Por João Bosco Campos
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), programada para novembro de 2025 em Belém do Pará, foi anunciada como um marco histórico: a primeira vez em que o coração da Amazônia receberá líderes mundiais para debater o futuro climático do planeta. Mas, a menos de 90 dias da abertura, a realidade expõe um conjunto de dificuldades que colocam em dúvida o caráter inclusivo e transformador do evento.
O primeiro grande obstáculo é o custo da hospedagem e dos serviços. Com a especulação em torno da chegada da COP, os preços em Belém se multiplicaram de forma exorbitante, criando uma barreira quase intransponível para organizações da sociedade civil, movimentos sociais e delegações de países em desenvolvimento.
A contradição é evidente: enquanto se discute justiça climática e a inclusão de vozes historicamente marginalizadas, os próprios povos que vivem os impactos diretos da crise ambiental correm o risco de ficarem de fora do espaço oficial. Lideranças indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhas e jovens ativistas denunciam que, sem políticas públicas de apoio, a COP 30 pode se transformar em um evento elitizado, onde apenas governos e grandes corporações terão assento.
Diante desse cenário, cresce a importância da Cúpula dos Povos, evento paralelo organizado por movimentos sociais, ONGs, coletivos e redes internacionais. O espaço pretende ser um contraponto democrático ao encontro oficial, trazendo para o centro do debate as realidades concretas de comunidades que resistem à devastação da Amazônia e de outros biomas.
Para seus organizadores, a Cúpula simboliza não apenas resistência, mas também coerência: enquanto governos negociam metas muitas vezes distantes da realidade, os povos apresentam soluções baseadas em saberes tradicionais, agroecologia, justiça territorial e direitos humanos.
O discurso oficial brasileiro tem sido o de colocar o país na liderança da agenda climática mundial. No entanto, a prática aponta para contradições profundas. Dois exemplos recentes revelam o descompasso entre retórica e ação:
Essas decisões fragilizam a credibilidade do Brasil. Como exigir metas mais ambiciosas de redução de emissões de países ricos se, internamente, o país insiste em megaprojetos de impacto ambiental devastador?
A COP 30 é uma oportunidade histórica para o Brasil mostrar ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento com preservação. Mas, até agora, o que se vê é um cenário marcado por contradições: discursos verdes diante de práticas que reforçam velhas lógicas de exploração.
Se não houver mudanças concretas — desde políticas que garantam a presença da sociedade civil até a revisão de projetos que ameaçam a Amazônia e seus povos —, Belém corre o risco de entrar para a história não como palco de uma revolução climática, mas como símbolo da distância entre o que se promete em palanques internacionais e o que se pratica no território nacional.
João Bosco Campos é Jornalista, Administrador, Eng. Agrônomo, Analista, Auditor e Perito Ambiental, Escritor, Poeta, Conferencista, Palestrante, Cronista.