Na tarde de 29 de setembro, Palmas foi cenário do lançamento da pedra fundamental do Centro Esportivo Comunitário Arena Brasil, no Setor Irmã Dulce, solenidade que reuniu o ministro dos Esportes, André Fufuca, o deputado federal Vicentinho Júnior, o senador Irajá Silvestre, secretários, vereadores, a comunidade local e cerca de dez prefeitos de municípios tocantinenses. No mesmo pacote, foi anunciado outro centro esportivo, que será construído em Luzimangues. Cada obra foi orçada em R$ 1,5 milhão, parte de um conjunto de investimentos federais para estruturar espaços de lazer e esporte no estado.
Por Edson Rodrigues
Tecnicamente, trata-se de uma boa notícia afinal os projetos como quadra poliesportiva coberta, campo society, pista de caminhada, academia ao ar livre, playground e áreas de convivência têm potencial para ampliar o acesso ao lazer, fortalecer o esporte de base e oferecer alternativas saudáveis para crianças e jovens das regiões beneficiadas. Esses equipamentos, quando acompanhados por políticas de base e fiscalização adequada, podem deixar um legado real para as comunidades.
Mas a leitura política do evento merece atenção. É inegável a capacidade de articulação de Vicentinho Júnior ao reunir prefeitos e canalizar recursos federais para o Tocantins. Entre os gestores presentes estavam: Robson (Ananás), Auri (Axixá), Thiago (Lagoa da Confusão), Phábio (Paranã), Joaquim Pinheiro (Pedro Afonso), Paulo Roberto (Taguatinga), além de Roni Teodoro, vice-prefeito de Augustinópolis, acompanhado do secretário de Esportes, Paulo Roberto. Tocantinópolis foi representada pelo GMC, Fábio José. Também contempladas, as cidades de Xambioá e São Miguel, mesmo sem representantes no ato, foram incluídas na lista de municípios beneficiados.
Mas para além do mérito das obras, a movimentação política deixou claro o protagonismo buscado pelo parlamentar e foi justamente neste movimento que se abriu um episódio embaraçoso.
Relatos de bastidores e observações do Observatório Político de O Paralelo 13 dão conta de que prefeitos convidados foram chamados ao palanque de forma a sugerir adesão política quando, na realidade, muitos deles estavam no local para cumprir agenda institucional e receber repasses ou convênios do Ministério dos Esportes. A maioria dos gestores presentes mantém compromissos políticos prévios com outras candidaturas e legendas, o que aumentou o desconforto diante da exposição. (Tratam-se, aqui, de relatos de bastidores e da análise política local.)
Para agravar o constrangimento, tanto o ministro quanto o deputado federal, após discursarem, se retiraram do palanque sem aguardar a fala do anfitrião, o prefeito Eduardo Siqueira Campos. A imagem de autoridades que deixam o evento antes do discurso do prefeito anfitrião foi interpretada por muitos como falta de elegância e desrespeito institucional. No palanque permaneceram o senador Irajá e sete prefeitos, alguns visivelmente desconfortáveis com a condução do ato.
É verdade que pode não ter sido a intenção do ministro e do deputado Vicentinho Júnior provocar esse mal-estar, mas o fato é que deixaram o prefeito Eduardo Siqueira visivelmente constrangido sobretudo por se tratar do anfitrião da solenidade, em meio à presença de 13 vereadores e de importantes lideranças classistas e comunitárias da capital. O episódio, portanto, ganhou contornos de desrespeito público e institucional.
Diante do episódio, o prefeito Eduardo Siqueira optou por dar sequência ao seu pronunciamento dirigindo-se ao senador Irajá Silvestre, figura já lembrada no meio político por sua interlocução financeira com municípios do estado, mas o clima, que deveria ser de celebração pela chegada de equipamentos, tornou-se morno e contido. Em vez da festa institucional que a obra demanda, prevaleceu a sensação de que o ato foi instrumentalizado para posturas de palco.
O que o episódio deixa de lição é simples e grave, pois a política pública se fortalece com recursos e projetos, mas também com decoro. Usar cerimônias oficiais como palanque pode até produzir manchetes momentâneas, mas corrói a confiança entre gestores e fragiliza o próprio propósito das obras. Prefeitos representam populações e não podem ser empurrados para papeis que conflitem com responsabilidades e compromissos locais. Respeito ao anfitrião, observância do protocolo e cuidado para não misturar entrega de bens públicos com exibição de protagonismo eleitoral são requisitos mínimos de civilidade democrática e dever de quem ocupa cargo público.
O Tocantins precisa das obras anunciadas, a política, por sua vez, precisa reencontrar limites. O Observatório Político de O Paralelo 13 acompanhará os desdobramentos e seguirá cobrando transparência na execução das obras e respeito nas formas de anunciá-las.