A política no Tocantins, tal como o calor, nunca dá trégua. A nova temporada de embates foi inaugurada com um roteiro já conhecido: a disputa pela paternidade de uma grande obra. O troféu da vez? O curso de Medicina de Augustinópolis, um feito histórico para o Bico do Papagaio
Por Edson Rodrigues
Tudo começou quando o deputado estadual Amélio Cayres publicou em suas redes sociais, no início da semana, algumas conquistas de seu mandato para o Tocantins, dentre elas a criação da Faculdade de Medicina de Augustinópolis, localizada na região do Bico do Papagaio.
A partir daí, o ex-governador Mauro Carlesse sentiu-se no direito de tentar deslegitimar a atuação do deputado, por meio de um vídeo, que também circula nas redes sociais. O ex-governador afirma que “quem levou a universidade para Augustinópolis fui eu, Carlesse, com muito esforço”, e acusa um candidato, sem citar nomes, mas claramente se referindo a Amélio Cayres, de mentir ao reivindicar o feito. “Não mente não, gente, é muito feio. Se não deu conta de fazer, não precisa mentir que foi você que fez. Não monta em cavalo arreado dos outros não”, declarou Carlesse.
No entanto, a própria história e os registros da época contradizem o ex-governador. Em um vídeo veiculado em maio de 2021, gravado pelo competente comunicador Gerônimo Cardoso, , amplamente divulgado na imprensa regional e em redes sociais, mostra o então governador Mauro Carlesse reconhecendo, publicamente e de forma direta, a importância do deputado Amélio Cayres na articulação política e institucional que resultou na criação da Faculdade de Medicina do Bico do Papagaio.
No material, Carlesse parabeniza o deputado pela conquista, atribuindo a ele o empenho e o protagonismo na defesa do projeto junto ao Governo do Estado e ao Ministério da Educação.
Entenda
Atualmente, Amélio Cayres é considerado pré-candidato ao Governo do Tocantins e ocupa a presidência da Assembleia Legislativa do Tocantins, mantendo forte base eleitoral na região do Bico do Papagaio, onde o curso de Medicina representa um marco para o desenvolvimento local. Mauro Carlesse também se intitula como pré-candidato ao Governo do Estado.
A divergência sobre os méritos da criação do curso evidencia o conflito de narrativas. De um lado, um ex-governador que busca validar o legado de sua gestão; de outro, um parlamentar que apresenta o projeto como um resultado direto de sua atuação legislativa e articulação política.
A tentativa de reescrever a história soa como um cálculo político arriscado para Carlesse. Para os observadores, o episódio expõe uma contradição gritante, bem como ressuscita fantasmas de uma gestão que terminou de forma traumática.
Governador em exercício Amélio Cayres assina Ordem de Serviço para a construção do Câmpus próprio da Unitins em Augustinópolis - Foto: Esequias Araujo/Governo do Tocantins em 28/06/2024
Quem não se lembra, quando ainda era deputado estadual em 2015, de Mauro Carlesse hospedado na Assembleia Legislativa, uma vez que teve uma ordem judicial de prisão civil emitida pela comarca de Barueri (SP) por atraso no pagamento de pensão alimentícia? Como o Tocantins não possui uma cadeia para presos dessa natureza, a Justiça determinou que ele cumprisse a prisão dentro da própria Assembleia Legislativa de Palmas, especificamente no seu gabinete ou em sala sob custódia da polícia legislativa. A prisão durou até que os valores devidos fossem pagos
Embora sua administração tenha tido méritos inegáveis, como a assinatura da Ordem de Serviço para a construção da ponte de Porto Nacional, os escândalos falaram mais alto. Este novo tropeço serve como um lembrete amargo para quem sonha em voltar ao jogo, a primeira regra é não brigar com os fatos especialmente quando eles estão a um clique de distância.
Enquanto Carlesse duela com seu próprio passado gravado, Amélio Cayres assiste de camarote, vendo sua autoria na obra ser reforçada pelo erro primário de seu detrator. Na política, às vezes, o melhor marketing é o ataque do adversário.