderlei, chamou o governador de generoso e destacou que nunca teve uma parceria tão fluida. Fez ainda um alerta contra a “vaidade política” e defendeu a humildade como princípio de governo.

 

Eduardo Gomes

 

Um dos grandes viabilizadores de recursos federais para o Tocantins, o senador Eduardo Gomes, hoje no topo da hierarquia do Congresso como primeiro vice-presidente do Senado, não participou da abertura da Agrotins este ano, uma vez que cumpria outras agendas enquanto presidente do Senado em exercício. No entanto, no decorrer da semana, o presidente do senado em exercício participou da assinatura da Ordem de Serviço para a construção da Maternidade da Mulher em Palmas e da entrega de mais de 140 ônibus zero quilômetro para o transporte urbano na Capital. Nestas agendas, Eduardo Siqueira, Wanderlei Barbosa e Eduardo Gomes estavam juntos e falando a mesma língua.

 

Com trânsito privilegiado em Brasília, Gomes já garantiu, só neste mandato, mais de R$ 700 milhões em emendas e R$ 1,4 bilhão diretamente dos ministérios, valores que irrigaram as gestões de Mauro Carlesse, de Wanderlei Barbosa e dos 139 municípios.

 

Dorinha, Irajá e o tabuleiro de 2026

 

 

A senadora Professora Dorinha (União Brasil) segue pavimentando sua pré-candidatura ao governo. Com apoio do chamado G5+, que reúne cinco prefeitos das principais cidades do Tocantins, além do apoio de gestores da região do Vale do Araguaia, e boa articulação interna no União Brasil, Dorinha vem se apresentando como alternativa viável para a disputa majoritária. Um encontro com o Observatório Político de O Paralelo 13, na próxima terça-feira, pode revelar mais detalhes da estratégia e dos aliados que ela busca reunir.

 

Já o senador Irajá Abreu (PSD) escolheu outro caminho: oposição clara ao Palácio Araguaia. Sua atuação tem sido marcada por firmeza e por manter distância política do governador. Irajá tem liberdade para isso e a usa com estratégia. Mas, ao se afastar de um núcleo que busca agregar, corre o risco de perder centralidade. Mesmo assim, mantém apoio de mais de 20 prefeitos eleitos pelo PSD e ótimo relacionamento com gestores de Araguaína, Paraíso e Porto Nacional. Ainda não definiu se será candidato à reeleição ou à Câmara Federal. É uma carta no baralho sucessório de 2026 que ninguém deve subestimar.

 

Vicentinho, Laurez e Amélio: política sem trincas

 

 

O deputado federal Vicentinho Júnior (Progressistas), em sua fala durante a Agrotins, foi direto ao ponto: “briga e desavença não fazem parte do meu vocabulário”. Seu discurso reforçou o tom pacificador que tem marcado o ambiente político recente no Tocantins. Já o vice-governador Laurez Moreira (PDT), embora também adote uma postura de diálogo com diversas correntes, enfrenta um momento politicamente sensível. A crise nacional que atingiu o PDT, após a revelação de um rombo de mais de R$ 6,5 bilhões no INSS, provocou turbulência na sigla. A exoneração do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, acusado de omissão mesmo após alertas do TCU em 2023, escancarou o desgaste. Embora o PDT tocantinense não tenha qualquer envolvimento no escândalo, o silêncio de Laurez, que preside o partido no Estado sobre o caso tem gerado desconforto entre aliados.

 

Enquanto isso, o presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (Republicanos), segue numa linha estratégica e ambiciosa, quer ser candidato ao governo com o apoio direto do governador Wanderlei Barbosa já no início de 2026. Para isso, tem intensificado os diálogos com prefeitos, dirigentes partidários e lideranças da base aliada, buscando consolidar seu nome como opção viável dentro do próprio grupo governista. Amélio evita confrontos públicos e tenta pavimentar seu projeto com base na lealdade, na construção de alianças e no compromisso de seguir o caminho coletivo.

 

Wanderlei: maestro da sinfonia pela união

 

No centro de tudo está o governador Wanderlei Barbosa, que assumiu, por ora, o papel de maestro de uma orquestra onde todos querem tocar a mesma música: a da gestão, da entrega de resultados e da coesão política. Com mais de 80% de aprovação, o governador evita antecipar o debate de 2026. Reitera que não boicotará ninguém que deseje disputar o governo ou o Senado. “Este é o ano da gestão, não da disputa”, repete.

 

O recado da Agrotins

 

A Agrotins 2025 foi mais do que a abertura de uma feira: foi a abertura de uma nova temporada política. O tom do diálogo e da composição substitui, ao menos por agora, o ruído das intrigas. O Tocantins parece começar a experimentar uma política feita com responsabilidade, maturidade e menos combustão. Aos pré-candidatos ao governo e ao Senado é hora de colocar a mão na massa, manter o fogo médio e pé na estrada. O jogo já começou! E o eleitor tocantinense está mais atento do que nunca.

 

 

Última modificação em Segunda, 12 Mai 2025 06:49
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