Há um desânimo generalizado com a inação de Lula, especialmente em relação à atuação de Rui Costa, Ministro-Chefe da Casa Civil
Por Luis Nassif
A nota “Da apatia à ‘bala de prata’: como um assessor de Lula vê o bastidor do governo”, publicada na coluna de Lauro Jardim, em O Globo, reflete com exatidão o estado de espírito reinante no centro do governo Lula.
Há um desânimo generalizado com a inação de Lula, especialmente em relação à atuação de Rui Costa, Ministro-Chefe da Casa Civil.
No episódio do aumento do IOF, por exemplo, Rui Costa e Alexandre Silveira foram frontalmente contrários. Nesse episódio, excepcionalmente, Lula aprovou a proposta de Haddad. Quando a proposta chegou ao Congresso, Costa sumiu de cena, Lula viajou para a França e o Canadá e Haddad ficou exposto às feras do centrão.
Os jabutis nos projetos de lei de energia – beneficiando as termelétricas – têm as impressões digitais de Silveira e o patrocínio de Carlos Suarez e da J & F.
As propostas de política industrial têm esbarrado no paroquialismo de Rui Costa. Lula está prestes a autorizar a BYD (fabricante chinês de carros elétricos) a instalar uma fábrica na Bahia no modelo SKD – no qual grandes subconjuntos do veículo, como a carroceria montada, motor, câmbio e sistema de suspensão, são enviados prontos. Ou seja, nada será fabricado no país.
Lula e Rui Costa, Ministro-Chefe da Casa Civil
Os Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e da Fazenda estão tentando resistir, mas Costa provavelmente sairá vitorioso, inclusive obtendo a isenção de imposto de importação para a BYD, porque quer uma “entrega” relevante no estado, com vistas às próximas eleições.
O mesmo está acontecendo com a implantação de data centers, para a futura Política Brasileira de Inteligência Industrial. O Ministro da Educação, Camilo Santana, exige a instalação em uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, para apressar a inauguração. Ou seja, irá abrir mão de qualquer interação com a economia nacional, tanto na compra de equipamentos quanto na venda de serviços. Como será tratada como exportadora, todos seus serviços – e as vantagens competitivas da energia verde brasileira – estarão exclusivamente a serviço de clientes estrangeiros e, obviamente, da campanha eleitoral de 2026.
Em todas essas discussões, Lula tem-se mantido ausente, não interferindo e, na maioria das vezes, deixando para Rui Costa a última palavra. Especialmente, aceita tudo o que vem da China, sem pensar em exigir contrapartidas para o Brasil.
Não se trata de perda de poder cognitivo. Lula tem perfeita noção do que é relevante para o país. Nas viagens para o exterior, continua demonstrando a acuidade política de sempre. De volta ao país, rende-se ao desinteresse total e subordina-se ao padrão Rui Costa de visão estratégica made in sertão.
Falta projeto de país, falta projeto de comunicação, que está restrita às tais “entregas” – inauguração de obras, precedida de um discurso de Lula. Costa continua apostando nas obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). Para essas fontes, é uma ilusão. A falta de recursos não oferece nenhuma garantia de um PAC pujante.
Depois de tudo isso, só resta sonhar com a tal “bala de prata” que permitirá a Lula renascer em 2026. Seria melhor acreditar em um ditado bíblico: “Deus ajuda quem cedo madruga”.