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A CONTAGEM REGRESSIVA QUE TIRA O SONO DA CLASSE POLÍTICA DO TOCANTINS

Posted On Terça, 02 Dezembro 2025 07:07
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Por Edson Rodrigues

 

 

O calendário político do Tocantins entrou oficialmente em contagem regressiva. Não é apenas o fim de 2025 que se aproxima, mas o esgotamento de um ciclo de incertezas que precisa obrigatoriamente dar respostas antes que o eleitor chegue às urnas em 6 de outubro de 2026. Até lá, o relógio da política e o relógio da Justiça vão bater juntos, e é nesse compasso que se definem destinos de mandatos, projetos de poder e sobrevivência eleitoral.

 

RECESSO DA JUSTIÇA, SOBRESSALTO NA POLÍTICA

 

O Poder Judiciário entra em recesso a partir de 20 de dezembro, retornando às atividades apenas em 6 de fevereiro de 2026. Até lá, a classe política tocantinense vive em sobressalto. Deputados, prefeitos, ex-gestores e, sobretudo, o governador afastado Wanderlei Barbosa e seus familiares acompanham com atenção cada movimento do STJ e do STF diante das investigações em curso.

 

Não estão descartadas novas operações em desdobramento daquelas que já cumpriram mandados de busca em residências, gabinetes na Assembleia Legislativa, apartamentos em Brasília e apreenderam dinheiro em espécie, joias, computadores e celulares. O conteúdo desses aparelhos, especialmente os ligados ao governador afastado, seus filhos e esposa, ainda pode produzir fatos novos, sobretudo se ficar configurada obstrução de Justiça, tese já levantada em trechos dos autos da Polícia Federal.

 

O CASO CINTHIA E O SILÊNCIO QUE INCOMODA

No tabuleiro das investigações, outro ponto sensível segue à espera de desfecho: a gestão da ex-prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro. Em operação da Polícia Federal, foram encontrados milhões de reais em espécie e joias de ouro em um apartamento vinculado a um ex-secretário de sua administração. A cada mês que passa sem uma conclusão clara, cresce a cobrança da população palmense e tocantinense por respostas objetivas, em que pé estão esses processos, quem será responsabilizado, haverá denúncia, absolvição ou tudo acabará acomodado no silêncio conveniente da morosidade?

 

ENTRE LINCHAMENTO POLÍTICO E IMPUNIDADE

A sociedade já não se contenta com a novela interminável dos “investigados permanentes”. As apurações envolvendo o governador afastado, ex-gestores municipais e lideranças de peso precisam ser concluídas com rigor, mas também com transparência.

 

A Justiça é chamada a cumprir três tarefas básicas: encerrar investigações que se arrastam há anos, oferecer denúncia quando houver provas robustas e arquivar o que não se sustentar nos autos. O que não se pode naturalizar é o limbo político em que autoridades são mantidas sob suspeita indefinida, expostas publicamente como quase culpadas ou blindadas na prática por decisões inconclusas. Nem linchamento político prévio, nem impunidade silenciosa, o Tocantins precisa de verdades documentadas, não de rumores de bastidor.

 

O PRAZO DO AFASTAMENTO DE WANDERLEI

 

A contagem regressiva também corre para o prazo de afastamento de Wanderlei Barbosa. O período de 180 dias se aproxima do meio do caminho, e até março a Justiça terá de decidir se devolve o mandato ou renova o afastamento por mais 180 dias. Uma prorrogação desse porte não será trivial e exigirá fundamentação robusta, novos elementos e disposição para enfrentar o confronto jurídico e político que inevitavelmente virá. Nesse cenário, o governo interino de Laurez Moreira tenta equilibrar duas tarefas: administrar o Estado sob o peso de uma interinidade vigiada e construir o próprio projeto de reeleição em 2026.

 

AMÉLIO CAYRES, FIADOR DO EQUILÍBRIO

Nesse ambiente carregado, uma figura emergiu como ponto de equilíbrio entre as instituições. o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Amélio Cayres. Ele conseguiu manter a lealdade pessoal e política ao governador afastado, com quem tem relação de amizade e confiança, e, ao mesmo tempo, garantir governabilidade ao interino Laurez. Sob seu comando, passaram empréstimos, Refis e projetos de interesse do Executivo, sem ruptura com o governo afastado nem confronto aberto com o atual. Em tempos de radicalização e alianças descartáveis, a postura de Amélio, dialogando com o Executivo, segurando o tom entre os pares e preservando a compostura institucional da Assembleia, tornou-se uma raridade na política tocantinense, e o colocou como fiador de um frágil equilíbrio entre os poderes.

 

TABULEIRO 2026: GOVERNO E SENADO EM DISPUTA

Enquanto Justiça e governo se ajustam, o tabuleiro eleitoral de 2026 vai tomando forma. Na disputa pelo Palácio Araguaia, a senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil) se movimenta como nome consolidado, o governador interino Laurez Moreira (PSD) trabalha pela reeleição e o empresário Ataídes de Oliveira sinaliza retorno ao jogo. No Senado, a fila é ainda mais apertada uma vez que Eduardo Gomes (PL) e Irajá Abreu (PSD) buscam a reeleição; Vicentinho Júnior articula sua candidatura à espera da janela partidária; Carlos Gaguim, Alexandre Guimarães e o empresário Vanderlei Luxemburgo também se colocam como alternativas, disputando espaço em chapas majoritárias.

 

A CARTA DO BICO DO PAPAGAIO AO PT

É nesse contexto que entra o movimento mais recente vindo da esquerda tocantinense. A União de Diretórios e Comissões Provisórias do Bico do Papagaio (UDCPBP) divulgou texto em que faz um diagnóstico duro da situação interna do Partido dos Trabalhadores no Estado e aponta um caminho estratégico para 2026. O documento lembra que, historicamente, as vitórias presidenciais do PT, desde 2002, só foram possíveis porque o partido soube operar grandes coalizões, superar crises internas e construir uma práxis política em que o projeto coletivo se sobrepõe aos egos individuais. A mensagem é de que se o PT do Tocantins não unificar sua executiva com as bases, não alinhar discurso e prática e não superar disputas intestinas, estará fadado ao fracasso eleitoral, mesmo sob a sombra positiva de um eventual palanque de Lula.

 

PAULO MOURÃO COMO ESTRATÉGIA, NÃO SÓ PREFERÊNCIA

 

Dentro dessa leitura, os signatários da UDCPBP defendem com veemência a pré-candidatura de Paulo Mourão ao Senado Federal. O texto resgata a trajetória do ex-prefeito, ex-deputado estadual e ex-deputado federal, sua atuação na implementação de programas sociais federais no Tocantins e sua capacidade de articulação em torno de pautas de combate à desigualdade social. Para o grupo, Paulo Mourão representa um nome com densidade política, histórico orgânico no partido e discurso afinado com o projeto nacional do PT. Mais do que uma preferência individual, a defesa de seu nome é apresentada como uma escolha estratégica para dar coerência ao palanque lulista no Estado.

 

O NÓ NO PALANQUE DE LAUREZ

 

A confirmação da candidatura de Mourão, contudo, abre um imbróglio direto no palanque de Laurez Moreira. Se o diretório nacional e a articulação conduzida pela ex-senadora Kátia Abreu, hoje a principal responsável pela construção de um palanque de Lula no Tocantins, consolidarem o governador interino como referência local do presidente, o cenário tende a aproximar Laurez do PT. Nesse desenho, o eleitor pode se deparar com uma curiosa cena de campanha em 2026: Laurez pedindo voto fazendo o “L” de Lula e o “L” de Laurez na mesma propaganda, enquanto tenta encaixar Paulo Mourão como candidato oficial do PT ao Senado. A equação complica ainda mais quando se considera que Vicentinho Júnior já se apresenta em plena pré-campanha ao Senado ao lado de Laurez. É importante ressaltar a aliança de Vicentinho Júnior ao governador em exercício Laurez Moreira, da mesma forma que o pré-candidato ao governo precisa do apoio do presidente Lula. Há, portanto, um nó político a ser desatado: como conciliar na mesma base dois candidatos competitivos ao Senado, Paulo Mourão e Vicentinho, ambos de Porto Nacional, primos e que, historicamente, nunca estiveram no mesmo palanque?

 

LULA, KÁTIA E A ENGENHARIA DAS ALIANÇAS

 

Essa disputa interna no campo que se aproxima de Lula no Tocantins vai exigir habilidade milimétrica. Kátia Abreu, que articula a construção desse palanque, terá de operar num terreno em que as lealdades locais, as rivalidades familiares e os projetos pessoais de poder convergem e colidem ao mesmo tempo. A definição sobre quem será o rosto do lulismo ao Senado no Estado vai dizer muito sobre a capacidade do PT e de seus aliados em reproduzir no Tocantins a fórmula nacional de amplas coalizões ou, ao contrário, repetir o roteiro de fragmentação que o documento da UDCPBP já aponta como risco real.

 

UM 2026 DE SURPRESAS ANUNCIADAS

 

Enquanto isso, o relógio segue implacável. O governador afastado espera o desfecho do seu caso, Laurez administra um governo de transição permanente, Amélio Cayres segura as pontas entre os poderes, Dorinha, Eduardo, Irajá e outros pré-candidatos ensaiam passos calculados, e o PT tenta decidir se será protagonista, coadjuvante de luxo ou espectador privilegiado da disputa. O Tocantins entra em 2026 com uma certeza de que quando política e Justiça andam em contagem regressiva no mesmo calendário, não faltam surpresas. E, desta vez, o eleitor parece menos disposto a aceitar versões sem desfecho e alianças sem coerência.

 

 

 

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