Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues
O Tocantins chega aos seus 37 anos de criação em clima de tristeza e não de celebração. É, sim, um clima de velório. Não de luto pelo nascimento do Estado, mas pela vergonha acumulada ao longo da sua história política recente. Vergonha pela repetição de afastamentos de governadores pelo Superior Tribunal de Justiça, sempre por decisões liminares de um mesmo ministro, sem condenações definitivas, sem processos transitados em julgado, deixando no ar um cenário de insegurança jurídica e política.
A luta pela criação do Tocantins
União das emendas, Brito Miranda, Siqueira Campos, Darcy Coelho, José Freire entre outros
O mais jovem estado da federação nasceu da esperança. Homens e mulheres do norte goiano lutaram por sua libertação política e sonharam com desenvolvimento, inovação e autonomia. A conquista, celebrada em 1988, não foi fruto de obra isolada, mas de uma ampla mobilização social e política.
Entre os protagonistas, muitos foram esquecidos pela história oficial. Só não ficaram esquecidos de terem feito parte dessa luta por conta do Observatório Político de O Paralelo 13, que foi testemunha e parte desse processo. O jornal O Paralelo 13 já existia e circulava impresso, com 12 páginas, registrando nas suas edições a história da criação do Estado do Tocantins. Hoje, com 39 anos de fundação, o veículo continua com o mesmo dono, a mesma família, na mesma cidade e no mesmo endereço e principalmente com a mesma linha editorial: destemida, respeitosa e comprometida com o propósito de informar, debater e interagir.
Publicitário Jose Carlos Leitão
Nomes como o publicitário José Carlos Leitão, que, à frente da empresa JCL, lançou uma campanha nacional pela criação do Estado junto à Constituinte de 1988 e bancou, com recursos próprios, todas as campanhas publicitárias; o empresário Zeza Maia, natural de Porto Nacional, que ajudou com infraestrutura para os movimentos em Brasília e Goiânia; o jornalista Jales Marinho, filho de Tocantinópolis, então diretor de redação política do Correio Braziliense (o jornal mais lido de Brasília e um dos maiores do país) que foi outro baluarte defensor da criação do Estado; o deputado federal José Wilson Siqueira Campos, que chegou a fazer greve de fome para sensibilizar o Congresso; o deputado tocantinense Totó Cavalcante, também em greve de fome na Assembleia Legislativa de Goiás; o então presidente da Assembleia, Edimar de Brito Miranda, que, com Totó, convenceu o governador Henrique Santillo a apoiar a emancipação; além do economista portuense Célio Costas, responsável pelos estudos de viabilidade econômica.
A contribuição da imprensa
Políticos e lideranças em busca de apoio para a criação do Estado
A cobertura jornalística também teve papel decisivo. A Organização Jaime Câmara, sob liderança do saudoso fundador Jaime Câmara e convencida pelo então diretor-geral, o tocantinense de Cristalândia João Rocha, que mais tarde seria senador pelo Tocantins, mobilizou seus veículos de comunicação (Jornal de Brasília, TV Anhanguera, O Popular e rádios AM e FM), dando visibilidade nacional à luta e defendendo a criação do novo Estado.
O peso político em Brasília
Protagonistas dessa historia
Outro nome decisivo foi o líder do PFL na Câmara, Wolney Siqueira, que articulou junto ao ministro de Minas e Energia, o saudoso Aureliano Chaves, presidente de honra do partido, o apoio da maior bancada da Constituinte à criação do Tocantins. Foi ele quem abriu espaço para que uma comissão integrada por Aroldo Rastoldo, José Edgar, Sanssão Batista, este jornalista que assina estas linhas, Edson Rodrigues, e Carlos Gaguim trabalhasse de forma organizada em Brasília como assessores na Câmara dos Deputados do líder Wolney Wagner Siqueira. Esse grupo atuava de forma voluntária, assim como tantos outros que assumiam custos com cada reunião e mobilização. A articulação, somada ao esforço do presidente da FAET-GO, o tocantinense Aroldo Rastoldo, fortaleceu o movimento separatista.
A luta dentro do Tocantins
Deputado José Wilson Siqueira Campos, autor da lei que criou o Estado do Tocantins, durante a proclamação da Constituição em 5 de outubro de 1988.
A mobilização contou ainda com a liderança regional de figuras como o saudoso Dr. Euvaldo Tomaz de Souza, o jovem político Vicentinho Alves, o prefeito de Paraíso Dr. Moisés e o juiz federal Darci Coelho, que presidiu a Associação Pró-Criação do Estado do Tocantins, organizando campanhas e colhendo assinaturas para a apresentação da proposta popular de criação do Estado.
Todos, sob a orientação de Siqueira Campos, construíram a base para a vitória política que resultou no Tocantins. Mas muitos desses baluartes ficaram esquecidos pelo caminho. Hoje, quando o Estado completa 37 anos, é justo relembrá-los e reconhecer sua importância.
37 anos e um governador interino
Primeira visita oficial do governador interino Laurez Moreira ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Amélio Cayres.
O presente, no entanto, não inspira festa. O Tocantins atravessa seu aniversário com um governador interino no comando. Laurez Moreira, ex-prefeito de Gurupi com dois mandatos marcados por transformações importantes na cidade, é um político de reputação ilibada. Mas isso não basta. O Estado precisa de estabilidade jurídica e política.
Laurez assumiu com prazo curto e sem conseguir preencher toda a estrutura administrativa com pessoas de sua confiança. Enfrenta o desafio de governar sob a sombra da interinidade e da espada no pescoço, em razão do afastamento do governador eleito.
O afastamento de Wanderlei Barbosa e a exposição nacional
Programa Fantástico da Rede Globo exibe hoje um reportagem especial sobe o Tocantins
O governador Wanderlei Barbosa vinha realizando uma das melhores gestões da história do Tocantins, segundo diversos setores e registros do Observatório Político de O Paralelo 13. Na saúde, na infraestrutura, no funcionalismo público, na economia e na relação institucional com os demais poderes, sua administração se destacava. O reconhecimento da imprensa e o diálogo com o Congresso e a Assembleia Legislativa mostravam um governo estável e de resultados.
No entanto, foi afastado pelo STJ, repetindo o roteiro vivido por seus antecessores Marcelo Miranda, Sandoval Cardoso e Mauro Carlesse, todos afastados sem condenação definitiva e com direitos políticos preservados.
O que esperar
O Tocantins não precisa apenas de gestores transitórios. Precisa de decisões definitivas, de segurança para investidores, servidores e para a própria democracia tocantinense. Cabe ao Supremo Tribunal Federal dar respostas rápidas e claras seja confirmando a permanência de Laurez Moreira, seja devolvendo o mandato a Wanderlei Barbosa.
Chegamos aos 37 anos sem bolo, sem festa e sem alegria. O que resta é a oração por luzes que guiem o Tocantins rumo a uma governança plena, transparente e respeitosa com sua história e com os homens e mulheres que tanto lutaram para que este Estado existisse.
Um abraço da família O Paralelo 13.