Coletiva do Instituto Butantan nesta terça-feira (11) reuniu pesquisadores para detalhes sobre o estudo da Coronavac. Eficácia global da vacina na pesquisa com profissionais de saúde na linha de frente da pandemia foi de 50,4% 

 

Por Luiza Caires

 

“A melhor vacina é a que está disponível mais rápido e que pode vacinar mais gente, e a melhor saída da pandemia é ter alguma vacina razoavelmente eficaz e segura”. A frase do médico e pesquisador da USP Marcio Sommer Bittencourt refletiu o tom que parte da comunidade científica tenta transmitir à população em relação à Coronavac. Cinco dias após a divulgação ao público de parte das informações e quatro dias após a submissão à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do pedido para seu registro emergencial, o Instituto Butantan apresentou, nesta terça-feira (11), mais números e a metodologia da vacina contra a covid que desenvolveu com o laboratório Sinovac.

 

Na quinta-feira (7) uma coletiva de imprensa informou que a vacina apresentou eficácia de 78% para prevenir casos relativamente leves, mas que precisam de algum tipo de assistência médica, e 100% para prevenir casos graves, que demandam internação, assim como óbitos. Faltava a porcentagem global de eficácia, que incluía casos da doença, em qualquer nível de gravidade. É o que, no estudo, os especialistas chamam de “desfecho primário”. Levando isso em conta, a eficácia da vacina é de 50,4%. Ou seja, a chance de desenvolver a doença tomando a vacina, por este estudo, é cerca de 50% menor para quem foi vacinado quando comparado a quem não foi. E a chance de, mesmo infectado, não desenvolver sintomas graves com necessidade de assistência e nem ir a óbito é 78% menor entre quem tomou a vacina. Este último número é o que os especialistas chamam de “desfecho secundário”, ou desfecho clínico.

 

Como ponto favorável à vacina, o diretor do estudo Ricardo Palácios ressaltou que o estudo foi desenhado para ser o mais rigoroso possível, sugerindo que a eficácia global pode ter caído por isso. Ela foi testada em profissionais de saúde em contato direto com pacientes com coronavírus – o número de casos em trabalhadores que atuam na linha de frente contra a covid é maior. “Se quisermos comparar os diferentes estudos, é como comparar uma pessoa que faz uma corrida num terreno plano com outra que corre num terreno íngreme e cheio de obstáculos. Isso foi o que fizemos: colocar obstáculos”, disse. Participaram 12.476 pessoas em 16 centros clínicos localizados em oito Estados brasileiros.

 

Presente no evento, a presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) Natália Pasternak chamou a atenção para a efetividade da vacina no “mundo real”. De acordo com a microbiologista, não adiantaria termos uma vacina com 90% de eficácia e poucas pessoas imunizadas porque a vacina não chegou até elas. Por exemplo, porque não temos freezers adequados para armazená-las. Natália ressaltou que a Coronavac tem potencial de prevenir casos graves e mortes e agora é preciso investir o quanto antes numa campanha publicitária e de vacinação.

 

Para ela, essa vacina é só o começo do fim da pandemia, e as medidas de prevenção devem continuar. Podem surgir outras melhores, inclusive essa mesma continua sendo pesquisada, aprimorada. “Se essa vacina é o começo, vamos começar!”, concluiu.

 

Marcio Bittencourt, que integra Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica Hospital Universitário (HU) da USP, também defende os benefícios da Coronavac. “Para uma vacina desenvolvida em um ano, que pode ser produzida em larga escala localmente, distribuída facilmente sem problemas, acho um espetáculo. Sim, tem outras que nas pesquisas foram melhores, mas se você não consegue distribuir não adianta nada”, diz. E ilustra:

 

“Sendo simplista, ao vacinar 1 milhão com vacina que reduz 95%, o máximo que você protegeu foram 950 mil pessoas. Mas ao vacinar 200 milhões com uma vacina que reduz 50%, você protege até 100 milhões de pessoas. E entre os que pegam, a maioria nem de médico precisa.”

 

Segurança

Nas etapas anteriores, os cientistas já haviam concluído que a Coronavac era segura e eficaz em produzir imunidade. A fase 3 foi realizada principalmente com o objetivo de saber se o imunizante, de fato, impedia que uma pessoa ficasse doente. Mesmo assim, continuam sendo acompanhados quaisquer reações e eventos adversos com os participantes.

 

Como mais um ponto a favor da segurança do produto, André Siqueira, pesquisador da Fiocruz que atuou como pesquisador principal do estudo da Coronavac no Rio de Janeiro, ressalta que a taxa de eventos adversos nos grupos placebo e vacinados foram similares, e menores em ambos os grupos após a segunda dose. Entre as reações foram relatadas dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga.

 

A Anvisa tem dez dias para responder ao pedido de uso emergencial, após a entrega de todos os dados. O pedido de registro definitivo no Brasil, segundo o diretor do Butantan, deve ser feito pela Sinovac, assim como o pedido de registro em outros países, conforme os dados todos forem consolidados. “A Sinovac recolhe os dados dos estudos e é ela que submete o pedido de registro, inicialmente à MNPA, que é a ‘Anvisa chinesa’, e também à Anvisa ”, disse Dimas Covas.

 

Detalhando os dados

Durante o evento desta terça, foram apresentados os principais números do estudo. No grupo placebo, 3,6% dos participantes tiveram covid-19 (167 em um total de 4599). No grupo vacinado, 1,8% pegaram a doença (85 em um total de 4653).

 

No grupo placebo, 0,7% (31 participantes entre os 4653) precisou de assistência médica por covid-19. No grupo vacinado, somente 0,15% (7 de 4599 participantes) precisou de assistência médica. Ao comparar 0,15%, com 0,7%, chegamos a taxa de 78% pessoas a menos desenvolvendo sintomas graves.

 

Para André Siqueira, os resultados são positivos na prevenção de infecções que sobrecarregam os serviços de saúde, em especial infecções graves, de modo que podem ter um impacto relevante para saúde pública. “O quão impactante vai depender do número de doses disponibilizadas, da cobertura populacional nos diferentes Estados e da rapidez desta administração”, fatores que, destaca ele, não estão claros no plano de imunização divulgado pelo Ministério da Saúde.

 

Ele explica que a taxa de eficácia de 78% apresentada pelo Instituto Butantan foi calculada utilizando como desfecho principal um índice da OMS (ver tabela abaixo), mas considerando somente a pontuação maior ou igual a 3, comparando-se o grupo vacinado e o não vacinado. “Este score vai de 0, que é o assintomático, a 10, que é óbito; 2 é o paciente sintomático, mas independente; 3 é quando a pessoa é confirmada para infecção pelo coronavírus, sintomática, e tem necessidade de intervenção, mas perdeu de certa forma a independência do 2, que é paciente com sintoma leve.”

 

Já a taxa de 100% foi atingida considerando as formas graves, acima de 4, que precisam de internação. Ou seja, o que não entrou na conta dos 78%, e que não havia sido apresentado ainda pelo governo, eram o grupo 2, que é a infecção sintomática mas que não demanda cuidados médicos, e os assintomáticos.

 

Coronavac

 

A vacina da Sinovac é produzida com vírus inativado, incapaz de causar a doença. Quando introduzida no organismo, ativa o sistema imunológico para que ele reconheça aquele corpo estranho e produza anticorpos para se defender.

 

Os testes mostraram que serão necessárias duas doses da Coronavac – aplicadas em intervalos de 21 dias para garantir imunidade. Segundo o secretário de Estado da Saúde Jean Gorinchteyn, São Paulo já tem disponíveis 10,8 milhões de doses da vacina, e até a primeira quinzena de fevereiro chegarão mais 35 milhões. Dimas Covas anunciou que o Instituto Butantan tem capacidade para produzir 1 milhão de vacinas por dia.

 

O governador João Doria afirmou que a primeira fase da campanha de vacinação deve iniciar em 25 de janeiro deste ano. Profissionais de saúde, indígenas e quilombolas vão receber as primeiras doses.

 

Eficácia tira foco de outras discussões

O médico e pesquisador do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP José Galucci Neto acredita que estamos voltando muita atenção à questão da eficácia, quando esse não é um problema. “A nossa maior chance de fracassar será na hora de transformar a vacina em um programa efetivo de vacinação que atinja a população, capilarize”.

 

Para ele, considerando que essa será uma campanha de vacinação imensa, talvez a maior da história do país, o Ministério da Saúde teria que ter mobilizado de maneira coesa sociedade civil, profissionais de saúde, e a classe política, os governos federal e estaduais. “Mas não houve até o momento nenhum tipo de campanha nem de esclarecimento nem de mobilização. Pelo contrário, as mensagens são sempre ambivalentes, ambíguas.” Para Galucci Neto, tudo indica que o Governo Federal assumiu o risco de não se preparar acreditando que a pandemia de alguma maneira estivesse menos impactante agora ou já controlada. Haja vista que não adquiriu insumos como seringas, e está dependendo de estoques que podem ser usados mas teriam como endereço outras campanhas vacinais, como sarampo, BCG que vão ter que acontecer em paralelo.

 

“Não sabemos como está o PNI [Programa Nacional de Imunização], o quanto foi desestruturado, e se vai ter a mesma potência que tinha antes. Na época do H1n1, o PNI vacinou 80 milhões de pessoas em 3 meses. Mas eles já tinham, antes de começar a campanha, 100 milhões de doses da vacina estocadas e insumos preparados”, recorda. “Acho improvável, da maneira como as coisas estão sendo feitas, que o Ministério da Saúde consiga dar conta das duas coisas de maneira organizada” Com tudo isso, o pesquisador acha que discutir neste momento se a eficácia é 50 ou 60% acaba sendo “picuinha”, ainda que ele tenha críticas sobre a maneira como foi feita a comunicação do Governo Estadual sobre a Coronavac. “Passando dos 50%, o Ministério teria que estar preparado para começar a vacinação assim que a Anvisa aprovar, mas não está. Honestamente, estou muito preocupado”.

Política de uso

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Posted On Quarta, 13 Janeiro 2021 04:21 Escrito por

Joe Biden publicou um artigo em uma das revistas mais populares sobre assuntos militares nos EUA, a Foreign Affairs. O nome do texto é Why America Must Lead Again Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump (Por que a América deve liderar novamente. Resgatando a política externa dos EUA após Trump).

 

Por André Galindo da Costa

 

O conteúdo do texto serviu como base para as políticas externas aprovadas em agosto de 2020 pelo Partido Democrata para a campanha eleitoral de Biden, o que permite extrair um conjunto de elementos que deve pautar as ações dos EUA no mundo para os próximos quatro anos.

 

 

Críticas a Trump

Em seu artigo, Joe Biden deixa claro que irá romper com a doutrina de política externa praticada por Donald Trump. O novo presidente considera que Trump teria afastado-se de aliados históricos dos EUA e, com isso, enfraquecido a liderança dos EUA no mundo. Biden garante que na sua presidência irá renovar tais alianças e fazer com que os EUA tornem-se novamente o grande líder mundial.

OTAN

Para Biden, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é parte intrínseca da segurança nacional dos EUA. Trump realizou críticas constantes e ameaçou tirar os EUA e reduzir investimentos na OTAN. Joe Biden, por sua vez, anuncia que irá aumentar os investimentos na aliança militar e criar estímulos para que os países europeus façam o mesmo. Os aumentos com despesas em defesa buscarão reforçar a condição da OTAN de mais poderosa força militar do mundo, segundo o presidente eleito.

 

Cúpula pela “democracia”

Em seu artigo, ele também se compromete a realizar uma cúpula global em defesa da democracia, durante seu primeiro ano de governo. O novo Presidente dos EUA afirma que só farão parte desse evento as nações do “mundo livre” e as organizações da sociedade civil que praticam a defesa da democracia.

Segundo ele, esse evento servirá como fórum de decisão coletiva sobre os regimes que representam uma “ameaça global”. Sendo bastante tendencioso, ao tentar definir o que são nações do “mundo livre” e “ameaças globais”, a intenção evidencia que farão parte da cúpula apenas países que possuem alinhamento histórico com os EUA: Reino Unido, França, Alemanha, Israel, Canadá, Japão, Colômbia, Chile, etc.

 

Como “ameaças globais” devem ser enquadradas nações que se contrapõem às investidas imperialistas dos EUA e que possuem projetos mais autônomos de desenvolvimento, como Cuba, Venezuela, Nicarágua, China, Síria, Irã, Iêmen, Bielorrússia e Rússia. Assim, como o governo de Barack Obama, os EUA devem promover revoluções coloridas, troca de regimes, golpes de Estado, guerras híbridas e até mesmo guerras quentes com invasões e bombardeios nas nações que consideram ameaças globais.

 

China e Rússia

Biden afirmou que o aumento da capacidade militar da OTAN objetiva conter “violações de normas internacionais” e “agressões russas”. Também propõe a criação de uma frente única de nações com o propósito de conter possíveis violações dos direitos humanos e “ofensivas chinesas”. Isso faz crer na possibilidade de intensificação da ingerência dos EUA em conflitos na periferia da Rússia: Azerbaijão, Armênia, Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, Moldávia e Chechênia. Há também expectativa de acentuação de tensões militares no mar do Sul da China. Podem retomar a agenda de protestos em Hong Kong e promover ações que inviabilizem as novas rotas da seda.

 

Liderança mundial dos EUA

Biden considerou a possibilidade de os EUA servir como um grande guia do mundo, algo que, segundo ele, aconteceu nos últimos 70 anos. Para o novo presidente, os EUA teria exercido liderança no estabelecimento de regras internacionais, algo que sempre se deu tanto em governos democratas, como em republicanos, mas que foi interrompido por Donald Trump. Joe Biden afirma que em seu governo a liderança mundial dos EUA será revivida.

 

O que esperar do governo Biden?

A diretriz da política externa de Biden contou com a participação de mais de dois mil conselheiros militares e de política externa. No total, 130 membros do Partido Republicano conhecidos em âmbito nacional declararam apoio a Biden. Dentre esses republicanos está John Negroponte, diretor de inteligência nacional (2005-2007) e secretário de Estado adjunto (2007 – 2009) no governo de George W. Bush. Negroponte exerceu um importante papel nas guerras contra Afeganistão e Iraque, sendo o primeiro embaixador dos EUA no Iraque após a consolidação da invasão estadunidense em 2004.

 

Essa aliança entre membros do partido republicano, em sua maioria neocons, e democrata, em sua maioria imperialistas humanitários, no apoio a Biden e em oposição a Trump evidencia as entranhas do estado profundo (deep state). As divergências entre republicanos e democratas que na política interna estão relacionadas a temas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade racial e de gênero, não se manifestam na política externa. Esses dois partidos parecem estar alinhados na pauta imperialista de expropriação estrangeira e, portanto, formam um único partido, que é o partido da guerra.

 

Antecedentes de Biden

Como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, em três ocasiões, entre 2001 e 2009, Joe Biden prestou importantes contribuições para as guerras do Afeganistão e Iraque no governo de Georg W. Bush. Em 2001, Biden apoiou abertamente a invasão proposta pelo Presidente George W. Bush ao Afeganistão em 2001. Em 2002, foi o responsável pela resolução do Senado que autorizou a invasão de Bush ao Iraque sob a acusação de Saddam Hussein manter armas de destruição em massa. As provas apresentadas pelos EUA sobre as armas iraquianas resultaram falsas.

 

Em 2007, Biden aprovou, no Senado, um plano que dividiu o Iraque em três regiões autônomas por grupos étnicos ou religiosos: curdos, xiitas e sunitas. O desmembramento do Iraque acirrou conflitos regionais internos, enfraquecendo a unidade e gerando um processo de balcanização. Como vice-presidente de Barack Obama (2009 – 2016), Biden foi um fervoroso apoiador das guerras na Líbia e Síria e incitou um confronto com a Rússia. As decisões sobre guerras tomadas pelo governo democrata de Obama sempre tiveram amplo apoio dos congressistas republicanos.

 

Referências

BIDEN, Robinette Joseph. Why America Must Lead Again. Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump”. Foreign Affairs, março/abril, 2020.

 

BIDEN, Robinette Joseph. Biden Harris: a presidency for all americans. The power of America’s example: the Biden plan for leading the democratic world to meet the challenges of the 21st century. Disponível em: < https://joebiden.com/americanleadership/&gt; Acesso em: 21/12/2020.

 

DINUCCI, Manlio. Voltaire Network. La politica estera di Joe Biden. Disponível em: < https://www.voltairenet.org/article211595.html&gt; Acesso em: 21/12/2020

Fonte: Texto publicado originalmente no site Diálogos do Sul.

Link direto: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/biden-para-a-america-latina/67969/senhor-da-guerra-em-artigo-joe-biden-define-politica-externa-para-proximos-4-anos

André Galindo da Costa
Doutor em Ciências pelo Programa de Integração da América Latina PROLAM, da Universidade de São Paulo (USP)

 

 

Posted On Domingo, 10 Janeiro 2021 06:54 Escrito por

Nizan Guanaes

 

Eu fiz uma cirurgia bariátrica há muitos anos, de maneira estabanada, para me livrar dos meus antigos 150 quilos. Meu pai morreu do coração aos 45 anos, e eu não podia continuar com aquele peso. O médico diz que você vai poder comer de tudo. O problema é que você passa a beber de tudo também.

 

Eu quase virei alcoólatra. Como, aliás, acontece com muitas pessoas que fazem bariátrica sem se preparar antes e sem supervisão depois. E foi para cuidar dos meus excessos — de cigarros, bebidas, cafés, refrigerantes e remédios para dormir -  que eu, graças a Deus, conheci o médico psiquiatra Arthur Guerra. Ele transformou a minha vida não me entupindo de mais remédios, mas tirando esses remédios e me entupindo de esportes.

 

Guerra me botou para fazer triatlos e maratonas e me fez descobrir um mundo que acorda às 5 da manhã e dorme exausto e feliz às 10 da noite.

 

Mas, de tudo o que Arthur Guerra me ensinou, nada é mais brilhante do que a pergunta dele que eu coloquei em cima da minha mesa de trabalho e a que tento responder todos os dias: “Nizan, você aguenta ser feliz?”. Esta, querido leitor e querida leitora, é a pergunta que dou de presente de Ano Novo depois de um ano de tantas tristezas, mas também superações. Você aguenta ser feliz?

 

A pessoa luta para alcançar determinados objetivos na vida e, se e quando consegue atingi-los, quer mais e mais. A gente sonha com uma meta e, quando chega lá, começa a sofrer atrás de outra mais distante. Pedimos aos céus o que não temos, em vez de agradecermos o que já temos. E, quando atingimos o que tanto queríamos, aí queremos neuroticamente um novo objetivo. Ou seja, estamos sempre deixando para ser feliz na próxima conquista. Isso pode ser (e é) motivador, mas muitas vezes é enlouquecedor também.

 

Então meu ponto aqui é que a felicidade, como tanta coisa nessa vida, é uma questão de disciplina.

 

O dalai-lama diz que a felicidade é genética ou treinada. E de fato tem gente que é feliz por natureza. Para nós, a grande maioria, ela é uma conquista. É como se fosse uma outra carreira, interna: administrador de si mesmo.

 

E essa pessoa insaciável retratada nesta coluna está, em maior ou menor grau, dentro de todos nós. Os felizes não a escutam muito. Os infelizes são dominados por ela.

 

Esse comportamento nos leva a fazer duas coisas que são absolutamente inúteis: tentar corrigir erros de coisas que ficaram no passado e postergar a felicidade para conquistas que enxergamos no futuro. Como passar 2021 tentando corrigir os fracassos de 2020 ou adiando a felicidade para 2022.

 

Por isso, a pergunta é necessária. Será que você aguenta ser feliz? Até porque as melhores coisas da vida não têm preço: amor, família, amigos, fé, respiração.

 

Ser feliz é quase uma dieta, uma alimentação balanceada da alma. Que mistura bens materiais e, principalmente, imateriais.

 

Essa é uma reflexão para você, pessoa física, mas que pode ajudar muito a pessoa jurídica. Por isso Harvard tem tratado tanto da administração da pessoa ao tratar da administração da empresa.

 

O que desejo a você, leitor, é o que eu me desejo em 2021 e será o meu desafio diário: que você lute para ser as coisas que queira ser, mas não despreze o que é conquistado, o que já é. E que viva 2021, e não 2020 ou 2022.

 

Até porque o ano que começa será, tem que ser, um ano de cura, de vacina, de virada e de vida. 2020 foi um ano de grande tristeza. De muitas perdas. De muitas e duras lições.

 

Ficamos desesperados e muito tristes, e essa tristeza era inevitável. Mas a vida precisa da felicidade, e a felicidade precisa da vida.

 

Feliz ano novo!

Posted On Quinta, 31 Dezembro 2020 07:27 Escrito por

Por Andréa Luiza Collet*

 

No Cerrado brasileiro, um dos fenômenos mais marcantes é a floração dos ipês, que ocorre entre os meses de julho e setembro. Na região, costuma-se dizer que existem apenas duas “estações”: o inverno, quando chove (mas, na realidade é o verão do calendário), e o verão – período de seca extrema, quando as águas dos rios baixam e as praias surgem em suas margens. E é em pleno ‘verão amazônico’, com o tempo seco, altas temperaturas, vegetação aparentemente sem vida e muitas queimadas (infelizmente!) que os ipês colorem o cenário triste e cinzento com  suas delicadas flores.

 

As árvores perdem suas folhas e a paleta de cores da natureza pinta as copas das árvores de amarelo, roxo, branco e rosa... em uma explosão de cores que, emoldurada por um azul celestial infinito, sem uma nuvem de chuva sequer, anuncia que a vida se faz presente – em breve, novas sementes surgirão, garantindo a continuidade das espécies. Além da exuberante beleza das flores, que acalenta o olhar cansado, o renascimento anual dos ipês é um prenúncio da primavera ao mesmo tempo em que nos ensina preciosas lições:

 

- Às vezes é necessário abrir mão de algo que consome a energia (folhas) para que novas possibilidades surjam (flores) e a renovação (sementes) se torne possível;

 

- Independente das circunstâncias, é possível perseverar e florescer;

 

-  A beleza das flores sempre fará diferença num cenário árido, aparentemente sem vida, contribuindo para o renascer da esperança;

 

- Pode haver harmonia entre a dureza (oriundo do Tupi, o nome ipê faz referência à arvore de casca dura) e a fragilidade (as flores duram de 5 a 10 dias), numa simbiose de beleza e leveza.

 

E, com essas lições de coragem e esperança dos ipês brasileiros, desejamos a você e sua família um 2021 renovado, mais resistente, vivo e florido!

 

*Andréa Luiza Collet

Jornalista (formada na primeira turma da Unitins) e mestre em Administração. Morou no Tocantins de 1990 a 2010.

Posted On Sábado, 26 Dezembro 2020 07:50 Escrito por

A vida em sociedade nos dias que correm apresenta algumas peculiaridades marcantes e uma delas diz respeito ao fantástico volume de novas informações e conhecimentos que emergem diariamente, os quais tendem a pôr em xeque e até superar certos saberes antecedentes. Nesse cenário revela-se imprescindível que todas as pessoas acompanhem essa dinâmica para serem capazes de tomar as decisões mais adequadas e agir de maneira consoante tanto na esfera privada quanto na esfera pública, que é o espaço reservado ao exercício da cidadania.

 

Por Antonio Carlos Will

 

Tal espaço é propício ao cidadão ativo, que se revela essencialmente díspar do alcunhado cidadão passivo, isto é, daquela pessoa que prefere realizar a sua existência no âmbito da esfera privada e ser governado pelos outros. O cidadão ativo, ao contrário, é um personagem que se considera governante e opta pelas ações conjuntas, muitas vezes destinadas a influenciar as decisões políticas.

 

Essas características substanciais exigem que ele se mostre como uma pessoa bem informada e que acompanha os acontecimentos nacionais e internacionais, principalmente pela leitura de jornais, que já entrou nas instituições escolares, uma vez que grande parte dos educadores a consideram um recurso pedagógico imprescindível.

 

De fato, a História registra que o uso do jornal nos estabelecimentos educativos começou no século 19. Janusz Korczak, um médico polonês, utilizou-o no trabalho com crianças pobres que viviam na periferia de Varsóvia. Por sua vez, o pedagogo francês Célestin Freinet fez uso dele para aproximar os alunos da comunidade e prepará-los para a vida democrática. E na terceira década do século 20, professores norte-americanos passaram a utilizar o jornal The New York Times nas salas de aula.

 

Em nosso país, Paulo Freire, nos anos 60 do século passado, tomou a iniciativa de empregá-lo, pois acreditava em seu poder de reduzir a evasão escolar e formar educandos críticos. O pioneirismo empresarial teve origem no jornal Zero Hora, duas décadas após a iniciativa de Freire. Na sequência vieram O Globo e a Folha de S.Paulo. Passados mais dez anos, o Correio Popular e o Diário do Povo, de Campinas, também foram para as escolas, assim como o Estado de S. Paulo, que instituiu o Estadão na Escola, com vista a formar novos leitores e promover a análise crítica da informação. Atualmente algumas dezenas de jornais da maioria dos Estados brasileiros estão seguindo esse mesmo caminho.

 

Vale lembrar que alguns dos jornais brasileiros mais importantes tomaram a decisão de criar versões voltadas para o público de pouca idade, tais como a Folhinha e o Estadinho, que teve seu término no ano de 2013. Com a mesma intenção foi lançado o Joca, semelhante aos publicados na Europa, dentre os quais podem ser citados o Le Petit Quotidien e o Mon Quotidien. O Joca é um jornal escrito especialmente para os mais jovens, usa uma linguagem apropriada para eles e contém notícias, reportagens, entrevistas, curiosidades e assuntos interessantes e atuais sobre o Brasil, o mundo e o universo juvenil.

 

Cabe destacar também que o programa Jornal na Educação se encontra presente, com maior ou menor intensidade, em todas as regiões do Brasil. Note-se ainda que, segundo o Observatório Nacional da Imprensa, o uso de jornais nas escolas melhora os hábitos de leitura, inclusive de jornal, as notas dos alunos e a assimilação dos conteúdos escolares; amplia o vocabulário e a expressão verbal/escrita, a imaginação, a interpretação e a criatividade; favorece o trabalho em grupo e o acesso ao jornal para os alunos e seus familiares, a concentração e a disciplina na sala de aula, a aproximação com a família; motiva o aluno a ir para a aula; causa impacto positivo em avaliações nacionais e internacionais, como Saeb e Pisa; serve de apoio ao livro didático; promove a interdisciplinaridade e a socialização entre os alunos e os professores e uma integração dos discentes com necessidades especiais.

 

Observe-se que a leitura de jornais proporciona outras vantagens aos mais jovens. O domínio de informações atuais é imprescindível para quem vai prestar vestibulares e para quem está à procura de emprego, haja vista que os recrutadores costumam fazer perguntas relacionadas à vida empresarial do momento e do futuro.

 

Não pairam dúvidas de que os aspectos positivos mencionados contribuem bastante para qualificar um cidadão, porém a leitura de jornais pode auxiliar decisivamente no preparo do aluno para o exercício da cidadania ativa, porquanto um sujeito bem informado pode fazer cobranças a políticos, participar de campanhas e movimentos sociais, apresentar denúncias nos meios de comunicação e propor soluções para diversos problemas comunitários. Para tanto é necessário existir um sólido e explícito compromisso dos jornais, tal como fez o Estado, e dos educadores com o objetivo de formar cidadãos ativos.

PROFESSOR APOSENTADO DA ACADEMIA DA FORÇA AÉREA, É AUTOR DE ‘DEMOCRACIA E ENSINO MILITAR’ (CORTEZ) E ‘A REFORMA DO ENSINO MÉDIO E A FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA’ (PONTES)

 

 

Posted On Terça, 15 Dezembro 2020 05:57 Escrito por
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