Engenheira e opositora de Nicolás Maduro, Maria Corina Machado é premiada com o Nobel da Paz por sua luta pacífica pela democracia na Venezuela
Por Paulo Barros
A engenheira venezuelana Maria Corina Machado, de 58 anos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2025 por sua “luta incansável pela democracia e pelos direitos humanos na Venezuela”. O reconhecimento internacional consolida sua posição como uma das figuras políticas mais influentes e polarizadoras da América Latina.
Nascida em 7 de outubro de 1967, em Caracas, Machado vem de uma família tradicional ligada à indústria siderúrgica. Formou-se em Engenharia Industrial pela Universidade Católica Andrés Bello, em 1989, e se especializou em Finanças no Instituto de Estudos Superiores. Antes de ingressar na política, atuou no setor privado, experiência que moldou sua defesa de princípios liberais e de economia de mercado.
O início na política e o nascimento de Súmate
O ponto de virada em sua trajetória ocorreu em 2002, durante a crise política sob o governo de Hugo Chávez. Machado fundou a organização civil Súmate, dedicada à promoção de eleições livres e à participação cidadã. Dois anos depois, a entidade coordenou a coleta de assinaturas para o referendo revogatório de 2004, que buscava destituir Chávez. O processo a colocou no centro da política nacional e também na mira do chavismo, que a acusou de conspiração, acusações que ela sempre negou.
Da Assembleia Nacional ao exílio interno
Em 2010, Machado foi eleita deputada com a maior votação da disputa parlamentar. No Congresso, tornou-se uma das vozes mais firmes contra o chavismo, denunciando corrupção e violações de direitos humanos. Em 2014, foi expulsa da Assembleia Nacional pelo regime, após críticas diretas ao então presidente Nicolás Maduro.
Desde então, enfrentou proibições legais, ameaças e processos judiciais, mas manteve sua atuação política. Em 2013, fundou o partido Vente Venezuela, de orientação liberal, que passou a ser sua principal plataforma de oposição. Seu discurso firme contra o socialismo e sua recusa a negociar com o regime consolidaram sua imagem como a “Dama de Ferro da Venezuela”.
Eleições de 2024 e perseguição
Em 2023, Machado anunciou sua pré-candidatura à presidência. Mesmo inhabilitada pelo governo, venceu as primárias da oposição com ampla maioria e, impedida de concorrer, apoiou o diplomata Edmundo González Urrutia. A eleição de 2024 foi marcada por denúncias de fraude e repressão. A oposição afirmou ter vencido “por ampla margem”, mas o Conselho Nacional Eleitoral, dominado por aliados de Maduro, declarou vitória do atual presidente.
Após o pleito, Machado entrou na clandestinidade. Segundo o Comitê do Nobel, ela “mantém viva a chama da democracia em meio à escuridão crescente”, permanecendo no país mesmo sob risco de prisão e violência.
Vida pessoal e legado
Machado foi casada entre 1990 e 2001 com o empresário Ricardo Sosa Branger, com quem teve três filhos, Ana Corina, Ricardo e Henrique, hoje vivendo fora da Venezuela por segurança. Mantém relação discreta com o advogado Gerardo Fernández e evita expor sua vida pessoal.
Ao longo de mais de duas décadas de atuação, Machado construiu uma imagem de liderança intransigente e símbolo de resistência. Para seus apoiadores, ela representa a esperança de uma transição pacífica e democrática. Para seus críticos, é uma voz da elite distante das bases populares.
O Nobel da Paz de 2025, concedido “por sua luta pacífica por uma transição justa e democrática”, reconhece o papel de Machado como símbolo global da resistência civil frente ao autoritarismo e reforça a visibilidade internacional da crise venezuelana.