O Tocantins vive um novo momento político. A decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de negar o habeas corpus ao governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos), confirma o afastamento determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas também consolida o governo de Laurez Moreira (PSD) como uma realidade política e administrativa
Por Edson Rodrigues
Com essa decisão, o Supremo coloca um ponto final, ao menos temporário, em uma das mais tensas disputas institucionais da história recente do Estado. O gesto jurídico de Barroso tem efeitos práticos imediatos e dá a Laurez segurança jurídica, autoridade política e estabilidade para governar e, possivelmente, projetar-se como candidato à reeleição em 2026.
Mais do que um ato processual, trata-se de um marco político, que redefine o tabuleiro da sucessão estadual de 2026 e inaugura uma nova fase de recomposição de forças no Tocantins.
DECISÃO TÉCNICA, IMPACTO POLÍTICO
Em sua decisão, Barroso citou trechos do relatório do ministro Mauro Campbell Marques, do STJ, que apontou indícios consistentes de irregularidades e de recebimento de vantagens indevidas por parte do governador afastado. O ministro destacou que o habeas corpus não é instrumento adequado para reavaliar provas, uma vez que a análise de mérito demandaria o “revolvimento do conjunto fático-probatório”, o que é vedado nesse tipo de ação.
A negativa, portanto, mantém a decisão de afastamento de Wanderlei Barbosa e consolida o comando de Laurez Moreira, que vinha atuando de forma interina, mas agora passa a ter autoridade política reconhecida dentro e fora do Estado. Essa segurança jurídica era aguardada por prefeitos, secretários, empresários e parlamentares que, até então, se mantinham em compasso de espera sobre o rumo da administração estadual.
HORA DE GOVERNAR COM FIRMEZA E TRANSPARÊNCIA
Com o impasse resolvido, Laurez tem diante de si a oportunidade e a responsabilidade de consolidar sua gestão. A expectativa é de que o governador aproveite o momento para imprimir ritmo à máquina administrativa, definir prioridades e estabelecer um plano de ação claro para 2026.
Isso inclui dar celeridade aos projetos de infraestrutura, ampliar o diálogo com o setor produtivo, com as lideranças municipais e com a sociedade civil, além de fortalecer a relação institucional com a Assembleia Legislativa e com a bancada federal em Brasília.
Laurez, que carrega a experiência de duas gestões bem avaliadas à frente da Prefeitura de Gurupi, com todas as contas aprovadas pelos órgãos de controle, precisa agora demonstrar que essa bagagem administrativa pode ser traduzida em resultados de governo em nível estadual.
A construção de uma imagem de governo técnico, responsável e transparente será decisiva para sua consolidação política. Ao mesmo tempo, ele deve se cercar de pessoas de confiança, evitando a influência de grupos e figuras que possam confundir os rumos da gestão. Como se diz nos bastidores, “Laurez precisa ser o governador e não apenas estar no cargo”.
RECOMPOR ALIANÇAS E FORTALECER O DIÁLOGO
Do ponto de vista político, Laurez tem agora legitimidade para recompor alianças e atrair novos apoios. Prefeitos, empresários e parlamentares, que aguardavam definição jurídica do caso Wanderlei, certamente voltarão a circular nos corredores do Palácio Araguaia em busca de retomada de projetos e parcerias.
Outro ponto fundamental será manter uma relação madura e produtiva com a bancada federal do Tocantins. É por meio dessa interlocução que o Estado pode garantir mais recursos orçamentários, emendas e investimentos estruturantes.
A médio prazo, o governador precisará consolidar uma base sólida na Assembleia Legislativa, com lideranças que tenham capacidade de articulação política e técnica. A relação entre Executivo e Legislativo será determinante para a aprovação de projetos estruturais e para a estabilidade institucional da gestão.
CENÁRIO NACIONAL INFLUENCIA O JOGO ESTADUAL
O contexto político nacional também projeta reflexos diretos sobre o Tocantins. A consequência dessa fragmentação é a dificuldade de construção de alianças regionais. No Tocantins, grupos políticos que antes orbitavam em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro se dividem entre apoiar Laurez, manter fidelidade a Wanderlei Barbosa ou aproximar-se da senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil), hoje o principal nome da oposição estadual.
DORINHA E O DESAFIO DA UNIDADE
A senadora Dorinha Seabra, pré-candidata ao governo, reúne credenciais políticas e técnicas que a colocam entre as principais lideranças femininas do País. Ex-secretária de Educação, parlamentar atuante e relatora de importantes comissões no Senado, ela acumula prestígio junto a prefeitos e prefeitas de todas as regiões do Estado.
Tem sido responsável pela destinação de milhões de reais em emendas impositivas, que beneficiaram tanto o governo estadual em gestões anteriores quanto diversos municípios tocantinenses. Sua imagem pública é de seriedade e compromisso com a educação e o desenvolvimento regional.
Mas Dorinha enfrenta o desafio da fragmentação interna. Setores da oposição ainda não falam a mesma língua e, para disputar de igual para igual com a máquina governista em 2026, será preciso construir um projeto político unificado, com estratégia, coerência e narrativa forte.
Além disso, há o peso das denúncias recentes sobre o uso irregular de emendas impositivas para a compra de cestas básicas, alvo de investigação da Polícia Federal. Parte dos envolvidos tem ligação com grupos que orbitam na oposição, o que exige transparência e comunicação direta com o eleitorado. A senadora, que não responde a nenhum processo criminal, deve tratar o tema com firmeza e objetividade, separando o “joio do trigo” e reafirmando sua conduta ética.
O DESAFIO DA COMUNICAÇÃO E DA CONFIANÇA
Em tempos de redes sociais e informação instantânea, tanto governo quanto oposição precisarão dominar a narrativa pública. A confiança do eleitor será conquistada pela clareza das ações, pela transparência e pela coerência.
No caso do governador interino Laurez Moreira, o desafio é ainda maior. Com um tempo curto de gestão, ele precisará mostrar resultados concretos e imediatos, mas, sobretudo, comunicar esses resultados de forma eficaz. Para isso, será fundamental estabelecer uma relação sólida e respeitosa com os veículos de comunicação tradicionais do Estado, que continuam sendo necessários para informar com credibilidade e alcance. A comunicação institucional de Laurez dependerá diretamente da competência e da estratégia da Secretaria de Comunicação, que deverá atuar com transparência, profissionalismo e agilidade.
Fazer política e governar hoje exige diálogo com a sociedade e esse diálogo passa pela imprensa profissional, pelo jornalismo responsável, com linha editorial definida e compromisso com a verdade. São esses veículos que podem traduzir para a população as ações do governo e ajudar Laurez a construir uma imagem de gestor técnico e confiável, capaz de superar a sombra de seu antecessor. O tempo é curto, e o governo precisa ser acelerado, eficiente e comunicativo para transformar credibilidade em legado.
ENTRE A FÉ, O TEMPO E O FUTURO
Neste 12 de outubro, Dia da Padroeira do Brasil, o Tocantins vive um momento de virada institucional. A decisão do ministro Barroso pacifica o ambiente político e abre um novo capítulo na história recente do Estado. O Observatório Político de O Paralelo 13 seguirá acompanhando cada passo desse processo. Como diz a sabedoria popular: o tempo é o senhor dos tempos.
A complementação desta Reflexão de Domingo terá sequência na edição de amanhã, quando faremos nossas considerações finais sobre o novo cenário político do Tocantins após a decisão do ministro Luís Roberto Barroso.
Falaremos sobre os movimentos internos dos partidos, o reposicionamento de lideranças regionais e as projeções para a sucessão estadual de 2026.
O Tocantins entra agora em uma fase de reconstrução institucional e política, onde o tempo será o maior adversário e a comunicação, o principal instrumento de sobrevivência.