Sucessão estadual requer amadurecimento das oposições ao Palácio Araguaia

Posted On Quinta, 16 Outubro 2025 11:28
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A sucessão estadual no Tocantins se desenha em um cenário de indefinições, vaidades e disputas internas que ameaçam fragmentar a oposição ao Palácio Araguaia. O afastamento do governador Wanderlei Barbosa não apenas desmontou o núcleo de poder que sustentava sua base política, mas também expôs a fragilidade das articulações daqueles que, outrora, orbitavam em torno de sua liderança e das benesses do governo

 

 

Por Edson Rodrigues

 

 

As chamadas “viúvas do governador afastado” como vêm sendo apelidados nos bastidores alguns ex-aliados inconformados com a perda de espaço, cargos e influência agora buscam construir uma alternativa política própria. Tentam dar corpo à ideia de uma “terceira via”, mas essa articulação, segundo observadores, tem se mostrado mais movida pelo ressentimento e pela busca de sobrevivência política do que por um projeto sólido para o Estado.

 

O comportamento de parte desse grupo tem sido comparado ao de um “Eduardo Bolsonaro tocantinense”, promovendo divisões internas, rompimentos desnecessários e discursos inflamados que, na prática, acabam favorecendo o atual governo. A fragmentação das oposições abre espaço para que o governador em exercício, Laurez Moreira, avance com tranquilidade, costurando alianças, consolidando obras e conquistando apoios municipais em um ambiente que, por ora, lhe é favorável.

 

A ILUSÃO DA TERCEIRA VIA

O sonho de uma candidatura alternativa, que não esteja nem com o Palácio Araguaia nem diretamente alinhada à senadora Professora Dorinha Seabra, encontra na realidade um obstáculo intransponível: falta de base, de estrutura e de nome competitivo. Não há clima político nem musculatura partidária para viabilizar uma terceira via capaz de romper a polarização entre governo e oposição consolidada.

 

A essa altura, o que as oposições mais necessitam é maturidade e unidade. As divergências internas e o comportamento errático de algumas lideranças podem custar caro. Experiências recentes demonstram que “brincar de fazer política com coisa séria”, como alertam alguns analistas resulta em derrotas previsíveis e perda de credibilidade junto à população.

 

 

A oposição precisa de uma estratégia comum, um discurso unificado e, principalmente, respeito à força de articulação da senadora Dorinha Seabra, nome que hoje desponta como a mais qualificada e com maior densidade política para enfrentar o governo nas urnas. Dividir o campo oposicionista em múltiplas candidaturas é repetir erros históricos e enfraquecer, mais uma vez, a possibilidade de alternância de poder no Tocantins.

 

O MDB EM CRISE DE IDENTIDADE

 

 

Entre os partidos que enfrentam turbulências internas, o MDB ocupa lugar de destaque. Sob a presidência do deputado federal Alexandre Guimarães, a legenda vive uma crise de representatividade sem precedentes. De gigante político que já comandou o Estado e teve presença marcante na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa, o MDB se transformou em um coelho de estimação no tabuleiro político tocantinense sem voz, sem estrutura e com diretórios municipais desarticulados.

 

Alexandre Guimarães, eleito em 2022 pelo Republicanos, legenda então presidida por Wanderlei Barbosa, tenta agora reerguer o MDB e transformá-lo em uma força capaz de disputar de igual para igual com as grandes siglas. No entanto, enfrenta um desafio hercúleo de reorganizar comissões provisórias, renovar lideranças locais e montar chapas proporcionais competitivas para 2026.

 

A dificuldade é tamanha que, em muitos municípios, o MDB sequer tem diretórios válidos. Em 2022, a então deputada federal Dulce Miranda, candidata à reeleição, obteve expressivos 47 mil votos, mas não conseguiu manter o mandato. Hoje, Dulce e seu marido, o ex-governador Marcelo Miranda, estão alinhados à base da senadora Dorinha Seabra e devem se desfiliar do MDB, reforçando o esvaziamento do partido.

 

Guimarães, político de trato fácil e perfil conciliador, precisa reorganizar o MDB, mas também dar-lhe uma identidade política clara, capaz de atrair novas lideranças e devolver relevância à legenda nos 139 municípios tocantinenses. Caso contrário, o partido corre o risco de permanecer na irrelevância, dependendo de coligações majoritárias para sobreviver eleitoralmente.

 

O CLIMA EM BRASÍLIA

 

Enquanto as movimentações locais se intensificam, Brasília volta a ser o epicentro das atenções políticas tocantinenses. Nas últimas 24 horas, cresceu a expectativa em torno do pedido de habeas corpus do governador afastado Wanderlei Barbosa, que aguarda julgamento pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

 

A composição atual da Turma, com apenas quatro ministros, e a aposentadoria iminente do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, abrem espaço para especulações sobre uma possível decisão monocrática que poderia beneficiar o ex-governador. Fontes em Brasília relatam intensa movimentação política e jurídica em torno do caso, com familiares, amigos e ex-integrantes da gestão Wanderlei circulando pelos corredores do poder, na esperança de uma decisão favorável.

 

 

Em contrapartida, interlocutores próximos ao governo em exercício afirmam, que “a Justiça já sabe o suficiente para não permitir o retorno de Wanderlei Barbosa”. Para eles, a volta do ex-governador ao cargo seria politicamente insustentável diante das investigações em curso e do desgaste causado pelos episódios que marcaram o fim de sua gestão.

 

Esse clima de expectativa e tensão institucional faz com que tanto governistas quanto opositores mantenham cautela. Todos sabem que uma eventual reviravolta no STF poderia mudar o rumo da sucessão estadual e embaralhar completamente as cartas do jogo político tocantinense.

 

TEMPESTADE À VISTA

 

O cenário político do Tocantins, portanto, é de instabilidade e incerteza. O amadurecimento das oposições é não apenas desejável, mas fundamental para a consolidação de uma alternativa real de poder. O que se vê, contudo, é um campo oposicionista dividido, vulnerável e ainda sem capacidade de apresentar um projeto coeso para o Estado.

 

 

Enquanto isso, o Palácio Araguaia observa com serenidade. Laurez Moreira aproveita o tempo e o espaço político disponíveis para avançar em agendas administrativas, fortalecer parcerias com prefeitos e construir uma narrativa de estabilidade e gestão eficiente.

 

Mas há sinais de alerta. Nos bastidores, fala-se em operações policiais iminentes, com possíveis bloqueios de bens, prisões e novas medidas judiciais que podem atingir figuras de destaque do cenário político estadual. O ambiente é de desconfiança e apreensão.

 

Como diria o saudoso Pedro Ludovico, “a decisão será cumprida, e todos devem se desarmar”. No entanto, até lá, o tempo político no Tocantins segue fechado, com ventos fortes, trovoadas e risco de tempestades institucionais.

 

O Observatório Político de O Paralelo 13 permanece atento. E alerta: sem unidade, ética e responsabilidade, as oposições correm o risco de perder não apenas a eleição, mas também o respeito do eleitorado tocantinense.

 

 

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