Lula estica corda com Centrão e aposta em popularidade para criar racha no PP e União

Posted On Quarta, 08 Outubro 2025 14:12
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Mesmo com o ultimato das siglas, que exigem a saída de Celso Sabino (Turismo) e Fufuca (Esporte), petista não dá sinais de que irá mexer no primeiro escalão

 

 

Por Lauriberto Pompeu e Jeniffer Gularte

 

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu na terça-feira dobrar a aposta na queda de braço com partidos do Centrão ao dizer que não irá “implorar” por apoio ao governo. Com popularidade em recuperação, o petista aposta no racha interno das siglas para fortalecer palanques locais em 2026, mesmo com a oposição da cúpula dessas legendas. Mesmo com o ultimato de União Brasil e PP, que exigem a saída de Celso Sabino (Turismo) e Fufuca (Esporte), Lula não dá sinais de que irá mexer no primeiro escalão.

 

Aliados próximos do presidente avaliam que já não é possível uma aliança formal com o Centrão para o projeto de reeleição, e confiam em vitórias recentes do governo para atrair mais apoio.

 

O Palácio do Planalto considera positiva, por exemplo, a abertura de um canal direto com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e avalia que a aproximação aumenta a pressão sobre o bolsonarismo. O governo também vê como importante a aprovação de propostas populares, como o aumento da isenção do Imposto de Renda (IR).

 

— Eu não vou implorar para nenhum partido estar comigo, vai estar comigo quem quiser estar comigo. Não sou daqueles que ficam tentando comprar deputado. Vai ficar comigo quem quiser, quem quiser ir para o outro lado que vá, e que tenha sorte porque nós temos certeza de uma coisa: a extrema direita não voltará a governar esse país — afirmou Lula em entrevista à TV Mirante, do Maranhão.

 

 

A despeito dos ultimatos que têm recebido, Sabino e Fufuca  (foto) têm reforçado apoio a Lula e o desejo de permanecerem no governo, de olho em seus planos eleitorais. O petista também deseja a permanência, mas tem orientado os auxiliares que a decisão depende deles e das costuras internas que fizerem com suas legendas.

 

Divisões internas

Auxiliares avaliam que, ao assegurar a permanência dos ministros, Lula aumenta as divisões internas dos partidos do Centrão, que têm alas governistas e oposicionistas.

— Se as coisas estão dando certo, por que mexer? Por que essa pequenez de achar que atrapalhar um bom ministro que está fazendo um bom trabalho? Foi raiva? Foi inveja? Quando chegar a época das eleições, cada um vai para o canto que quiser — disse Lula.

 

Para 2026, o petista tem, em alguns estados, a simpatia de alas de PP, União Brasil e Republicanos, legendas mais próximas de uma candidatura da direita.

Há alas do PP simpáticas ao governo, por exemplo, no Maranhão, Ceará, Paraíba e em uma parte da Bahia. O União Brasil também se alia a Lula no Pará, Amapá e em uma ala de Minas Gerais e do Ceará. Por sua vez, o Republicanos é próximo do governo em estados como Pernambuco e Piauí.

 

Integrantes dos partidos do Centrão creem em um acordo para uma candidatura única da oposição e tentam convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro a apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como nome da direita contra Lula em 2026.

 

O próprio petista, apesar do momento favorável, indica que está atento à movimentação dos adversários:

 

— Se gente brincar em serviço, a gente acaba dando para o adversário a chance de ganhar que ele não tem hoje. É muito difícil alguém ganhar as eleições de nós em 2026, o governo vai terminar muito bem, o Brasil está vivendo um momento excepcional.

 

 

Apesar da pressão pela saída do governo, o próprio União Brasil tem evitado tomar medidas drásticas contra Celso Sabino. Integrantes da cúpula da legenda dizem que há acordo para que seja aprovada nesta quarta-feira uma medida cautelar que suspenda imediatamente o diretório da sigla no Pará, que atualmente é comandado pelo ministro.

 

Uma expulsão da sigla, porém, não acontecerá de forma automática e passará por trâmites burocráticos dentro do partido. O relator do parecer que deve trazer as punições a Sabino é o deputado Fábio Schiochet (União-SC).

 

— Eu sou contra cautelar (para a expulsão). Acho muito frágil, acaba cerceando o direito de defesa do ministro. Caso eu opte por não dar sumariamente, abro o prazo para defesa com o mérito da expulsão já e começa a caminhar o prazo regimental dentro do Conselho de Ética do partido para a expulsão. Em uns 40 dias (tem a conclusão do processo) — disse Schiochet.

Em setembro, o União Brasil deu ultimato e antecipou um movimento de desembarque da Esplanada dos Ministérios. Sabino chegou a anunciar que comunicou ao presidente Lula que pediu demissão, mas segue no cargo e tem adiado sucessivamente a saída do governo.

 

Diante disso, integrantes do União Brasil passaram a trabalhar com o cenário de que o comando do Ministério do Turismo não será trocado e deram seguimento ao processo de punição ao ministro dentro do partido.

 

Já no PP, por enquanto, a movimentação é mais lenta, a despeito do prazo dado pelo presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), não ter sido cumprido por Fufuca.

 

— Eu falo em alto e bom som: eu estou com Lula. Eu estou com o Lula do Bolsa Família, do Vale Gás, do Pé de Meia, o Lula do Mais Médicos, do Mais Renda, do Fies, do Prouni. O Lula que tirou o filho do pobre da rua e colocou para fazer medicina na faculdade privada. O Lula que falou em alto e bom som para os Estados Unidos: respeite o nosso Brasil. É esse o Lula que estou ao lado — afirmou Fufuca em evento no Maranhão.

 

O prazo de saída estipulado por Ciro Nogueira venceu no domingo, enquanto o de Sabino já expirou há mais tempo. Não há acordo para a expulsão de Fufuca da legenda e nem reunião do PP marcada. Entretanto, assim como Sabino, a legenda ameaça tirar do ministro o comando do diretório estadual no Maranhão.

 

Caso ele não saia do Ministério do Esporte, a cúpula do PP pretende encaminhar um acordo para tentar impedir o desejo de Fufuca de se candidatar ao Senado no ano que vem. A ideia é, caso a federação entre PP e União Brasil seja formalizada, que o comando do diretório maranhense fique com o líder do partido na Câmara, Pedro Lucas (MA), que pode se colocar como candidato a senador no lugar do ministro. A legenda, no entanto, tem descartado expulsar Fufuca do PP.

 

Efeito Trump

O entorno de Lula avalia que a conversa entre ele e Donald Trump, realizada na segunda-feira, isola o bolsonarismo e derruba a tese da oposição de que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é o único interlocutor do Brasil com o presidente dos Estados Unidos. Aliado de Trump, o ex-presidente não foi citado na ligação, apesar de seu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) ter sido o mote para o tarifaço.

 

Na visão de ministros do governo, o ganho econômico ainda dependerá das discussões das equipes de parte a parte, mas a fatura política já é positiva para Lula. Auxiliares afirmam que Trump virou o maior cabo eleitoral de Lula para a eleição de 2026. Além de ter dado a Lula o discurso de soberania e patriotismo, agora dá, na avaliação desses auxiliares, a oportunidade de mostrar como o brasileiro consegue diluir um conflito diplomático com diálogo.

 

 

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