Apesar dos resultados divulgados pelo FMI, analistas entendem que o cenário ainda é frágil no país comandado por Javier Milei
Com R7
Em um momento de virada econômica e redução significativa da inflação mensal, a Argentina deve registrar um crescimento ainda maior no próximo ano. Segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve crescer o dobro do Brasil em 2025 e 2026.
Para este ano, o índice deve ser de 5.5% e, em 2026, de 4.5%. Em contrapartida, o Brasil tem uma expectativa de crescimento de 2.3% e 2.1%, respectivamente. Para especialistas ouvidos pelo R7, apesar do alívio momentâneo, o cenário ainda é frágil na Argentina.
Em 2023, por exemplo, a inflação anual chegou a 211,4%, caindo para 117,8% em 2024, de acordo com dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Mesmo com os resultados, o economista Hugo Garbe aponta que o índice continua alto e houve um aumento da pobreza.
“O sucesso do experimento liberal dependerá da capacidade de Milei de manter apoio político e coesão social, ao mesmo tempo em que avança com medidas impopulares. É uma aposta de alto risco: se der certo, pode transformar a Argentina; se falhar, pode aprofundar o caos”, avalia.
Apesar da baixa perspectiva de crescimento, diferentemente da Argentina, o Brasil não vive hiperinflação ou colapso institucional, mas, na opinião de especialistas, tampouco lida da melhor forma com obstáculos que impedem seu crescimento.
Para Garbe, o país parece ser “prisioneiro” de um modelo de crescimento baseado no consumo e na expansão do crédito público, porém, sem as contrapartidas em eficiência e produtividade.
“A baixa produtividade, a rigidez fiscal, a burocracia sufocante e a insegurança jurídica compõem o que se convencionou chamar de “Custo Brasil”, um obstáculo persistente ao investimento e à inovação", explica.
Segundo o especialista em administração Marcello Marin, o Brasil tem uma economia maior e mais complexa — o que torna seu crescimento mais lento. Entretanto, é necessário que o país acelere reformas estruturais em áreas de tributação, administração e trabalhista.
“O Brasil cresce de forma modesta porque há muitos entraves internos. Enquanto não resolvermos esses gargalos, vamos continuar dependendo de choques externos - como commodities ou juros globais - para crescer acima da média. O governo tem de cortar gastos urgentes e trabalhar em uma melhoria para que possamos ter esse crescimento”, ressalta Marin.
Ajuste fiscal
Ao assumir o mandato, em 2023, o presidente argentino, Javier Milei, prometeu mudanças drásticas na estrutura econômica do país a fim de controlar a inflação. Com o novo governo, o país iniciou um programa de ajuste fiscal radical e de reformas liberais ambiciosas.
Além disso, sob alvo de críticas, Milei fez um amplo corte nos gastos públicos, demitiu centenas de servidores públicos e promoveu ampla desregulamentação dos planos de saúde.
“O sucesso do programa argentino, até o momento, contrasta com experiências anteriores do país. A redução da inflação mensal de 26% para níveis mensais no intervalo de 2% a 3% em menos de um ano representa uma das mais rápidas desinflações da história econômica recente, particularmente notável por ter sido alcançada sem o recurso de mecanismos de congelamento“, aponta um relatório da FGV.
Para Hugo Garbe, a preocupação é “se esse avanço representa uma verdadeira virada de ciclo ou apenas um respiro técnico após uma recessão devastadora”.
Tecnicamente, a Argentina saiu da recessão. O PIB voltou a crescer em termos trimestrais, mas, na opinião de especialistas, isso não significa estabilidade ou prosperidade.
O empresário Marcos Freitas possui empreendimentos na Argentina e observa que o cenário no âmbito dos negócios ainda é frágil, volátil e imprevisível. Para ele, no Brasil, o crescimento menor da economia não deve ser encarado como fracasso, mas como alerta.
“A diferença entre os dois países não está na velocidade momentânea do crescimento. Está na mentalidade. Enquanto a Argentina tenta se reerguer com decisões de choque, o Brasil segue prisioneiro da hesitação. Não há clareza estratégica nem coordenação entre o setor público e o setor produtivo. Falta coragem para simplificar, desburocratizar e liberar o empreendedor para fazer o que sabe: produzir, empregar e inovar“, avalia.