Emedebista tem apoio de 11 partidos – PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede –, com 281 deputados
Por MARCELO MONTANINI
O deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) oficializou, nesta quarta-feira (6/1), a candidatura à presidência da Câmara dos Deputados. Aliado do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o emedebista tem apoio de 11 partidos – PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede.
A princípio, isso significa contar com o voto de 281 deputados. Mas como a escolha é secreta, ainda há o medo de alguma “traição” por parte dos integrantes dessas siglas.
A candidatura de Rossi foi anunciada no último dia 23 de dezembro, após uma longa novela. O PT, que divulgou estar do lado do bloco autointitulado “centro democrático”, liderado por Maia, só oficializou o apoio à candidatura do emedebista na última segunda-feira (4/1).
“Vivemos momento histórico, sim. E vale esse registo: desde a redemocratização do nosso país, não tínhamos a união de partidos que pensam diferente, formando uma frente ampla. E existe um motivo para isso, somos o que a sociedade espera”, discursou Rossi.
“A sociedade quer mais compaixão, mais respeito e mais igualdade. A sociedade quer uma luta por democracia e por liberdade. Somos diferentes, pensamos diferente a ação do estado”, continuou.
Após o ato desta quarta-feira, Rossi deve realizar algumas viagens em campanha pelo país. A ideia é se reunir com governadores e deputados.
Presidente voltou a se manifestar sobre situação do país em conversa com apoiadores. Declaração desta terça (5) foi criticada por economistas, que cobram reformas
Por Emilly Behnke
Um dia depois de dizer que o Brasil estava "quebrado", o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira, 6, que o País está uma "maravilha" e responsabilizou a imprensa por uma "onda terrível" de sua fala na terça-feira, 5. Em conversa com apoiadores, o chefe do Executivo minimizou a declaração anterior sobre a situação do Brasil, que repercutiu negativamente no meio político e no mercado financeiro.
"Confusão ontem, viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado. Não, o Brasil está bem, está uma maravilha. A imprensa sem vergonha, essa imprensa sem vergonha faz uma onda terrível aí. Para imprensa bom estava Lula, Dilma, que gastava R$ 3 bilhões por ano para eles", afirmou para um grupo de pessoas na saída do Palácio da Alvorada.
Na terça, Bolsonaro disse também a apoiadores que não conseguiu "fazer nada" e atribuiu à pandemia da covid-19 o motivo para não conseguir ampliar a isenção da tabela do Imposto de Renda, uma de suas promessas de campanha.
O presidente Jair Bolsonaro na saída do Ministério da Saúde, na terça-feira. © Dida Sampaio/Estadão - 5/1/2020 O presidente Jair Bolsonaro na saída do Ministério da Saúde, na terça-feira.
A fala sobre a situação do País vai na direção oposta da mensagem que a equipe do ministro Paulo Guedes busca passar sobre a recuperação da economia. Economistas ouvidos pelo Estadão foram unânimes no contraponto de que o País não está quebrado, mas é preciso que o governo faça escolhas.
Nesta quarta, na conversa com apoiadores, Bolsonaro, ainda em reforço às críticas à imprensa, negou ter conversado por telefone com o ex-presidente Michel Temer, como noticiado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. "De vez em quando eu falo com ele, mas tem mais de 30 dias que eu não falo com o Temer", disse.
Segundo o presidente, a notícia foi "inventada" e seria uma forma de influenciar nas eleições para as mesas do Congresso. O mandatário chegou a dizer que a imprensa brasileira "não é nem lixo né, lixo é reciclável" e que "não serve para nada, só fofoca e mentira o tempo todo".
Desemprego
Ele voltou a falar sobre a situação de desemprego no País, que atingiu 14,2% em novembro de 2020, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19), que é mensal e realizada desde maio. Na terça, o presidente afirmou que "uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada", em referência à formação dos brasileiros. Nesta quarta, Bolsonaro minimizou sua fala e reforçou críticas ao educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira.
"Ontem falei que parte dos brasileiros não estão preparados para o mercado de trabalho. Pronto, a imprensa falou que eu ofendi todos os empregados do Brasil. Agora, nós importamos serviços porque não tem gente habilitada aqui dentro. Porque há 30 anos é destruída a educação no Brasil, a geração Paulo Freire, né", declarou.
Após a conversa com apoiadores na saída da residência oficial, Bolsonaro se encontrou com ministros no Palácio do Planalto para uma reunião que não constava nas agendas oficiais no início do dia. O ministro Paulo Guedes, que ainda está em período de férias, foi um dos 17 ministros que participaram da reunião.
O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato a presidente da Câmara, começou nesta semana uma série de viagens a estados do Norte. Entre os deputados que o acompanham estão Elmar Nascimento (DEM-BA) e Celso Sabino (PSDB-PA), de partidos que estão no bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), o principal concorrente de Lira
Por Lauriberto Pompeu
Aliados do líder do PP acreditam que ele tem metade do apoio nos dois partidos do bloco de Baleia. O PSDB tem uma bancada de 31 deputados e o DEM de 28. O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), descartou punições partidárias a Elmar. "O Aguinaldo do PP apoia o Baleia... São posições pessoais", disse ao Congresso em Foco.
A comitiva de deputados que apoia Lira foi nesta terça-feira (5) a Macapá (AP), onde se reuniram com o governador Waldez Goes (PDT) e a bancada do estado na Câmara. O grupo seguiu para Belém (PA), onde vai se reunir com o governador Helder Barbalho (MDB) e os deputados paraenses. Os dois governadores são de partidos que apoiam Baleia Rossi - MDB e PDT.
Elmar foi protagonista de um atrito entre os grupos de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Lira no final de 2020. Maia queria emplacar Elmar na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e Lira queria a deputada Flávia Arruda (PL-DF). No final, nenhum dos dois conseguiu o cargo e a CMO não foi instalada.
O deputado do DEM da Bahia também queria ser o candidato de Maia a presidente da Câmara. Após Baleia ter sido escolhido, o ex-líder do DEM resolveu apoiar Lira.
Sabino também protagonizou um embate entre Maia e Lira. O deputado do PSDB foi indicado por 13 partidos para ser líder da maioria na Casa e remover Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) da função, que é aliado de Maia. A escolha de Sabino não foi oficializada porque dois partidos desistiram das assinaturas.
O grupo de partidos que apoia Baleia soma 268 deputados (MDB, PSDB, DEM, PT, PSL, PDT, PDB, PCdoB, Rede, PV e Cidadania) e ultrapassa em 11 o número mínimo de deputados para eleger em primeiro turno o presidente da Câmara.
Já o bloco de Arthur Lira pode chegar a 205 votos. PP, Solidariedade, PL, PSD, Patriota, PSC e Avante declararam apoio a Lira. Também está sendo negociado o apoio do PTB e Pros. No entanto, o voto é secreto e o cenário pode se inverter caso haja traições ao grupo de Baleia.
Participam da comitiva de Lira na viagem aos estados do Norte os seguintes deputados:
1. Arthur Lira - PP-AL
2. Marcelo Ramos - PL-AM
3. Margarete Coelho - PP-PI
4. Luiz Tibe - Avante-MG
5. André Fufuca - PP-MA
6. Elmar Nascimento - DEM-BA
7. Celso Sabino - PSDB-PA
8. Hugo Leal - PSD-RJ
9. Luisinho - PP-RJ
10. Cajado - PP-BA
11. Hiran Goncalves - PP-RR
A bancada do PT, a maior da Câmara, decidiu na tarde desta 2ª feira (4.jan.2021) apoiar o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição para presidência da Casa. O pleito será realizado em 1º de fevereiro
Por Caio Spechoto
A decisão, porém, passou longe de ser unanimidade. Dos 52 deputados do partido, 27 foram favoráveis a Baleia. Outros 23 queriam lançar uma candidatura própria da sigla.
Alguns deputados petistas queriam adiar o encaminhamento e decidir sobre apoiar Baleia ou lançar uma candidatura em uma data mais próxima da eleição. Essa tese, porém, não prosperou.
Trata-se de mau resultado tanto para Baleia quanto para Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Casa e principal articulador da candidatura do emedebista. A estratégia do grupo só funcionará se tiver apoio sólido dos deputados de esquerda.
Como a votação é secreta, partidos não têm como garantir que seus deputados votem conforme sua orientação. É impossível identificar uma traição e punir o político por isso.
Baleia Rossi usou sua conta no Twitter para comemorar a decisão dos deputados petistas:
O PT já faz parte do bloco no qual está Baleia, mas cogitava lançar candidato próprio –não há regra que impeça haver mais de uma candidatura no mesmo bloco. A principal função desses grupos é fazer número para conseguir cargos importantes na Casa, que são divididos proporcionalmente à quantidade de deputados eleitos do bloco.
Baleia foi anunciado como candidato de Rodrigo Maia em 23 de dezembro. Até aquele momento, também era cogitado o nome de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para disputar o cargo.
O atual presidente da Câmara está à frente da Casa desde 2016. Foi proibido de se candidatar novamente pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Maia nega que tivesse a intenção de concorrer outra vez.
Setores do PT resistiram a Baleia Rossi por sua proximidade com Michel Temer (MDB). Petistas julgam que Temer deu um golpe de Estado para derrubar Dilma Rousseff (PT) e assumir a Presidência da República em 2016. O deputado, além de líder do MDB, é presidente nacional do partido.
Por outro lado, o PT era pressionado porque a outra candidatura posta é a de Arthur Lira (PP-AL). O deputado se aproximou de Jair Bolsonaro ao longo de 2020 e é o favorito do Palácio do Planalto.
Arthur Lira está em campanha há meses e é oficialmente candidato desde a 1ª quinzena de dezembro. Já fez viagens para conversar com alguns governadores e, nesta semana, fará uma blitz sobre os deputados da região Norte.
No entorno de Lira estima-se que, hoje, ele tenha de 270 a 280 votos, o que seria suficiente para se eleger no 1º turno. Os partidos de seu bloco não contam com tantos deputados assim, mas o grupo do candidato aposta que haverá traições no grupo de Rodrigo Maia.
A decisão do PT era aguardada desde dezembro pelas demais siglas de oposição. PSB, PDT e PC do B já embarcaram na candidatura de Baleia. Há focos de infidelidade partidária, porém. No PSB, por exemplo, cerca de 18 deputados demonstraram simpatia a Arthur Lira em reunião.
Depois da decisão, PT, PSB, PDT, PC do B e mais a Rede divulgaram carta na qual afirmam que Baleia Rossi assumiu compromissos como“apreciar projetos de decreto legislativo que visem a impedir que o Poder Executivo exorbite ou desvie de seu poder regulamentar para driblar, esvaziar ou burlar leis” e “instalar Comissões Parlamentares de Inquérito”.
Ainda citam a discussão de um programa de renda emergencial ou ampliação do Bolsa Família. Leia a íntegra (53 Kb) do documento divulgado pela oposição. O Psol, que também se opõe ao governo de Jair Bolsonaro, não assina a carta. A sigla ainda discute lançar candidato próprio.
PCdoB, PSB, PDT e Rede aguardavam definição do PT, maior bancada da Câmara, para anunciar o apoio conjunto ao candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Por Sarah Teófilo
PT, PCdoB, PSB, PDT e Rede oficializaram, nesta segunda-feira (4/1), apoio ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP) para a presidência da Câmara, contra o líder do Centrão e preferido do presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), como publicado anteriormente pelo Correio. Maior partido da Casa, com 52 parlamentares, o PT se reuniu um pouco antes do anúncio e decidiu pelo apoio a Rossi, numa votação que terminou em 27 a 23. O PSOL ficou de fora e deve tomar decisão no próximo dia 15.
O apoio do PT era de extrema importância a Baleia Rossi, que aguardava a definição para lançar sua candidatura, o que deve ocorrer na próxima quarta-feira (6), ao lado das legendas do bloco que foi capitaneado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Agora, o grupo, que prega a independência da Casa em relação ao Executivo, conta com 11 partidos, que somam 261 deputados.
Lira, por sua vez, já tem o apoio do PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, PROS, Patriota, PSC e Avante, somando 195 deputados. O PTB também deve apoiar Lira, quando há algumas semanas o presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, prometeu ao parlamentar o apoio, o que soma mais 11 deputados.
Em uma carta, após confirmarem o apoio, as legendas de esquerda frisaram que o apoio é em torno de uma Câmara independente. No documento, assinado pelos líderes dos cinco partidos além dos líderes da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Congresso, Carlos Zarattini (PT-SP), eles pontuam que o governo federal é “irresponsável diante da pandemia” e que o país é “chefiado por um presidente da República que ao longo de sua trajetória sempre se colocou contra a democracia”.
“Nós, dos partidos de oposição, temos a responsabilidade de combater, dentro e fora do Parlamento, as políticas antidemocráticas, neoliberais, de desmonte do Estado e da economia brasileira”,ressaltaram.
E foi essa responsabilidade, segundo eles, que os uniu aos demais partidos do bloco de Maia, além da intenção de derrotar o presidente “e sua pretensão de controlar o Congresso”. Os partidos informaram, então, que a intenção é construir uma série de compromissos com o objetivo de “defender a Constituição”, “proteger a democracia” e as instituições, “assegurar a soberania nacional", “garantir a independência do Poder Legislativo” e “lutar pelos direitos do povo brasileiro”.
Os partidos pedem que questões como convocação de ministros para prestar contas na Casa e instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) não sejam engavetadas, além de frisar o respeito ao processo legislativo constitucional e regimental, assegurar que a oposição poderá “exercer seu dever de contrapor-se ao governo tal qual garantem a Constituição e o regimento” e garantir que haja proporcionalidade na indicação de relatorias das matérias que tramitam.
PT
Apesar de o bloco de Maia já ter sido formado lá atrás, os partidos ainda precisavam confirmar o apoio a Baleia Rossi, nome escolhido pelo atual presidente após intensas articulações. Havia uma particular resistência dentro do PT, com alguns integrantes favoráveis a uma candidatura própria, e as conversas foram individuais, com cada deputado.
A informação é de no momento da reunião da bancada, às 15h, já se sabia que a maioria já estava formada e, por isso, a reunião envolvendo outras legendas da esquerda já havia sido marcada para duas horas depois com previsão da presença do PT. A intenção era oficializar o apoio de forma conjunta, o que foi feito.
A deputada Maria do Rosário (RS) era uma das integrantes do PT que não queria que houvesse de antemão este apoio a Baleia. Antes da reunião, ela disse ao Correio que havia uma convicção geral de que é correto estar no bloco de Maia, contra o presidente Bolsonaro, mas que acreditava que o melhor caminho seria ter uma candidatura do PT e, ao final de janeiro, unificar em torno de um nome.
Há resistência em outras legendas também, como o PSB, e há um intenso trabalho dos líderes de convencimento dos parlamentares, visto que a votação é secreta - ou seja, nada impede que um deputado não vote no candidato orientado por sua legenda. E é com isso que conta o deputado Arthur Lira para conseguir a sua vitória.
Líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ) disse acreditar que isso não deve ocorrer no âmbito da legenda. "Acho que o diálogo que temos tido é muito positivo. A receptividade tem sido muito boa, os colegas têm entendido que é importante o partido caminhar unido na defesa da independência da câmara e da democracia brasileira. Seria grave que deputados do PSB descumprissem e colaborassem para entregar o comando da Câmara ao candidato do Bolsonaro", afirmou.