Hoje é primeiro de julho. E o sol, sabedor das coisas que só ele e o tempo compreendem, nasceu com um brilho diferente
Por :Tom Lyra
Não é luz comum de começo de mês — é claridade festiva, dessas que só se acendem quando julho chega a Araguacema. É como se o sol soubesse que precisa irradiar mais do que calor: precisa aquecer memórias, despertar risos, reunir gentes, ferver vidas.
O vento alísio , apressado, vem zunindo por entre as serras, ansioso por alcançar a Praia da Gaivota, varrer as ilhas, sacudir as copas das árvores e anunciar que o tempo da alegria chegou. Julho não espera — ele entra pelas portas e janelas com pressa, com jeito de quem já vem dançando ao som de piseiros e modas de viola.
As mulheres separam os biquínis multicoloridos. A cidade se enfeita. O vai e vem nas estradas anuncia a chegada dos filhos, dos primos, dos amigos distantes. O tempo — esse senhor tão apressado — desacelera. Em julho, o tempo para. Ou melhor, se dobra em si mesmo e se transforma em lembrança viva.
Crianças correm como passarinhos soltos, as gaivotas se misturam às risadas e o som das músicas ecoa nas noites de lua cheia, invadindo barracas, barcos e corações.
Amores de verão florescem nas areias e se desfazem nas curvas do rio, deixando saudade antes mesmo de irem embora. A vida fervilha como os banzeiros do Araguaia, dançando com as voadeiras e com as histórias que renascem a cada reencontro.
O Araguaia — esse gigante majestoso — segue seu rumo, levando mágoas, dores, e devolvendo esperança em forma de banho fresco e horizonte largo. O centro do mundo, por ora, é aqui. É Araguacema. É o chão que reúne quem partiu. É o colo das mães saudosas, o reencontro dos primos distantes, o tropeço dos amores esquecidos que se olham outra vez com olhos de verão.
É cerveja gelada nas mãos calejadas, dança que varre a madrugada, barracas que voam com o vento e risos que pousam com o banzeiro. É um sobe e desce nas ruas, fila da travessia, som de motores e coração batendo no ritmo das águas e dos remos.
Julho não tem fim. Ele se estica nos abraços, se espraia nas conversas, se eterniza nas fotos mentais que tiramos sem perceber. Marca a alma. Mostra a melhor face do que é viver.
E lá vamos nós — mais uma vez — com os caniços, as caixas térmicas, os olhos cheios de expectativa e os corações repletos de saudade. Viver, em Araguacema, é voltar. É reconhecer no outro o pedaço da infância que ainda nos habita.
Que venha julho.
Que venha Araguacema.
Que venha, com tudo, a vida.
Tom Lyra