Brasil abre mercados, mas é a dinâmica dos preços que tem atenuado tarifaço

Posted On Segunda, 15 Setembro 2025 04:23
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Por Wanderley Preite Sobrinho -UOL

 

 

Desde que os Estados Unidos começaram a impor sobretaxas a produtos brasileiros, neste ano, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem redobrando os esforços para abrir novos mercados para as mercadorias nacionais. Entretanto, em agosto, o que realmente ajudou o país a garantir um superávit na balança comercial foi a dinâmica dos preços: por exemplo, o do café subiu, fazendo com que os exportadores ganhassem mais mesmo vendendo menos; o das frutas caiu, atraindo mais compradores externos, que impulsionaram um aumento do volume e da receita.

 

O que aconteceu

 

A balança comercial brasileira teve superávit de US$ 6,13 bilhões (R$ 32,8 bilhões pelo câmbio atual) em agosto. Nesse primeiro mês em que vigorou a tarifa extra de 40% sobre os 10% básicos já impostos pelos EUA aos produtos brasileiros, o saldo positivo da balança cresceu 3,9% em relação a agosto do ano passado, enquanto as exportações para o mercado americano despencaram 18,5% no período, segundo o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

 

A combinação de abertura de mercados e variação dos preços afetou de maneiras diferentes cinco produtos agropecuários importantes para o Brasil que estão com 50% de sobretaxa nas vendas para os EUA. Os setores de carne bovina, café, cacau e frutas frescas, frutas secas e nozes conseguiram faturar mais em agosto apesar do tarifaço; o de açúcar foi o único que teve retração, segundo levantamento do UOL com os dados do Mdic.

 

Carne bovina

 

O aumento do preço internacional compensou a queda nas exportações de proteína bovina do Brasil aos EUA em agosto deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. A quantidade de carne exportada pelo Brasil a outros países aumentou 23% no período, para 268 mil toneladas. Em dólares, as vendas cresceram 56%, para US$ 1,5 bilhão (R$ 8,03 bilhões pela taxa de câmbio atual) em razão do preço médio, que subiu de US$ 4,40 para US$ 5,60 o quilo. Esse resultado compensou a queda nas exportações para os EUA: 42% em quantidade e 53,8% em valores.

 

A expectativa é de que as vendas aumentem daqui em diante por causa da abertura de novos mercados compradores. Em agosto, o Brasil conquistou dois grandes mercados gigantes para miúdos e carne bovina com ossos: a Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo, com 284 milhões de habitantes, e as Filipinas, o 14º maior, com 112 milhões de habitantes. O Brasil já exportava carne in natura para essas nações. Na semana passada, o Vietnã recebeu o primeiro embarque de carne bovina brasileira, de 27 toneladas. O país se abriu para o produto do Brasil em março.

 

As negociações com a Indonésia e as Filipinas não começaram agora, tiveram início entre 2022 e 2023. Não foram uma reação imediata ao tarifaço, mas se tornaram conquistas importantes neste momento de restrição.

Roberto Perosa, presidente executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes)

 

Café

 

O Brasil ganhou mais vendendo menos café em agosto deste ano ante agosto de 2024. As exportações do grão brasileiro para o mundo caíram 30% no período, para 149 mil toneladas, mas os vendedores receberam 2% a mais: US$ 970,8 milhões. A tendência foi a mesma com os EUA, que compraram 17,5% menos, mas pagaram 14% mais, ou US$ 121 milhões.

 

O preço internacional do café já subiu 28% até setembro deste ano ante dezembro de 2024, de acordo com os contratos futuros da variedade arábica negociados na Bolsa americana Ice. Além da expectativa de safra menor no Brasil entre 2025 e 2026 por causa de questões climáticas, as especulações sobre o tarifaço americano têm pressionado as cotações.

 

O setor é muito dependente dos EUA, o maior importador do café brasileiro, e tem dificuldade para abrir mercados. Já presente em 150 países, o produto brasileiro ganhou apenas um novo comprador desde 2023, a Zâmbia, que passou a importar café verde em 2024.

 

O foco agora, segundo os exportadores, é derrubar o tarifaço. O setor está aumentando o seu lobby nos EUA.

 

Intensificamos contatos com o setor privado dos EUA para transmitir dados reais ao governo americano a respeito da interdependência dos países no setor. Estar presente em Washington nos permitirá colocar o café em uma lista de exceção em momento oportuno.

 

 

Açúcar

 

As vendas de açúcar brasileiro para os EUA e o restante do mundo caíram em volume e receita em agosto deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. Para o mundo, as exportações recuaram 4,6% em quantidade e 16% em receita, atingindo US$ 1,5 bilhão. O quilo do açúcar, nesse período, recuou de US$ 0,46 para US$ 0,40. As vendas para os EUA puxaram os números gerais para baixo, porque desabaram 92% em quantidade e 89% em receita.

 

O setor não abriu nenhum mercado desde 2023. Procurados, o governo e a associação do setor, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) não quiseram se manifestar.

 

Cacau

 

O preço internacional mais alto do alimento segurou o faturamento total do setor com as exportações. As vendas do Brasil para outros países caíram 11%, embora o setor tenha faturado 3% a mais (US$ 42,5 milhões), diferença que se deve ao preço do quilo, que está US$ 2,50 mais alto neste ano. Para os EUA, a queda de vendas foi grande: o Brasil exportou 54,7% menos cacau e embolsou 46% menos: US$ 6,3 milhões.

 

O cacau não encontrou novos compradores no restante do mundo em 2023, mas abriu cinco mercados em 2024. Os países que mais recentemente se abriram ao cacau brasileiro foram: Rússia, Belarus, Armênia, Cazaquistão e Quirguistão. Procurados, o governo brasileiro e a Aipc (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau) não se manifestaram.

 

Frutas frescas, frutas secas e nozes

 

Com os preços internacionais 18% mais baixos, o volume de exportações cresceu em agosto passado na comparação com o mesmo período de 2024. O Brasil exportou 7,6% a mais para o mundo (68 toneladas) e 46% a mais para os EUA (2,2 toneladas), mas a receita foi 11% menor no total global (US$ 73,6 milhões) e 50% menor nas vendas para os americanos (US$ 3 milhões).

 

 

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