Governo tem adotado uma postura combativa diante do que considera uma medida protecionista injustificada
Por Giovana Cardoso e Luiza Marinho
A oito dias do início da taxação de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, o governo busca soluções para impedir o avanço da medida. Além do Brasil, outros países como Indonésia, integrantes da União Europeia, Canadá e Japão também sofreram com a imposição de tarifas.
Entretanto, muitos deles, conseguiram acordos que podem diminuir o impacto nas respectivas economias, apesar de criar uma maior dependência com os EUA.
Em meio à crise entre os EUA e o Brasil, o governo brasileiro tem adotado uma postura combativa diante do que considera uma medida protecionista injustificada e prejudicial para a economia.
Apesar de representantes tentarem diálogo com os norte-americanos, o Brasil não descarta a possibilidade de aplicar a Lei da Reciprocidade— regulamentada na semana passada —, o que desagrada o setor empresarial.
Nesta quarta-feira (23), o presidente Donald Trump afirmou que só concordará em abaixar as tarifas caso o país que esteja em negociação abra o mercado para os Estados Unidos.
“Se não, tarifas muito mais altas! Os mercados japoneses já estão abertos (pela primeira vez!). Os negócios nos EUA vão crescer!”, escreveu Trump em sua rede social, Truth Social.
Segundo o chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, Rodrigo Medina, esses acordos feitos com demais nações servem como uma garantia de vantagens concorrenciais em relações bilaterais.
O problema em não negociar
Segundo o coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, Gustavo Menon, existem riscos para o Brasil, em termos econômicos e diplomáticos, caso opte por não negociar diretamente com os Estados Unidos diante da ameaça tarifária.
“O Brasil se expõe a uma série de riscos significativos. Em relação aos impactos econômicos e comerciais, a perda nas exportações será sintomática. Tarifas de 50% sobre produtos brasileiros podem afetar setores estratégicos, como agronegócio, indústria de transformação e aviões, tornando os produtos brasileiros menos competitivos no mercado americano”, acredita.
Para o especialista, isso torna a situação ainda mais crítica considerando o déficit comercial brasileiro com os EUA, reforçando o diálogo como a melhor iniciativa para um acordo.
“A recusa em negociar pode ser vista como hostilidade, fragilizando décadas de uma parceria de mais de 200 anos. O desafio é seguir, diante da nossa melhor tradição diplomática, com os diálogos universalistas. Dessa forma, não negociar de maneira construtiva tende a aprofundar impactos negativos sobre a economia e a reputação internacional do Brasil, como revelam os inúmeros precedentes de outros países que já enfrentaram a mesma encruzilhada diplomática.”
Faltam ‘avanços significativos’
Para o especialista em negócios internacionais Augusto Fernandes, faltam avanços significativos por parte do governo brasileiro.
“Se concretizando, isso é uma bomba atômica na economia brasileira. Você viu aí nas últimas 24 horas, a Indonésia negociou isenção total, pagando 19% dos produtos que exportam para lá, o Japão negociou investimento de 500 milhões lá e isenção de tarifa, você viu a Europa toda negociando. Mas, até agora, nós estamos imobilizados, não vemos avanço nenhuma parte”, comentou.
Apesar disso, Rodrigo Medina sinaliza que também falta diálogo por parte do governo americano. “O diálogo envolve ao menos dois interlocutores. Não é o que se trata, não tem um canal de diálogo aberto”, comentou.
Na reunião com o Itamaraty, o chanceler Mauro Vieira afirmou que há esforço do governo para avançar negociações com o setor privado dos Estados Unidos e com autoridades políticas.
Um embaixador presente relatou que contatos foram reiterados em abril, antes do anúncio das novas tarifas por parte do presidente Donald Trump, mas que não houve retorno.
Acordos com outros países
Nesta terça-feira (22), a Casa Branca confirmou a conclusão do acordo com a Indonésia, que concordou em eliminar aproximadamente 99% das barreiras tarifárias aos EUA para produtos industriais, alimentícios e agrícolas.
Enquanto isso, os norte-americanos concordaram em reduzir para 19% as tarifas recíprocas.
Em outro exemplo, o acordo com o Japão prevê que o país deve investir US$ 500 bilhões nos EUA, além de estarem sujeitos a uma tarifa de 15%, o que representa uma diminuição frente aos 25% iniciais.