DECISÃO DE BARROSO DÁ A LAUREZ SEGURANÇA JURÍDICA E POLÍTICA PARA GOVERNAR — PARTE II

Posted On Segunda, 13 Outubro 2025 06:41
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Por Edson Rodrigues e Edivaldo Rodrigues

 

 

Dando continuidade à análise sobre a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que garantiu ao governador interino Laurez Moreira a permanência no comando do Executivo estadual por seis meses, o Observatório Político de O Paralelo 13 aprofunda hoje a reflexão sobre os reflexos políticos, jurídicos e históricos desse momento, tanto no Tocantins quanto no cenário nacional.

 

Luís Roberto Barroso

 

A determinação de Barroso consolida a estabilidade institucional do governo interino, mas também abre espaço para discutir o papel da Justiça, da mídia e da opinião pública e a linha tênue que separa o julgamento jurídico do julgamento político um tema que atravessa toda a história republicana brasileira.

 

A HISTÓRIA SE REPETE

 

Ao longo de quase quatro décadas de atuação, O Paralelo 13 tem acompanhado os bastidores da política nacional e testemunhado o que se pode chamar de “a ópera dos julgamentos políticos”.

 

 

O Brasil já viveu momentos em que o embate entre o poder e a lei se confundiu. Foi assim com Fernando Collor de Mello, afastado do cargo em meio a uma tempestade política que o transformou no primeiro presidente cassado da história. Condenado pela opinião pública antes do julgamento, Collor ainda hoje luta para reconstruir sua narrativa.

 

 

Anos depois, Dilma Rousseff teve destino semelhante e foi cassada politicamente, sem condenação criminal, mas preservando seus direitos políticos. Hoje, preside um dos maiores bancos internacionais do planeta.

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de uma das maiores operações judiciais do país, a Lava Jato. Preso e condenado, acabou absolvido posteriormente, reconquistou seus direitos e foi eleito novamente presidente da República, símbolo de como a história corrige o erro do pré-julgamento.

 

 

Mais recentemente, Jair Bolsonaro foi declarado inelegível, acusado de conspirar contra as instituições democráticas, encerrando um ciclo político que começou justamente prometendo romper com o sistema tradicional.

 

Esses episódios revelam um padrão de que no Brasil, a fronteira entre o jurídico e o político é movediça. Nem sempre a justiça se faz nos tribunais e às vezes, ela acontece nas urnas, ou é corrigida pelo tempo.

 

TOCANTINS: ENTRE A LEI E A POLÍTICA

 

Marcelo Miranda

 

No Tocantins, o enredo não é diferente. Em pouco mais de 35 anos, quatro governadores Marcelo Miranda, Sandoval Cardoso, Mauro Carlesse e agora Wanderlei Barbosa foram afastados ou cassados.

 

Sandoval Cardoso

 

Todos enfrentaram operações espetaculares da Polícia Federal, com cobertura intensa da imprensa e exposição de familiares e aliados. O tempo, no entanto, mostrou que muitas acusações não se sustentaram. Marcelo Miranda, Sandoval e Carlesse tiveram seus direitos políticos restabelecidos e bens liberados após o encerramento dos processos.

 

Mauro Carlesse

 

O caso de Wanderlei Barbosa, portanto, precisa ser tratado com prudência. As investigações sobre a compra de cestas básicas durante a pandemia seguem em curso. À época, mais de 430 pessoas perderam a vida no Estado, e centenas de famílias ficaram desamparadas, passando fome e sem acesso ao auxílio emergencial. Os recursos destinados à compra das cestas básicas se comprovadamente desviados, representam uma das ações mais desumanas já registradas na história recente do Tocantins.

 

Wanderlei Barbosa

 

Além disso, as investigações da Polícia Federal sobre o possível desvio de recursos oriundos de emendas impositivas, envolvendo o governador afastado e diversos deputados estaduais autores dessas emendas, apontam para um quadro grave. Se confirmadas as acusações, será uma das maiores crueldades políticas e sociais já praticadas no Estado. Mas os supostos desvios ainda seguem em investigação das autoridades competentes. Neste contexto, caso houverem culpados que os mesmos sejam presos, condenados, e tenham seus bens confiscados com os direitos políticos cassados.

 

Entretanto, até que as provas estejam consolidadas nos autos do processo, é dever de todos, imprensa, Justiça e sociedade evitar o pré-julgamento. Se houver culpa comprovada, que venha a punição exemplar. Mas se não houver provas, que se faça justiça reparadora, com a mesma força e publicidade usadas para condenar.

 

O CARISMA DE WANDERLEI

 

Wanderlei Barbosa é um líder carismático, de linguagem simples e forte identificação com o povo. Seu jeito popular o transformou em um político de apelo genuíno. Contudo, as denúncias e acusações que pesam sobre ele resultaram em duas derrotas consecutivas nas cortes superiores.

 

Chegou o momento de uma decisão pessoal e política. Não é mais possível permanecer refém das manchetes negativas que corroem sua imagem e enfraquecem seu patrimônio político. É preciso agir com serenidade, estratégia e humildade.

 

 

Wanderlei deve aproveitar enquanto ainda tem aliados e influência na Assembleia Legislativa. O pedido de impeachment protocolado pelo vereador Carlos Amastha, sem consistência jurídica, não pode se transformar em espetáculo. Cabe ao presidente da Assembleia, Amélio Cayres, conduzir o tema com responsabilidade.

 

Wanderlei não é réu, tampouco condenado. Está sendo investigado e isso precisa ser dito com clareza. Sua defesa jurídica atua em Brasília, mas sua defesa política deve ser feita nas ruas, dialogando com o povo, como sempre soube fazer.

 

O PREÇO DA PROCRASTINAÇÃO

 

Cada decisão negada pelas cortes em Brasília é mais um sangramento político. O tempo da dúvida desgasta aliados, militância e familiares. O governador afastado precisa cair na estrada, defender o legado da sua gestão e planejar um novo ciclo talvez um mandato legislativo em Brasília, na Câmara ou no Senado. O exemplo de Lula mostra que a política também é feita de resistências. O que não pode é se perder em ressentimentos.

 

Além disso, o projeto político original da família Barbosa não se sustenta mais. Com o filho, deputado Léo Barbosa, buscando reeleição, não há clima político para novas candidaturas familiares simultâneas. O eleitor tocantinense é atento e não aceita mais fórmulas antigas.

 

WANDERLEI NÃO PODE COBRAR NADA DE LAUREZ

 

 

É importante lembrar que o principal beneficiado pelo afastamento de Wanderlei foi seu vice, Laurez Moreira, que havia sido isolado do poder. Durante o governo, Laurez teve o cartão corporativo cortado, assessores exonerados e estrutura reduzida. O próprio Wanderlei chegou a dizer publicamente que não confiava em seu vice. Mesmo assim, Laurez manteve o equilíbrio e o silêncio institucional, jamais respondeu com ataques e, agora, colhe os frutos da prudência.

 

Com o afastamento confirmado, Laurez governa com segurança jurídica e política, reorganiza sua base e constrói um grupo próprio para 2026. Está consolidando uma imagem de gestor técnico, de perfil sereno, que busca pacificar o Estado e restabelecer o diálogo entre as forças políticas.

 

A POLÍTICA PRECISA DE PAZ

 

 

O Tocantins vive um período de redefinição institucional. Laurez Moreira precisa governar com serenidade e diálogo; Wanderlei Barbosa precisa reencontrar seu caminho com coragem e humildade.

 

A política é feita de ciclos e este é o início de um novo. Que o Estado avance, que a Justiça prevaleça e que o bom senso volte a ser a regra.

 

O Observatório Político de O Paralelo 13 acredita que a grandeza de um líder está na capacidade de unir, não de dividir. Que o Tocantins, finalmente, encontre o equilíbrio entre lei, política e humanidade.

 

 

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