O DESGASTE DE WANDERLEI E O RISCO DE CONTAMINAR A CHAPA DA OPOSIÇÃO

Posted On Terça, 18 Novembro 2025 04:35
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As sucessivas operações da Polícia Federal contra o governador afastado Wanderlei Barbosa e parte de sua família vêm redesenhando, dia após dia, o tabuleiro político do Tocantins. As decisões do STF e do STJ, a divulgação de áudios e vídeos comprometedores e as suspeitas que envolvem a esposa, Karynne Sotero, dois filhos, o deputado estadual Léo Barbosa e Rérison Barbosa e até a sogra do governador, criaram um ambiente de forte contaminação política em torno do chamado “grupo curraleiro”

 

 

Por Edson Rodrigues

 

 

Neste cenário, a pergunta que começa a circular nos bastidores é até que ponto o desgaste de Wanderlei Barbosa pode inviabilizar seu nome para uma candidatura ao Senado em 2026? Nesta segunda-feira, a equipe do Observatório Político de O Paralelo 13 almoçou com quatro interlocutores de “alta plumagem”, simpatizantes da candidatura da senadora Professora Dorinha Seabra, pré-candidata ao governo do Estado e hoje líder nas pesquisas de intenção de voto.

 

A avaliação desse núcleo é dura e pragmática. Na visão deles, a possibilidade de retorno de Wanderlei ao comando do Palácio Araguaia é “próxima de zero”. As operações da PF, as provas tornadas públicas, inclusive a acusação de tentativa de obstrução de Justiça, e a sequência de denúncias exibidas pela TV Anhanguera contra a gestão afastada vão, segundo esse grupo, potencializando o desgaste irreversível da imagem do governador.

 

 

Uma das imagens usadas à mesa foi forte: “um pingo de creolina no copo de leite”. A metáfora ilustra o temor de que a presença de Wanderlei em uma chapa majoritária de oposição acabe contaminando todo o projeto político liderado por Dorinha e pelo senador Eduardo Gomes, vice-presidente do Senado.

 

SENADO OU CÂMARA?

 

Entre esses articuladores, há uma quase unanimidade de que se insistir em disputar o Senado, Wanderlei Barbosa tende a virar um problema e não um ativo eleitoral. A leitura é que, com as operações em curso e a possibilidade de novas ações policiais durante o período eleitoral, o risco de constrangimentos públicos é real.

 

 

A cena hipotética que eles projetam não poderia ser mais simbólica e uma agenda de campanha em alguma cidade do interior, com Dorinha candidata ao governo, Eduardo Gomes ao Senado, aliados reunidos, imprensa presente e, de repente, a Polícia Federal chegando para cumprir uma nova medida contra o ex-governador.

 

Esse tipo de cenário, avaliam, não apenas fragilizaria o discurso da chapa, como poderia entregar de bandeja munição aos adversários, transformando a eleição em um plebiscito sobre os processos de Wanderlei, e não sobre propostas de governo e futuro do Tocantins.

 

 

Por isso, o caminho considerado mais viável para o governador afastado seria uma candidatura a deputado federal. Nesse formato, Wanderlei teria condições concretas de se eleger, manter foro, defender seu legado político e tentar reconstruir parte da sua imagem, sem arrastar consigo toda a chapa majoritária da oposição.

 

LEALDADE TEM LIMITE

 

Os interlocutores ouvidos pelo Observatório Político reconhecem que existe, dentro do grupo de Dorinha e Eduardo Gomes, um sentimento de solidariedade pessoal com Wanderlei. Afinal, trata-se de um aliado recente, com peso eleitoral, que ajudou a compor o campo de oposição ao atual governo interino.

 

A corte especial do STF composta pelos 15 ministros mais antigos confirmaram por unanimidade o afastamento de Wanderlei 

 

Mas, para esse núcleo, é preciso separar solidariedade de suicídio político. A frase que resume esse sentimento é de que ninguém é obrigado a “pular no abismo” em nome da lealdade. A metáfora do “copo de leite” volta à mesa: aceitar, sem filtros, a presença de Wanderlei na chapa majoritária seria como beber, de olhos fechados, um copo no qual alguém pingou creolina, apenas para provar fidelidade.

 

A HORA DA DEFINIÇÃO

 

Deputados até então pretensos em apoiar o governador afastado Wanderlei Barbosa

 

Na visão desses articuladores, o momento é “melindroso” e extremamente sensível, com muita informação circulando, dossiês, vazamentos, especulações e pressão de todos os lados. Mas, justamente por isso, entendem que a senadora Professora Dorinha, hoje líder das pesquisas ao governo, precisa assumir uma posição clara.

 

O recado é que não dá mais para empurrar o problema com a barriga até 2026. Dorinha, Eduardo Gomes e o próprio Wanderlei teriam que sentar à mesa e tratar deste tema como prioridade, antes da formatação final da chapa majoritária.

 

A fórmula defendida por esse grupo é simples, pois querem chegar a 2026 com uma chapa “limpa”, sem pendências judiciais graves na linha de frente. Para isso é preciso construir um palanque focado em propostas e debates com a sociedade, e evitar que o processo eleitoral seja sequestrado por operações policiais e manchetes negativas.

 

DEBATES

 

Nos debates eleitorais e em entrevistas à imprensa, com as entidades classistas, a então candidata professora Dorinha teria que dar explicações sobre a presença de aliados e auxiliares investigados. Em vez de pautar o futuro do Tocantins e apresentar propostas, a candidata teria que responder sobre operações policiais, prisões e suspeitas que cercam integrantes de sua base. Essa necessidade constante de dar explicações reduz a margem para o confronto de ideias, fragiliza o discurso de ética e transparência e ainda expõe contradições internas em sua chapa, alimentando a narrativa de que o grupo está politicamente contaminado e tem dificuldades para se defender diante da opinião pública.

 

UM 2026 SEM CREOLINA

 

 

No fundo, o que está em jogo é a sobrevivência política de um projeto de oposição que, neste momento, encontra em Dorinha Seabra sua principal liderança, e em Eduardo Gomes um aliado com musculatura nacional.

 

Dinheiro encontrado durante busca 

 

A presença de Wanderlei pode ser decisiva em alguns cenários, mas, no diagnóstico desses observadores, como candidato ao Senado ele tende mais a subtrair do que a somar. Como candidato a deputado federal, por outro lado, ainda pode ter papel relevante, preservar espaço e tentar reorganizar sua trajetória.

 

Um dos investigados por operar propinas para governador fez selfie com dinheiro que seria entregue

 

 

O ano de 2026 ainda está ali adiante no calendário, mas, nos bastidores, a conta já está sendo feita: ou a oposição entra em campo com uma chapa majoritária sem “pingo de creolina no copo de leite”, ou corre o risco de ver seu projeto azedar antes mesmo da urna abrir.

 

 

 

 

Última modificação em Terça, 18 Novembro 2025 05:30
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