O cenário político do Tocantins segue mergulhado em incertezas. Desde o afastamento do governador Wanderlei Barbosa, o Estado vive um período de transição conturbado, em que o governador em exercício, Laurez Moreira, tenta consolidar sua autoridade em meio a dúvidas, resistências e expectativas sobre uma possível reviravolta no Supremo Tribunal Federal (STF)
Por Edson Rodrigues
De acordo com a leitura do Observatório Político de O Paralelo 13, após ouvir lideranças partidárias, formadores de opinião e aliados tanto de Laurez quanto de Wanderlei, há um consenso inquietante de que “enquanto o bode não for tirado da sala, o governo não decola.” A metáfora, usada por um experiente articulador político ouvido pela reportagem, traduz o impasse que trava a gestão interina e, por consequência, a sucessão estadual de 2026.
FREIO DE MÃO PUXADO
A permanência de Wanderlei Barbosa afastado, mas ainda aguardando julgamento colegiado no STF que possa devolver-lhe o mandato, mantém o governo em clima de suspensão. Em tese, Laurez Moreira governa com o “freio de mão puxado e as quatro rodas travadas”.
É inegável que Laurez tem buscado agir com audácia colocou a máquina administrativa para funcionar, visitou municípios, foi a Brasília em busca de recursos, conversou com lideranças e a Assembleia Legislativa, acompanhou obras e assinou ordens de serviço.
No entanto, juridicamente, o retrovisor continua presente. Cada passo é medido, e o “bode” ainda ocupa a sala, condicionando decisões e limitando plenamente sua autoridade. Como descrevem aliados, “se o bode não sair, a aeronave não decola”.
O fato é que enquanto o recurso de Wanderlei não é pautado, o Tocantins vive sob uma espécie de limbo institucional. O governador interino tenta imprimir ritmo próprio, mas enfrenta resistências internas, indefinição política e dificuldades para articular alianças sólidas. Ninguém quer apostar em um projeto político sem saber se o titular do mandato retornará ao cargo.
RETORNO OU A RENÚNCIA?
Segundo um ex-auxiliar próximo a Wanderlei Barbosa, a hipótese de renúncia está descartada. O grupo jurídico e político do governador afastado acredita que o mandato foi “usurpado por forças ocultas em Brasília” e confia que o STF corrigirá o que considera uma injustiça antes do final de dezembro. “Wanderlei foi eleito pela vontade soberana do povo tocantinense e deve retomar o cargo antes do fim do ano”, afirma a fonte, reforçando que a defesa aposta em um julgamento favorável no plenário da Corte.
Do outro lado, um integrante do primeiro escalão do governo Laurez sustenta que as provas dos supostos crimes atribuídos a Wanderlei estão “nos autos e falam por si”, lembrando que o afastamento do governador foi confirmado por unanimidade. Apesar disso, o próprio auxiliar admite que o clima de insegurança jurídica é real e que o desfecho pode se arrastar até 2026, após o recesso do Judiciário.
O IMPASSE QUE PARALISA
Esse ambiente de incerteza cobra um preço alto. As indefinições no comando político travam decisões estratégicas, dificultam o planejamento de políticas públicas e deixam o funcionalismo e os setores produtivos em estado de apreensão.
Para analistas políticos ouvidos pelo Observatório, Laurez Moreira precisa “assumir o governo em sua plenitude”, não apenas ocupar o cargo, mas governar com autoridade, definir prioridades, dialogar com entidades de classe e apresentar um projeto de Estado que ultrapasse a interinidade.
Enquanto isso, as especulações sobre 2026 crescem. Nomes como o da senadora Professora Dorinha, do próprio Laurez Moreira e até do governador afastado Wanderlei Barbosa figuram entre os principais pontos de debate entre aliados, opositores e curiosos da política local. Todos aguardam o desfecho do processo em Brasília para saber quem estará na pista de decolagem para disputar o Palácio Araguaia.
UM HISTÓRICO DE INSTABILIDADE
O impasse atual não é episódio isolado. O Tocantins já foi palco, ao longo de sua história, de sucessivos afastamentos, cassações e prisões de governadores, seguidos de reviravoltas judiciais. Casos como os de Sandoval Cardoso, Marcelo Miranda e Mauro Carlesse são lembrados como exemplos de processos que começaram com decisões drásticas e terminaram, anos depois, com absolvições ou anulações.
Essa sequência de instabilidades reforça, segundo analistas, uma sensação de descrédito institucional e cansaço social, pois o Estado parece condenado a viver ciclos de crise, nos quais o Judiciário intervém, a política se paralisa e o povo fica à margem.
O desafio de Laurez
O governador em exercício enfrenta um dilema: governar de fato, com autonomia e legitimidade, enquanto carrega o peso de um cargo ainda contestado. Para decolar, precisa mostrar que é mais do que um gestor interino e que pode conduzir o Tocantins em meio à turbulência política e à desconfiança generalizada.