O bode na sala

Posted On Quarta, 17 Setembro 2025 14:35
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Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues

 

 

Na política tocantinense, às vezes a figura mais incômoda não é a oposição declarada, mas o “bode na sala” que todos fingem não ver. Hoje, esse papel recai sobre a candidatura à reeleição do senador Irajá Silvestre (PSD), que ressurgiu com força após arranjos recentes dentro do próprio partido.

 

 

A ex senadora Kátia Abreu articula um palanque sólido para o presidente Lula no Tocantins, com Laurez Moreira (PSD) como candidato ao governo e Irajá disputando a reeleição. O problema é que o PSD, em nível nacional, está nas mãos de Gilberto Kassab, alinhado à pré-candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas (São Paulo), adversário direto de Lula em 2026. Ou seja, trata-se de um palanque lulista em solo tocantinense sustentado por um partido que, em Brasília, marcha para o lado oposto.

 

Esse é o imbróglio que precisa ser resolvido. Laurez, hoje governador interino e presidente da comissão provisória do PSD no Tocantins, tem a missão de manter harmonia entre os interesses locais e a cúpula nacional da legenda. Já o senador Irajá, que abriu espaço para que Laurez assumisse a presidência estadual, se vê diante do desafio de negociar com Kassab antes do prazo final de filiações e arrumar a equação partidária.

 

Há ainda outro ingrediente e fala-se nos bastidores que Tarcísio pode migrar para o PL ou costurar uma federação com Republicanos, União Brasil e PP – um bloco robusto da direita que, no Tocantins, já ensaia candidatura com a senadora Professora Dorinha (União/PP) e o senador Eduardo Gomes (PL), apoiada pelos bolsonaristas.

 

Logo, temos de um lado, um grupo afinado com a direita nacional, mirando em Tarcísio presidente; do outro, Laurez no PSD de Kassab tentando garantir palanque para Lula. Duas engrenagens que, na teoria, não giram juntas, mas que, no Tocantins, se cruzam perigosamente.

 

Ex-governador Marcelo Miranda e a ex-senadora Kátia Abreu 

 

O Observatório Político de O Paralelo 13 lembra bem: não seria a primeira vez que uma virada de mesa alteraria o jogo partidário no Tocantins. No passado, quando Júnior Coimbra era presidente do MDB no Tocantins, a própria senadora Kátia Abreu interveio no partido, tirando o comando do saudoso deputado Júnior Coimbra, que articulava coligação com Siqueira Campos, para entregar a direção ao então candidato Marcelo Miranda. Naquela articulação Marcelo foi eleito governador e Kátia reeleita senadora. Poucos dias depois, já consagrada nas urnas, a senadora rompeu politicamente com o governador eleito, deixando claro que, em política, nada é definitivo.

 

Esse episódio serve de alerta para Laurez e seu grupo. Em política, a matemática não fecha quando quem manda é a cúpula nacional da legenda. O risco de nadar, nadar e morrer na areia é real.

 

Presidente Nacional do PSD Gilberto kassab e  o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas

 

Esse jogo de contradições pode gerar efeitos colaterais antes mesmo das convenções de 2026. Afinal, não há espaço para dois palanques nacionais conflitantes ocupando a mesma sala. O “bode” precisa ser retirado ou, no mínimo, acomodado.

 

No fim das contas, todo cuidado é pouco quando se trata de cúpulas partidárias. Em Brasília, basta um piscar de olhos para que tudo mude: alianças, candidaturas, até as convicções mais firmes. E, convenhamos, o jogo ainda nem começou.

 

 

 

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